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JACOUES BERGIER
Corautor de O Despertar dos Mdgicos
OS LIVROS MALDITOS
Tradu$ao de
RACHEL DE ANDRADE
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LIVRARIA EDITORA LTDA.
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5 . A
OS HOMENS DE NEGRO
Parece fantastico imaginar que existe uma Santa
Alianca contra ct -sabex. uma org aniz acao para fazer
4e saparecer certos segredos. Entretanto, tal hipotese nao
e mais fantastica do que a da grande conspiragao na-
zista. fi que, somente agora, nos apercebemos ate que
ponto era perfeita a Ordem Negra, ate que ponto seus
filiados eram numerosos em todos os paises do mundo,
e ate que ponto essa conspiragao estava proxima do
exito.
£ por isso que nao podemos rejeitar, a priori, a
hipotese de urria conspiracao mais antiga.
O tema do livro maldito, que tern sido sistemati-
eamente destruido ao longo da historia, serviu de inspi-
ragao a muitos romancistas, H. P. Lovecraft, Sax Roh-
mer, Edgar Wallace. Entretanto, esse tema nao e so-
mente literario. Essa destruic ao sistematica existe em
t al amplidao, que se pode perguntar se nao e uma cons -
piiacj|o_ j3eriiianente que visa im pedi r o saber humano
de desenvolver-se mais dep ressa. Coleridge estava per-
suadido que uma tal conspiragao existia e chamava seus
membros de "persons from Por lock". Esse nome lhe
recordava a visita de um personagem vindo da cidade
de Porlock e que o impedia de realizar um trabalho
muito importante que iniciara.
f
f Encontran vse tracos dessa con spira cao, tanto na
historia da C hina_o u da India, quan to_na_do Ocidgntg,.
Dessa forma, pareceu-nos necessario reunir toda infor-
macao possivel sobre certos livros malditos e sobre seus
adversaries .
Alguns exemplos precisos de livros malditos antes
de tudo. Em 1885, o escritor Saint-Yves d'Alveydre
recebeu uma ordem, sob pena de morte, de destruir
sua ultima obra: "Missao da India na Europa e Missao
da Europa na Asia. A questao dos Mahatmas e sua
solucao".
Saint- Yves d'Alveydre obedeceu a essa ordem. En-
tretanto, urn exemplar escapou da destruigao e, a partir
desse exemplar unico, o editor Dorbon voltou a impri-
mir a obra, com tiragem limitada, em 1909. Ora, em
1940, desde sua entrada em Franca e em Paris, os ale-
maes destruiram todos os exemplares dessa edicao que
puderam encontrar. £ duvidoso que reste algurn.
Em 1897, os herdeiros do escritor Stanislas de
Guaita receberam ordem, sob pena de morte, de des-
truir quatro manuscritos ineditos do autor que versavam
sobre magia negra, assim como todo seu arquivo. A
ordem foi executada e nao mais existem tais manus-*
critos.
Em 1933, os- nazistas queimaram na Alemanha
uma infinidade de exemplares do livro sobre os Rosa-
Cruzes "Die Rosenkreuzer, Zur Geschichte einer Re-
formation".
Uma edicao desse livro reapareceu em 1970, mas
nada prova que realmente seja conforme o original.
Poderia multiplicar tais exemplos, mas podemos
encontrar um numero suficiente no curso deste livro.
Quern sao os adversarios desses livros malditos?
Suponhamos a existencia de um grupo ao qual chamarei
8
f
1
"Homens de negro". A ideia dessa denominacao surgiu-
-me quando comecei a notar, em todas as conferencias
pro-Planeta e anti-Planeta, um grupo de homens vestidos
de negro, de aspecto sinistra, sempre o mesmo. Penso
que esses homens vestidos de negro sao tao antigos como
a civilizacao; creio que se pode citar entre seus mem-
bros o escritor frances Joseph de Maistre e Nicolau II
da Russia.
A meu ver, seu BaaeLfiirnp edir uma d ifusao _mais
rapida e mais com preensivel do sa ber, difusao que con-
duziu_ Ji destruigao civilizacoes .p assadas^ Ao mesmo
tempo que os tracos dessas civilizacoes nos chegam,
com eles nos vem, penso eu, uma tradicao cujo prin-
cipio consiste na pretensao de que o saber pode ser
terrivelmente perigoso. Os tecnicos na eonservacao da
magia e da alquimia juntam-se, ao que parece, a esse
ponto de vista.
Pode-se constatar, tambem, que a ciencia moderna
admite, hoje, que se torna por vezes muito perigosa.
Michel Magat, professor no Colegio de Franca, declarou
recentemente numa obra coletiva sobre os armamentos
modernos (Flammarion): " Talvez seja necessario admi-
tjr_q ue toda ciencia e maldita".
O grande matematico frances A. Grothendieck
escreveu no primeiro numero do boletim Survivre, a
proposito dos possiveis efeitos da ciencia: "A fortiori,
se evocarmos a possibilidade de desaparicao da huma-
nidade nos proximos decenios (tres bilhoes de homens,
tres bilhoes de anos de evolu§ao biologica. . .), isto e
muito gigantesco para ser concebivel, e uma abstracao
absolutamente nula como conteudo emotivo, impossivel
de se levar a serio. Luta-se por aumento de salario, pela
liberdade de expressao, contra a selegao para a univer-
sidade, contra a burguesia, o aleoolismo, a pena de
•
morte, o cancer, o racismo — a rigor, contra a guerra
do Vietnam bu contra qualquer guerra. Mas a aniqui-
lagao da vida sobre a Terra? Isto ultrapassa nosso en-
tendimento, e um "irrealizavel". Sente-se quase ver-
gonha de falar disso, sente-se suspeito de procurar efei-
tos faceis como recurso a urn tema que, no entanto, e o
mais antiefeito que podemos encontrar".
E ainda :
"Hoje que enfrentamos o perigo da extincao de:
toda a vida sobre a Terra, esse mesmo mecanismo irra-
tional se opoe a realizagao desse perigo e as reagoes
de defesa necess arias entre a maior parte de nos, ai
compreendidas as elites intelectuais e cientificas de todos
os paises. Pode-se, tao-somente, esperar que ele seja
superado por alguns, atraves de um esforco extenuante
e da tomada de consciencia de tais mecanismos inibi-
dores".
Depois deste texto ter sido escrito, recentemente,
comecei a perceber nos congressos e ssa ideia de que as
descobertas muito peri^osas devia m ser _ censuradas_o u
su pjimidas. Ao cabo de um ano, na reuniao da "Asso-
ciacao inglesa para o avanco das ciencias", foi citada
como exemplo de uma descoberta a ser censurada, a
po ssibilidade de as diversas variedades da especie hu-
mana nao serem igualmlmteinteligentes. Os sabios
afirmavam que uma t al descoberta encorajaria o racismo
em tais proporgoes, que seria preciso impedir a publi-
cagao disso por todos os meios. P odemos ve.f Tp yitos
sabios ern jnentes de nossos dias juntarem-se aos "Ho-
mens de Negro".
Percebeu-se, com efeito, que tais descobertas con-
sideradas muito perigosas para serem reveladas, existem
tanto nas ciencias exatas, como nas ciencias ditas falsas,
isto e aquelas a que chamo de paraciencias.
10
ff
Mas, ha muito tempo que a destruicao sistematica
de livros e documentos contendo descobertas perigosas
tern sido praticada, antes ou no momento mesmo da
publicagao. E tern sido assim ao longo da historia. E~e
isto que tentaremos demonstrar.
11
t
O LIVRO DE TOTH
Sir Mortimer Wheeler, celebre arqueologista ingles,
teria escrito: "A arqueologia nao e uma ciencia mas
uma vindicta".
Em nenhuma parte, tal afirmagao foi tao verda-
deira como no dominio da arqueologia egipcia onde se
afrontam, ferozmente, os ar queologistas romfl ntir.ns p.
os arqueologistas classicos. Para os arqueologistas clas-
sicos, a arqueologia egipcia nao apresenta nenhum pro-
blema e pode perceber-se nela uma passagem continua
do neolitico a uma forma de civilizagao mais avancada,
passagem que se efetuou da maneira mais natural. Para
os arqueologistas romanticos, ao contrario, e para os
investigadores independentes que nao participant do cla
da arqueologia oficial, a antiguidade do Egito e muito
mais importante, e os problemas sem resolugao muito
mais numerosos do que se possa imaginar. Entre esses
adversarios da arqueologia classica egipcia, cito dois
nomes: Rene Schwaller de Lubicz e C. Daly King. O
primeiro nasceu em 1891 e morreu em 1961, escreveu
Aor, Adam, O homem vermelho (edi^ao particular, fora
de comercio, 1925); A chamada do fogo (edi^ao par-
ticular, fora de comercio); Aor, sua vida, sua obra
(edicao da Colombe, Paris, 1963); O rei da teocracia
13
faraonica (Paris, Flammarion, 1961); O milagre egip-
cio (Paris, Flammarion, 1963); O templo do homem
Apet do Sul, em Lucsor (deposito de Dervy, Paris,
1957, 3 vol.); Estudo sobre esoterisnio e simbolismo
(Paris, Colomtie, 1960) e diversos artigos nos Cahiers
du Sud em Marselha,, notadamente no numero' 358,
Foi primeiro pintor, aluno de Matisse. Durante a
Grande Guerra foi quimico do exercito, e a quimica .
conduziu-o a alquimia. Formou, entao, um grupo bati-
zado com o nome de Fraternidade dos Vigias. Faziam
parte, notadamente, desse grupo, Henri de Regnier,
Paul Fort, Andre Spire, Henri Barbusse, Vincent d'Indy,
Antoine Bourdel, Fernand Leger e Georges PoltL
No interior desse grupo, um circulo esoterico fe-
chado, os Irmaos da Ordem Mistica da Ressurreicao,
estudava um certo numero de problemas, entre eles o das
civilizacoes desaparecidas. Schwaller de Lubicz, moran-
do em Saint-Moritz e depois em Palma de Maiorca, e
finalmente em Lucsor, estudou os segredos egipcios.
^'Um certo numero de egiptologos, como Alexandre
Yarille, reuniu-se a seu ponto de vista; outros, ao con-
trario, opuseram-se a ele, violentamente, e uma vindicta
surgiu, que dura ate hoje.
Quanto a C. Daly King,- 6 um sabio inserido na
linha mais oficial, psicologo materialista, autor de tres
tratados classicos utilizados nas escolas dos paises anglo-
-saxoes, Beyond Behaviourism (1927), Integrative Psy-
chology (em colaboragao com W. M. e H. E. H. Mars-
ton) (1931) e The psychology o£ consciousness (1932).
C. Daly King apresentou em 1946, em Yale, uma
tese de doutoramento em fisica sobre fenomenos eletro-
magneticos que aparecem durante o sono. Depois, estu-
dou os estados superiores da consciencia, estados que
stao sempre mais despertados que quando se esta acor-
o
V
.U
dado normalmente, apresentando esse trabalho em outro
livro classico The states of human consciousness (Uni-
versity Books, NY, 1963);
Morreu quando corrigia as provas desse livro e
quando preparava uma importante obra sobre as cien-
cias do espirito no antigo Egito. 1
O unico ponto em comum, talvez, entre Schwaller
de Lubicz e C. Daly King, 6 o nivel elevado de seus
conhecimentos cientificos. Ora, esses dois espiritos tao
diferentes se juntam em duas conclusoes essenciais. Pri-
meiro, a consideravel antiguidade da civilizacao egipcia,
mais ou menos 20.000 anos, talvez 40.000; por outro
lado, o estado avancado dos conhecimentos do Egito
antigo, tanto no que concerne ao universo exterior q uark
to ao espirito humano. Confrontemos esse ponto de vista
com o da arqueologia oficial. De acordo com esta, ha
6.000 anos os eglpcios eram ainda membros de tribos
selvagens. Um interprete serio e reconhecido pelos ar-
queologos oficiais, Leonard Cottrell, no livro The
Penguin book of lost worlds, pag. 18, escreveu: _1A1-
guma coisa aconteceu que, em tempo notj ^arjaerite__cur-
t o, transformou e sse _aglqm er ado de tribos semi-arabes
que_viviam as margens dnJNi1o : j2ijm_£sta dn rivilizado
q ue durou 3.000 anos. Quanto a natureza~daquiio que
teria ocorrido, nao podemos senao tentar adivinhar. Mas
as provas arqueologicas nos fornecem indicios varios e
podemos esperar que descobertas futuras preencham tais-
lacunas".
Os arqueologos romanticos e os arqueologos dissi-
dentes vao contra isso dizendo que ess a transformaclo
brutal nunca se deu. Segundo eles, a civilizagao egipcia
nada tem a ver com os primitivos que foram seus con-
(1) Dizem que foi o mesmo C. Daly King o autor de romances
policial traduzidos cm Franca antes da guerra, na colegao Empreinte.
15
temporarieos, como os da Nova Guine sao, hoje, nossos
contemporaneos. Segundo eles, as origens da civiliza-
gao egipcia estao em alguma outia parte e nao foram
ali ainda encontradas.
A maior parte dos arqueologos da Africa livre sao~
dessa opiniao, e alguns dentre eles pensam mesmo que
os antigos egipcios eram negros, e que e preciso buscar
na Africa as origens secretas do Egito.
£ a partir desta hipotese de uma civilizacao pre-
-egipcia muito antiga que e preciso colocar-se para exa-
minar o problema do Livro de Toth.
Toth e um personagem mitologico, mais deus que
homem que, por todos os documentos egipcios que
possuimos, precedeu o Egito. No instante do nascimento
da civiliza?ao egipcia, os sacerdotes e os faraos tinham
em seu poder o Livro de Toth constituido, provavel-
mente, de um rolo manuscrito ou de uma ^&ie-dajolrias
que _ conlinham os segredos de diversos mun dos ej^ne
davam poderes consideraveis aos seus detentores.
Em 2.50Q a.C, os egipcios ja escreviam e faziam
livros. Esses livros eram escritos em papiro. A palavra
biblia, que quer dizer livro, deriva do nome do porto
de Biblos, no Libano, que era o principal porto de ex-
portacao de rolos de papiro. Naj iteratura egipc ja^dg.
j.SQO^a.C ^ja se encontram tratados cientificos de.me-
djcina ^textos religiosos, manuai s— e mesmo obras de
fic£a p_cientifica!
Em particular, a historia das aventuras do farao
Snofru, pai de Queops, e um verdadeiro romance de
antecipacao de invencoes extraordinarias, de monstros
e maquinas. Poderia ser publicado em nossos dias.
O Livro de Toth devia, pois, ser um papiro muito
antigo, recopiado secretamente muitas vezes e cuja ant i-
guidade remontaria a 10.000 ou talvez 20.000 anos.
16
Mas um objetb material nao e de modo algum urn
simbolo.
Objeto material que se pode facilmente destruir
no fogo. Vamos ver que foi exatamente isso que se deu.
Fixemonos primeiro no proprio Toth. £ represent:
tado comn um ser hiimano-tendo a cahe ga dfi u rn pjssaifl
ihi.yTp.m nq, man uma pluma e uma palheta dessa tin ta
qu gjse u s a para es cre^er sobre pergaminho : _Seus_ dois
outros simbolos sao a Lua e q macaco. T ) R ac oxdo coin
a_jradic;.anjri ais antiga, ele inventou a_ gscr ita e serviu
de secretario a todas as reunides dog deuses. .
Esta associado a cidade de Herm6polis, da qual
se sabe pouca coisa, e aos dommios subterraneos dos
quais se sabe menos ainda. Daqui por diante Toth sera
identiflcado com Hermes.
Transmitiu a humanida cle a escrita, e escreveu um
livro fundamental, esse famoso Livro de Toth, livro
mais antigo entre os antigos, e que continha o segred o
do poder ilimitado.
Uma primeira alusao a esse livro apareceu no"
papiro de Tuns, decifrado e publicado em Paris, em
1868; Esse papiro descreve uma conspiracao magica
contra o farao, conspiracao que visava destrui-lo atra-
ves de feitigarias, a ele e-a seus principals conselheiros,
por meio de estatuas de cera feitas de acordo com a
imagem de cada um. A repressap foi atroz. Quarenta
oficiais e seis altas damas da Corte foram condenados
a morte e executados. Outros se suicidaram. O livro
maldito de Toth foi queimado pela primeira vez.
Esse livro apareceu mais tarde na historia do Egito,
entre as maos de Khanuas, filhp de Ramses II. Ele tinha
o exemplar original escrito pelo proprio Toth. e nao por
um escriba. De acordo corrT os documentos, e ste livro
p^Hoitia ver o Sol face a face. Dava o poder sobre a
f
17
r
Terra, o oceano, os corpos celestes. Dava o poder de
mterpretar os meios secretos u sado s peios^nimais^para
se comuni care m entre si. Permi tia ressusc itar os mortos
e_affir _A distancia. Tudo isto nos e relatado nos livros
egipcios da epoca.
Seguramente, um tal livro e urn perigo insupor-
tavql. Khanuas queimou o original ou pretendeu faze-lo.
O mesmo texto, dizendo que esse livro foi destruido no
fogo' mas e indestrutivel pois foi escrito com fogo, 6
contraditorio. Mas essa "desaparicao" nao e senao pro-
visoria, se aconteceu. O livro reapareceu em inscricoes
sobre o monolito de Metternich, monumento que tern
esse nome, pois foi oferta de Mohamad Ali Pacha a
Metternich. Foi descoberto em 1828 e data de 360 a.C.
Na escala da historia egipcia e um documento moderno.
Parece que ele protege contra mordidas de escorpiao,
virtude dificilmente verificavel, pois os escorpioes sao
raros na Austria. Esse monumento representa, em todo
caso, mais de trezentos deus-es, e entre eles os deuses
dos planetas ao red or de estrelas — nao invento nada,
a maior parte dos decifradores modefnos do monumento
de Metternich dizem que ele interessaria a autores de
ficgao cientifica.
Toth, ele mesmo, anunciou sobre esse monumento,
que queimou seu livro e que cacou o demonio SeJ_eL_os,
sete , senhores do m al.
Desta vez a questao parece regulada. No ano de
360 a.C. o Livro de Toth foi solenemente d-estruido.
Mas, entretanto, a historia somente comegou. A partir
de 300 a.C. viu-se o aparecimento de Toth identificado
desta vez com Hermes Trismegisto. o fundador da
alquimia. Todo magico que se respeite, em particular
na Alexandria, pretende possuir o Livro de Toth, mas
nunc a se viu aparecer o proprio livro: cad a vez que
18
urn magico gloria-sg de pos sui-lo, urn acidente interrom-
pe sua carreira.
Entre o comeco do seculo I a.C. e o fim do seculo
II d.C, numerosos livros a pareceram e constituiram
ju ntos o "Corpus Herrneticuml, A partir do seculo V,
tais textos sao colecionados e se encontram ai referenda^
ao Livro de Toth, mas nenhuma indicacao precisa para
encontra-lo. Os textos mais celebres dessa serie chamam-
-se: Asclepio, Kore Kosmou e Poimandres. Todos se
referem ao Livro de Toth, mas nenhurn o cita direta-
mente nem da meios de consulta-lo.
Q Asclepio fornece , entretanto, estranhas imagens.
d e poder das civilizacoes desaparecidas;
"Nossos ancestrais descobriram a afte de criar os
deuses. Fabricaram estatuas e como nao soubessem criar
as almas, chamaram os espiritos dos demonios e dos
anjos e os introduziram gragas ao misterio sagrado nas
imagens dos deuses, de maneira que essas estatuas rece-
beram o poder de exercer o bem e o mal".
Os deuses egipcios e o proprio Toth teriam sido,
assim, criados.
Cretins pnr_^upTn? isto nao 6 dito. Pela grande
civilizacao que precedeu o Egito.
Segundo o Asclepio, esses deuses estavam presen-
tes e ativos, ainda, no tempo de Cristo: "Eles vivem
n uma grande cidade nas mpntanhas da Libia, mas nao
aTrei mais nada".
Esse conjunto de escritos hermeticos pode ser en-
contrado, publicado por Nock e Festugiere, no ' ^Corpus
Hermeticum >, (serie Bude, Paris, 1945-54). Mesmo con-
si dgrados mais proprios da ficgao cientifica , tais textos
excitam a imaginacao. Santo Agostinho e numerosos
outros teologos e filosofos por eles se interessaram.
Certamente sao esses textos que propagaram o
19
Livro de Toth, Este reapareceu com tanta frequencia
do seculo V da era crista ate nossos dias, que podemos
perguntar como foi reproduzido antes da invencao da
imprensa e da fotografia. A inquisicao queimou-o pelo
menos umas trinta vezes_ e seria preciso urn livro para
enumerar os acidentes bizarros que acontecem aqueles
que pretendem possuir o Livro de Toth.
Seja como for, nunca o vimos impresso ou repro-
duzido de qualquer maneira. Uma lenda estranha come-
cou a circular desde o seculo XV. Segundo ela, a soeie-
dade secreta que po ssuia. o Livro de Toth vulgarizou
um resumo dele, umaesp ecje de_f ichario acessivel a
tod os. Esse fichario nao e outro senao o famoso jogo. .
de cartas. Encontramos tal ideia pela primeira vez, ex-
press a com tod as as letras, num livro de Antoine Court
de Gebelin: "Le monde primitif". Court de Gebelin,
homem de ciencia, membro da Academia Real de La
Rochelle, publicou essa obra em nove volumes, de 1773
a 1783. Pretendeu ter tido acesso a um antigo livro
egipcio que teria escapado da destruicao de Alexandria,
e declarou a proposito desse livro: "Ele contem ensinos
perfeitamente conservados sobre os assuntos mais in-
teressantes. Esse livro do antigo Egito e o jogo de car-
tas — nos o temos nas cartas do baralho".
Essa passagem nao me parece clara. O autor diz
que ja havia um jogo de cartas na biblioteca de Alexan-
dria? Ou diz que um livro egipcio, escapado ao desastre
de Alexandria, afirmava que o jogo de cartas era um
fichario, um resumo dos ensinamentos do Livro de
Toth?
Nao sei. E certo que o jogo de cartas tern sido
objeto, na epoca moderna em particular, de estudos inte-
ressantes, entre eles aquele que ficou infelizmente ine-
dito. o do pintor contemporaneo Baskine.
20
Para ficarmos no dominio dos fatos, podemos
notar que aparece o jogo de cartas, mais ou menos,
em 1.100. Compreendia, e corripreende ainda hoje 78
cartas, e diz-se comumente que o jogo de 52 cartas para
jogar e o jogo que serve para ler a sorte derivam dele.
E uma ideia recebida, falsa como a maior parte das
ideias recebidas. rt *""
Na origem, essas cartas se chamavam nabi, palavra
j taliana que quer dizer prof eta. Nao se sabe a origem
da palavra ' tarot ".
Pode-se manifestar o maior ceticismo diante da
hipotese segundo a qual "tar6", pronuncia francesa da
palavra "tarot". seria anagrama- de orta ou "ordem do
t emplo". Com os anagr amas chega-se a nao impo rta
onde. £ possivel que os te mplarios tenham possuido e
recebido cartas de jogo,~~mas nada prova que eles as
t enham propagado ajv olta-dfilgj.. O bibliotecario da Ins-
trucao Publica, sob Napoleao III, Christian Pitois, disse
em sua Historia da Magia, surgida em 1876, que os mais
importantes segredos cientificos do Egito, antes da des-
truicao de sua civilizacao, estao gravados nas cartas, e
que o essencial do Livro de Toth ai se encontra,
Aceito-o, mas gostaria de dados mais precisos, mais
convincentes. Nos simbolos bastante vagos como as car-
tas, pode encontrar-se e efetivamente se encontra, nao
importa o que. Ate nova ordem, pois esta historia do
Livro de Toth resumido pelas cartas me parece legen-
daria.
No seculo XVIII, qualquer charlatao que se preza
diz possuir o Livro de Toth. Nenhum o reproduziu e
muitos foram mortos nas fogueiras da Inquisicao por
isto, ate 1825; em 1825, com efeito, a Inquisigao quei-
mava ainda na Espanha.
No seculo XIX,. como no XX, nao faltaram char-
21
'.
V
lataes que pretenderam, igualmente, possuir o papiro
ou o Livro de Toth (que acabou intervindo no celebre
romance de Gaston Leroux. "A poltrona mal-assom-
brada").
Mas ninguem ousaria publica-lo pois os acidentes
acontecidos a esses possuidores foram numerosos.
Se existe, como creio e como este livro tenta prova-
-lo, uma associacao internacional de Homens de Negro,
ela deve ser eontemporanea de mais antiga no Egito e
exercer suas atividades desde entao. Encontram-se refe-
rencias sobre esse assunto em autores serios como C.
Daly King, que fez alusao a grupos contemporaneos
p ossuidores e utilizadores dos segredos.do Livr o de Toth.
C. Daly King pretendeu que Orage e Gurdiieff faziam
parte de tais grupo sffoao conheci Orage, mas coriheci
Gurdjieff que era um farsante*
Nesse ponto, em particular, a boa fe de C. Daly
King pode ser enganada. Escreveu, entretanto, que nao
se pode chegar a consciencia superior, segundo o me-
todo egipcio, somente pelo trabalho pessoal e, segundo
ele, efetuar uma tentativa dessa natureza sem estar diri-
gido e extremamente perigoso. Isto pode ter as conse-
qiiencias mais graves, principalmente causar ferimentos.
Sempre segundo ele, "somente uma organizacao de
pessoas qualificadas e eficientes pode ensinar ess a tec-
nica, e somente no interior de uma tal organizacao
que a disciplina aprdpriada pode ser aplicada. Eu
advirto o leitor de maneira a mais seria para nao tentar
sozinho tais experiencias. Entretanto, essa tecnica cons-
titui um meio pratico para ativar a consciencia hu~
mana"
Se uma tal organizacao existe, ela deve, necessa-
riamente, possuir o Livro de Toth ou o que resta dele.
E se os egipcios aplicaram ao papiro as mesmas tecnicas
22
X
de conservacao das mumias, nao sera absurdo pensar
que um papiro tenha podido subsistir ate o seculo XIX,
quando entao poderia ser fotografado. A menos que a
organizacao em questao tenha conhecido a fotografia
bem antes do seculo XIX, o que nao e impossivel.
Thurloe, o cunhado de Cromwell e chefe de sua
policia secreta, parece ter empregado em sua camara
escura uma tecnica analoga a fotografia.
Pode-se decifrar esse texto? Voltamos a querela
dos egiptologos. Sax Rohmer escreveu a proposito dos
egiptologos oficiais: "Se pusessemos todos eles a ferver
e se fosse destilado o liquido assim obtido, nao se ex-
trairia nem um micrograma de imaginacao". Isto parece
verdadeiro. Parece que houve, por^ volta de 1920, ar-
queologos nao-oficiais capazes, realmente, de traduzir
hieroglifos. Schwaller de Lubicz teria recebido ensina-
mentos de tais especialistas. Se bem que, a priori, nao se
possa rejeitar a existencia de um pequeno grupo, tao
esperto em 1971 d.C. quanto o fora em 1971 a.C, que
possuiria alguns elementos da ciencia secreta.
Eis,- segundo C. Daly King, um exemplo dessa
ciencia secreta: " No Egito, existiam verdadeiras escolas
e a Grande Escola, a qu e ensinava nas piramides, era
real mente seria. Sua^especialidade era o conhecimento
objetivo, real, do universo real. E um a das possibilidades
dada aos estudantes era a de, com.o^u xilio de um curso
cuidadosamente estudado, utilizar as funcoes naturais.
ma is_insuspeit&veis de- seu proprio corpo para transfo rm
ma-los, d e seres su b-humanos que somosTem seres ver-
dadeiros.
"A Grande Escola chegara a uma ciencia que nao
possuimos: era a ciencia da optica psicologi c a. Tal cien-
cia permitia estu dar espelhos_que nao refletiam senao
o que era mau num rosto qu e lhe era apresentadoMJ m
23
ankh
itiuai
mais nada no espelho pois tinha-se purificado ate a eli-
minacao de tudo o que era mau nele. Um tal candidato
chamava-se Senhor do espelho puro.
Tudo isto mostra um saber avangado. Mas e com-
preensivel que alguns pensem que a humanidade nao
esta pronta a recebeiLestes_conhec ^entos, e que uma
organizagao de Homens de Negro f aca tudo para impe-
dir a public acao do Livro de Toth.
Ate hoje parece que ela o conseguiu plenamente?|
Como nao sei o que esse livro contem, e-me dificil
emitir uma opiniab. Receia-se que existam segredos real-
mente ffiuito perigosos para serem conhecidos, e o da
"optica psicologica" me parece, realmente, fazer parte
deles. Mas existem tambem supersticiosos e fanaticos.
Desses supersticiosos, e entre parenteses, assinale-
mos que f oi feita uma estatfstica exata da dura9ao media
da vida detodos aqueles que participaram da abert ura
do tumulo de Tout Ankh Amon j_e m media, suas vidas
f oram mais longas qu e a de seuTcontemporaneo^ Nao
aomitamos sem verifica^io todas as historias delSmulo
maldito e de maldicao do farao. Mas o tumulo de Tout
Ankh Amon foi inteiramente aberto.
De outro lado, um certo papiro egipcio que anunciaj
"o conhecimento de todos os segredos do ceu e da terra" |
nao descreve mais que a resolucao de equaQoes de pri-
meiro grau . . . £ possivel que os adversarios do Livro
de Toth odramatizem por demais a situagao.
fi possivel, igualmente, que eles tenham razao.
O que e certo e que, se existisse urxia tradugao do
Livro de Toth, com provas e fotografia do texto original,
qualquer editor hesitaria, sem duvida, antes de publi-
ca-lo. Mesmo eu.
24
COMPLEMENT!) AO CAPITULO I
COMO NEFER-KA-PTAH ENCONTROU O
LIVRO DE TOTH
V
Encontrei essa historia ingenua, mas autentica, no
The wisdom of the Egyptians, de Brian Brown (New
York, Brentano's, 1928), citado por Lin Carter numa
antologia Golden cities, far.
O papiro egipcio de onde esta historia foi extraida
data mais ou menos de trinta e dois seculos.
Nefer-Ka-Ptha encontrou o vestigio do Livro de
Toth gragas a um sacerdote antigo. O livro era guar-
dado por serpen tes e escorpioes, e principalmente por
uma serpente imortal. Estava fechado numa sucessao
de recipientes encaixados, os quais estavam no fundo
de um rio. Auxiliado por um magico, sacerdote de
Isis, Nefer-Ka-Ptah apoderou-se da caixa gramas a um
engenho de soerguimento magico. Cortou entao a ser-
pente imortal em duas, enterrou as duas metades na
areia, longe bastante uma da outra para que elas nao
se pudessem juntar. Leu, entao, a primeira pagina do
livro e compreendeu o ceu, a Terra, o abismo, as mon-
tanhas e o mar, a linguagem dos passaros, dos peixes
e dosanimais. Leu a segunda pagina e viu o Sol brilhar
no ceu noturno e em volta do Sol grandes formas dos
deuses.
25
■
■
Entrou em sua casa, procurou urn papiro novo e
uma garrafa de cerveja, escreveu as formulas secretas do
Livro de Toth no papiro, lavou-as com cerveja e bebeu
essa cerveja. Assim, todo o saber do grande magico
ficou nele.
Mas Toth voltou do pais dos mortos e vingou-se
terrivelmente. O filho de Nefer-Ka-Ptah, e depois o
proprio Nefer-Ka-Ptah e sua mulher morreram. Foi en-
terrado com todas as honras devidas a um filho de rei
Xeo livro secreto de Toth foi enterrado com ele.
Aparentemente nao para sempre. Pois o Livro de
Toth reapareceu atraves dos seculos. Uma lend a poste -
rior diz que a mumia de Nefer-Ka-Ptah, com^ uasjmaos
cerradas em torno do Livro de Toth, foi encontrada por
Apolonio de Tiana.
26
O QUE FOI DESTRUfDO EM ALEXANDRIA
A destruicao da grande biblioteca de Alexandria
foi rematada pelos ara.besL_.em 646 da era crista. Mas
essa destruicao fora precedida de outras, e o furor com
que essa fantastica colecao de saber foi aniquilada e
particularmente significativo.
A biblioteca de Alexandria parece ter sido fuib-
dada por Ptolomeu I ou por Ptolomeu II. A cidade foi
fundada, como seu proprio nome diz, por Alexandre, o
Grande, entre 331 e 330 a.C. Escoou-se quase mil anos
antes de a biblioteca ser destruida.
Alexandria foi, talvez, a primeira cidade do mundo
totalmente construi da em pedra r sem que se utilizasse
nenhuma madeira.. A biblioteca compreendia dez gran-
des salas. e quartos separados para os consultantes.
Discute-se, ainda, a data de sua fundacao e o nome de
seu fundador, mas 9 verdadeiro fundador , no sentido de
organizador e criador da biblioteca, e nao simplesmente
do rei que reinava ao tempo de seu surgimento, parece
t er sid ojim per s onagem de nome Demetrio s_de_Phalere :
Desde o comeco, ele agrupou setecentos mil livros"
e continuou aumentando sempre esse numero. Os livros
eram comprados as expensas do rei. .1
-
v 27
Esse Demetrios de Phalere, nascido entre 354 e
348 a.C, parece ter conhecido Atistoteles. Apareceu
em 324 a.C. como orador publico, em 317 foi eleito
V governador de Atenas e governou-a durante dez anos,
de 317 a 307 a.C.
Impos um certo numero de leis, notadamente uma,
de reducao do luxo nos funerais. Em seu tempo, Atenas
contava 90.000 cidadaos, 45.000 estrangeiros e 400.000
escravos. No que concerne a propria figura de ^Deme-
trios, a Histofia no-lo apresenta como um juiz de ele-
gancia em seu pais; foi o primeiro ateniense a descolorir
os cabelos, alourando-os com agua oxigenada.
Depois foi banido de seu governo e partiu para
Tebas. La escreveu um grande numero de obras, uma
com titulo estranho: Sobre o f eixe de luz no ceu, que
e, provavelmente, a primeira obra sobre os discos voa-
X dores.
Em 297 a.C, o farao Ptolomeu persuadiu Deme-
trios a instalar-se em Alexandria. Fundou, entao, a
biblioteca. Ptolomeu I morreu em 283 a.C. e seu filho
Ptolomeu II exilou Demetrios em Busiris, no Egito. La ?
Demetrios foi mordido por uma serpente venenosa e
morreu.
Demetrios tornou-se celebre no Egito como mece-
nas das ciencias e das artes, em nome do Rei Ptolomeu I.
Ptolomeu II continuou a interessar-se pela biblioteca
e pelas ciencias, sobretudo pela zoologia. Nomeou
como bibliotecario a Zenodotus de Efeso, nascido
em 327 a.C, e do qual ignoram as circunstancias e data
da morte.
Depois disso, uma sucessao de bibliotecarios. atra-
ves dos seculos. aumentou a bibl ioteca , ai acumuland o
pergaminhos, papiros, gravuras e mesmo l ivros impres-
sos, se formos jgrer em certas tradi goes A biblioteca
28
continha portanto docum ent os inestimaveis. Colecionou,
igualmente, documentos dos inimigos, notadamente de
Roma.
Pela documentacao de la, poder-se-ia constituir
uma lista bastante verossimil de todos os bibliotecarios
ate 131 a.C.
de AC
Demetrios de Phalere
Zenodotus de £feso
Callimachus de Cyrene
Apolonius de Rodes
Eratosthenes de Cyrene
Aristophanes de Bizancio
Apolonius, o Eidografo
Aristarco da Samocracia
282
C. 260
C. 240
C. 230
195
180
C. 160
C.
C.
C.
C.
a
282
260
240
230
195
180
160
131
Depois disso, as indicacoes se tornam vagas. Sabe-
-se que um bibliotecario se opos, violentamente, a pri-
meira pilhagem da biblioteca por Julio Cesar, no ano
47 a.C, mas a Historia nao tern seu nome. O que e
certo e que ja na epoca de Julio Cesar a biblioteca de
Alexandria tinha a reputa?ao corrente de guardar livros
secretos que davam poder praticamente ilimitado.
Quando Julio Cesar chegou a Alexandria a biblioi
t eca tinha pelo menos setecentos mi l manuscritos. Quais?
E por que se comecou a temer alguns deles?
Os documentos que sobreviveram dao-nos uma
ideia precisa. Havia la livros em grego. Evidentemente,
tesouros: tod a essa parte que nos falta da literatura
grega classica. Mas entre esses manuscritos nao deveria
aparentemente haver nada de perigoso.
Ao contrario. o coniunto de obras de Berose e que
noderia inquietar. Sacerdote babiloni co refugiado na
Grecia, Berose noTdeixou de um encontro o relato com
os extratecrestres: os misteriosos Apkall us, sere s seme-
29
lhantes a peixes, vivendo em escafandros e que teriam
trazido aos horn-ens os primeiros conhecimentos cienti-
f icos .
Berose viveu no tempo de Alexandre, o Grande,
ate a epoca de Ptolomeu I. Foi sacerdote de Bel-Marduk
na Babilonia. Era historiador, astrologo e astronomo.
Inventou o relogio de sol semicircular. Fez uma teoria
dos conflitos entre os raios do Sol e da Lua que ante-
cipa os trabalhos mais modernos sobre a interferencia
da luz. Podemos fixar as datas de sua vida em 356 a.O,
nascimento, e 261, sua morte. Uma lenda contempo-
ranea diz que a famosa Sybila, que profetizava, era sua
filha.
A Historia do Mundo de Berose, que descrevia
seus primeiros contatos com os extraterrestres, foi per-
dida. Restam alguns fragmentos, mas a totalidade desta
obra estava em Alexandria. Nela estavam todos os en-
sinamentos dos extraterrestres.
Encontrava-se em Alexandria, tambem, a obra
completa de Manethon. Este, sacerdote e historiador
egipcio, contemporaneo de Ptolomeu I e II, conhecera
todos os segredos do Egito. Seu nome mesmo pode ser
interpretado como "o amado de Toth" ou "detentor da
verdade de Toth".
Era o homem que sabia tudo sobre o Egito, lia os
hieroglifos, tinha contato com os ultimos sacerdotes
egipcios. Teria ele mesmo escrito oito livros, e reuniu
quarenta rolos de pergaminho, em Alexandria, que
continham todos os segredos egipcios e provavelmente
o Livro de Toth. Se tal colecao tivesse sido conservada,
saberiamos, quern sabe, tudo o que seria preciso saber
sobre os segredos do Egito. Foi exatamente isto que se
.quis impedir.
A biblioteca de Alexandria continha igualmente
30
obras de um historiador fenicio, Mochus, ao qual se
atribui a invencao da teoria atomica,
Ela continha, ainda, manuscritos indianos extraor-
dinariamente raros e preciosos.
De todos esses manuscritos nao resta nenhum trago.
Conhecemos o niimero total dos rolos quando a destrui-
gao come90u: quinhentos e trinta e dois mil e oitocen-
tos. Sabemos que existia uma segao que se poderia
batizar de "Ciencias Matematicas" e outra de "Ciencias
Naturais". Um catalogo geral igualmente existia. Tam-
bem este foi destruido.
Foi Cesar quern inaugurou ess as destruicoes. Levoti
um certo niimero de livros, queimou uma parte e guar-
dou o resto. Uma incerteza persiste ainda em nossos dias
sobre esse episodio, e 2.000 anos depois da sua morte,
Julio Cesar tern ainda partidarios e adversarios. Seus
partidarios dizem que ele jamais queimou livros na
propria biblioteca; alias, um certo numero de livros
prontos a ser embarcados para Roma, foi queimado num
dos depositos do cais do porto de Alexandria, mas nao
foram os romanos que .lhes atearam fogo.
Ao contrario, certos adversarios de Cesar dizem
que grande numero de livros foi deliberadamente des-
truido. A estimativa do total varia de 40.000 a 70.000.
Uma tese inter medi aria afirma que as chamas pro-
venientes de um bairro onde se lutava, ganharam a bi-
blioteca e destruiram-na acidentalmente.
Parece certo, em todo caso, que tal destruicao nao
foi total. Os adversarios e os partidarios de Cesar nao
dao. referenda precisa, os contemporaneos nada dizem
e os escritos mais proximos do acontecimento lhe sao
posteriores de dois seculos.
Cesar mesmo, em suas obras, nada disse. Parece
que ele se "apoderou" de certos livros que lhe pareciam
X especialmente interessantes.
fHtw»Tt>.-i;<.niwi. m »—
m<x w* FfcAMftsro y*a;5tt ia casta ®&ga*
Rfcgiasro N~- - —
T
A maior parte dos especialistas em historia egipeia
pensa que o edificio da biblioteca deveria ser de gran-
des dimensoes para center setecentos mil volumes, salas
de trabalho, gabinetes particulars, e que um monu-
mento de tal importancia nao pode ser totalmente des-
truido por um prineipio de incendio. E posslvel que o
incendio tenha consumido estoques de trigo, assim como
rolos de papiro virgem. Nao e certo que tenha devastado
grande parte da livraria, nao e certo que ela tenha sido
totalmente aniquilada. £ certo, porem, que uma quan- ,
tidade de livros considerados particularmente perigosos, J
desapareceu. — *
A ofensiva seguinte, a mais seria contra a liv ra-
ria ^ parece ter sido feita pela Imperatriz Zenobia. Ainda
desta vez a destruicao nao foi total, mas livros impor-
tantes desapareceram. Conhecemos a razao da ofensiva
que lancou depois dela o Imperador Diocleciano (284-
-305 d.C). Documentos contemporaneos estao de acor-
do a este respeito.
Diocleciano quis destruir todas as obras que da-
v am os segredos de fabrlcacao do ouro e da prata. Isto
e, todas as obras de alquimia. Pois ele pensav aque se os
egipcios pudessem fabricar a vontade o ouro e a prata,
obteriam assim meios para levantar um exercito e com-
bater o imperio. Diocleciano mesmo, filho de escravos,
foi proclamado imperador em 17 de setembro de 284.
Era, ao que tudo indica, perseguidor nato e o ultimo
decreto que assinou antes de sua abdicagao em maio de
305, ordenava a destruicao do cristianisma. Diocleciano
foi de encontro a uma poderosa revolta do Egito e co-
mecou em julho de 295 o cerco a Alexandria. Tomou
a cidade e nessa ocasiao houve massacres inominaveis.
Entretanto, segundo a lenda, o cavalo de Diocleciano
deu um passo em falso ao entrar na cidade conquistada,
32
eJDiocleciano interpretou tal acontecimento como men-
sagem dos deuses que lhe mandavam poupar a cidade.
A tomada de Alexandria foi seguida de pilhagens
sucessivas que visavam acabar com os manuscritos de
alquimia. E todos os manuscritos encontrados. foram
destruidos. Eles continham, ao que pareee, as chaves
essenciais da alquimia que nos faltam para a compreen-
sao dessa ciencia, principalmente agora que sabemos
que as transmutagoes metalicas sao possiveis (ver, a
respeito, na mesma colecao, a obra de Jacques Sadoul,
"O Tesouro dos Alquimistas") . Nao possuimos lista
dos manuscritos destruidos, mas a lenda corita que
alguns dentre eles eram obras de Pitagoras, de Salomao
ou do proprio Hermes. £ evidente que isto deve ser
tornado com relativa confianga.
Seja como for, documentos indispensaveis davam
a chave da alquimia e estao perdidos para sempre: Mas
a biblioteca continuou. Apesar de todas as destruicoes
sistematicas que sofreu, ela continuou sua obra ate que
os arabes a destruissem completamente. E se os arabes
o fizeram, sabiam por que o faziam. Ja haviam des-
truido, no proprio Islao — assim como na Persia —
gra nde numero de liyros secretos de magia, de alquimia
e de astrolog ia.
A L _p alavra de ordem dos conquistadores era "nap
ha necessidade de outros livros, senao o Livro"^ isto e,
o Alcorao. Assim, a destruicao de 646 d.C. visava nao
propriamente os livros malditos, mas todos os livros.
O historiador muculmano Abd ,al-Latif (1160-1231) es-
creveu: "A biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas
chamas por Amr ibn-el-As, agindo sob as ordens de
Omar, o vencedor". Esse Omar se opunha alias a que
se escrevessem livros mugulmanos, seguindo sempre o
33
principio: "o livro de Deus e-nos suficiente". Era urn
muculmano recem-convertido, fanatico, odiava os livros
e destruiu-os muitas vezes porque nao falavam do pro-
feta.
£ natural que terminasse a obra come^ada por
Julio Cesar, continuada por Diocleciano e outros.
Se documentos sobreviveram a esses autos-i
foram cui dadosamente guardados desde 646 d.C, e nao
mais reapareceram. E se certos grupos secretos possuem ,
atualmente manuscritos provenientes de Alexandria,
diss imulam isto muito bem.
Retomemos, agora, o exame desses acontecimen-
tos a luz da tese que sustentamos: a existencia desse
grupo que chamamos de Homens de Negro e que cons-
titui uma organizacao visando a destruigao de determi-
nado tipo de saber.
Parece evidente que tal grupo se desmascarou em
391 depois que procurou, sistematicamente, sob Dio-
cleciano, e destruiu as obras de alquimia e de magia.
Parece evidente, tambem, que tal grupo nada teve
a ver com os acontecimentos de 646: o fanatismo mu-
culmano foi suficiente.
Em 1692 foi nomeado para o Cairo um consul
frances chamado M. de Maillet. Ele assinalou que Ale-
xandria e uma cidade praticamente vazia e sem vida.
Os raros habitantes, que sao sobretudo ladroes, se en-
cerram em seus esconderijos. As rumas das constru?5es
estao abandonadas. Parece provavel que, se livros so-
breviveram ao incendio de 646, nao estavam em Ale-
xandria naquela epoca; trataram de evacua-los.
A partir dai, fica-se reduzido a hipoteses.
Fiquemos nesse piano que nos interessa, isto e, o
dos livros secretos que dizem respeito as civilizagoes
34
desaparecidas, a alquimia, a magia ou as tecnicas que
nao mais conhecemos. Deixaremos de lado os classicos
gregos, cuja desaparigao e evidentemente lamentavel,
mas escapa a nosso assunto.
Voltemos ao Egito. Se urn exemplar do Livro de
Toth existiu em Alexandria, Cesar apoderou-se dele
como fonte possivel de poder. Mas o Livro de Toth nao
era certamente o unico documento egipcio em Alexan-
dria. Todos os eni g mas que se colocam ainda sobre_o
Egito teriam, talvez? solucaoT se tahtos documentos egip-
ciosnao t ivesse m sido d estruid os.
E entre esses documentos, eram particularmente
visados e deveriam ser destruidos, no original e nas co-
pias, depois os resumos: aqueles que descreviam a civi-
lizagao que precedeu o Egito conhecido. £ possivel que
alguns tracos subsistam, mas o essencial desapareceu,
e essa destruicao foi tao completa e profunda que os
arqueologos racionalistas pretendem, agora, que se pode
seguir no Egito o desenvolvimento da civilizagao do
neolitico ate as grandes.dinastias, sem que nada venha
a provar a existencia de uma civilizagao anterior.
Assim tambem a Historia, a ciencia e a situagao
geografica dessa civilizagao anterior nos sao totalmente
desconhecidas. Formulou-se a liipotese que se tratava
de uma civilizagao de Negros. Nessas condigoes, as ori-
gens do Egito deveriam ser procuradas na Africa. Tal-
vez tenham desaparecido em Alexandria, registros,
papiros ou livros provenientes dessa civilizagao desa-
parecida.
Foram igualmente destruidos tratados de alquimia
os mais detalhados, aqueles que permitiriam, realmente,
obter a transmutagao dos elementos. Foram destruidas
obras de magia. Foram destruidas provas do encontro
35
com extraterrestres do qual Berose falou,' citando os
Apkallus . Foram destruidos . . . mas como prosseguir
enumerando tudo o que ignoramos! A destruigao tao
completa da biblioteca de Alexandria e, certamente, o
maior sucesso dos Homens de Negro.
36
COMPLEMENTS AO CAPfTULO 2
E AS PIRAMIDES?
Havera, certamente, leitores que pensarao que os
manuscritos que escaparam das multiplas destruicoes
da biblioteca de* Alexandria encontraram refugio nas
cavernas secretas sob as piramides. O mais extraorr
dinario 6 que eles podem nao estar totalmente engana-
dos. O misterio do Egito esta longe de estar definitiva-
mente resolvido.
Citemos, simplesmente, a respeito, duas notas do
egiptologo frances Alexandre Varille. Este morreu em
1.° de novembro de 1951 num estranho acidente que
estamos tentados a atribuir aos Homens de Negro; ele
escreveu:
" Ignora-se a f ilosofia f araonica pois a mentalidade
ocidentai se mostra impotente para deciirar esse pe nsa:
menl
E ainda:
"A egiptologia comegou a esterilizar-se quando en-
tr ou no quadro oficial da universidade, e quando__os
egrpt ologos profissionais tomaram, progressivamente,^ o
liigar dosegiptologos de vocacao" .
Varille esta longe da ^superestimacao ingenua e de-
m ente das piramides. Sabia que os edificips egipcios sao_
de uma precisao cientifica extrema e que pode ser des-
coberta^
■ 37
O conjunto desses segredos cientificos teria sido
redigjdo por Queops e estariam ao mesmo tempo num
livro do qual se teriam feito muitos exemplares e guar-
dados nas proprias piramides. Notadamente nas duas
grandes piramides de Gize.
A maior parte desse saber deve ter sido destruido
em Alexandria. Mas talvez nao tudo. Nao esta excluso
que, antes mesmo da chegada de Cesar, alguns do-
cumentos essenciais tivessem sido levados e guardados.
E nao e impossivel que eles ainda existam.
Q fisico americano Luiz Alvarez tentou sondar
a grande pir amide com raios. Qs primeiros resultados
pare ceram revelar inteiramente a existencia de camaras
secretas que estao por descobrir. A sondagem das outras
piramides e dos tumulos nao foi feita. Nao se deve
excluir uma descoberta tao importante como a do tu-
mulo de Tout Ankh Amon, mas que se Voltasse mais a
documentos que a objetos.
* -
38
AS ESTANCIAS DE DZYAN
£ dificil saber quern foi o primeiro a fazer alusao
a urn livro trazido aos indianos e proveniente do planeta
Venus. Parece ter sido o astronomo frances Bailly, no
fim do seculo XVIII, mas e possivel que haja referen-
cias anteriores.
O frances Louis Jacolliot , no seculo XIX, parece
ter sido o primeiro a batizaFesse livro de As Estancias
de Dzy an. Desde meados do seculo XIX, pode notar-
-se uma serie de acidentes acontecidos a pessoas que
pretenderam possuir essas estancias. Mas foi com a as-_
censao e queda de Madame Blavatskv que a h istoria
das JEstancias de Dzyan apareceram em tod sua ex-
tensao.
£ dificil falar de Madame Blavatsky de maneira"
imparcial. As opinioes sao muito divididas, e as paixoes,
mesmo em nossa epoca, ainda sao violentas.
O melhor livro, em frances, sobre o assunto, foi
escrito por Jacques Lantier: "A Teosofia" (C AL) . Fala-
rei de Madame Blavatsky somente o que me parece
necessario para compreender a historia fantastica das
Estancias de Dzvan,
Helena Petrovna Blavatsky nasceu na Russia em
^ 30 de julho de 1831, sob o signo de multiplas calami-
39
/
dades. Desde o seu batismo, a coisa teve inicio: a casula
do sacerdote pegou fogo e ele ficou gravemente quei-
mado, e muitas pessoas que assistiam feriram-se, toma-
das de panico. Apos esse brilhante comeco, desde a idade
de cinco anos, Helena Blavatsky espalhava o terror em
torno de si, hipnotizando seus companheiros de brin-
quedo: urn deles se lancou no rio, afogando-se.
Com a idade de 15 anos comecou a desenvolver
os dons da clarividencia, inteiramente imprevistos, e
passou a descobrir criminosos que a policia era incapaz
de desmascarar.
A loucura comecou a espalhar-se e queria-se colo-
car a jovem na prisao ate que fornecesse de suas ativi-
dades e de seus dons explicates racionais. Felizmente
a familia interveio: casaram-na, pensando que se acal-
masse, mas ela escapou e embarcou em Odessa para
Constantinopla. De la chegou ao Egito.
Uma vez mais, voltamos as mesmas pistas do pri-
meiro capitulo: o Livro de Toth, as obras que escapa-
ram do desastre de Alexandria.
Fosse como fosse, no Cairo, Madame Blavatsky"
viveu com um magico, de origem copta, grande letrado
muculmano. Este lhe revelou a existencia de um livro
maldito, muito perigoso, mas que ele lhe ensina a con- ]
sultar por clarividencia. O original, segundo o magico,
esta num mosteiro do Tibet.
O. livro chama-se As Estancias de Dzyan.
Segundo o magico copta, o livro revelaria se ^redos
provenientes de outros planetas e referentes a uma his-
toria de centenas de milhoes de anos.
Como disse H. P. Lovecraft:
"Os teologos anunciam coisas que gelariam o san-
gue de terror se eles nao as enunciassem com um oti-
mismo tao desarmante quanto beato."
40
Desejou-se procurar a origem dessas estancias.
Meu amigo Jacques Van Herp ere ter encontrado uma
num obscuro artigo do "Asiatic Review" que Madame
Blavatsky, provavelmente, nao teve nunca ocasiao de
consultar.
Pode-se dizer, ao menos, que Madame Blavatsky,
cuja imaginacao era sempre muito viva, deixa-se levar
por relatos fantasticos que correspondem a uma tradicao
muito antiga. Se levarmos a hipotese ao maximo, pode-
mos imaginar qualquer coisa. Casos de clarividencia
excepcional existem. Outro bom exemplo disso e o de
Edgar Cayce (ver a obra de Joseph Millard: "L'homme
du mystere, Edgar Cayce"). Que Madame Blavatsky,
jenha lido, reajmente pela clarivide ncia, uma obra ex-
traor dinaria, nao e , talvez, dejo do impossivel.
Mais tarde ela pretendera possuir, sob a forma de
um livro, essas Estancias de Dzyan. Deixando o Cairo,
rumou a Paris, onde viveu dos subsidios do pai. Depois
em Londres, depois na America, onde tomou contato
com os Mormons e estudou o Vudu.
Depois disso. tornou -se assalta nte no faroeste. —
nao exagero. e historico.
Voltou depois a Londres onde pretendeu encontrar
um certo Kout Houmi Lai Sing. A proposito desse per-
sonagem, quatro hipoteses foram emitidas.
l.° So existiu na imagina?ao de Madame Bla-
vatsky.
2.° Jamais existiu mas era a projegao de forcas
mentais provenientes de adeptos que viviam na Asia.
3.° Era um hindu,. agente de uma sociedade se-
creta que manipulava M _adame Blavatsky para faze^Ia
instrumento da independenela da India. Tal tese parece
41
ser preferida por Jacques Lantier que e policial de pro-
fissao.
4.° Esse personagem era agente do Servico de
Inteligencia. - /
Essa quarta tese se encontra na literatura sovietica
onde Madame Blavatsky e considerada, com todo seu
trabalho, como urn instrumento do imperialismo ingles.
E interessante notar que um seculo depois desses
acontecimentos, depois de milhares de artigos e cente-
nas de livros, nada se tenha conseguido saber sobre esse
personagem designado pelas iniciais K. H. Estamos no
terreno das conjecturas, mas nao e excluso afirmar que
as quatro hipoteses propostas sejam todas falsas.
Seja como for, K. H. manteve corr^ s^ondencia_cflm
Madame Blavatsky. Uma parte dessas cartas fo j_puJ2LL-
cada. Entre outras cois a^_falavad o perigo das ann as
.corT sfrmcIaTcom energia atomic a , e da necessidade, con ,-
sequ entemente, de guardar certos segredos^ Isto ha cem
jinos! Encontra-se um eco dessas cartas no romance de
ficcao cientifica de Louis Jacolliot "Os devoradores de
fogo" onde se assiste ja a conversao total da materia em
energia.
Tais cartas contem muitas outras coisas.^Ajrnedida
que as rece bia^Ma dame Blavatsky, mulher mcmtalcu ia
Biblioteca~era ^ c omposta ^unicamente de romances bar
tos comprados em estacoes de trem, tornava-se. brusca-
mente , a pessoa melhor informada do seculo XIX ^ no
'q ue concerne as ciencias. E suliciente ler livros como
A Doutrina Secre t, Isis Besvendada, O Sim boiismo
7 - ' —
Arcaico das Religioes, livros esses que ela assinou, para
constatar uma imensa cultura que ia da linguistica (ela
foi a primeira a estudar a semantica do sanscrito arcaico)
ate a fis ica nuclear, passando por todos os co nhecimen-
42
tos de sua epoca, da nossa, e por algumas ciencias ainda
nao inventadas.
-
Pode-se alegar que seu secretario George Robert
Stow Mead era um homem de grande cultura. Mas Mead
so encontrou Madame Blavatsky em 1889 e nao ficou
com ela senao os tres ultimos anos de sua vida. De mais
a mais, se esse antigo aluno de Cambridge conhecia
muito bem os problemas relativos ao gnosticismo, nao
tinha essa cultura universal, tao avancada para a epoca,
que se manifestava na obra de Madame Blavatsky.
Esta pretendeu sempre que suas informacoes pro-
vinham das Estancias de Dzyan, que ela consultara a
distancia, primeiramente, e que depois recebera dos in -
dianos um exemplar. Nap se sabe onde ela teria apren-
d ido o sanscrito: isto faz parte do misterio.
Em 1852, Madame Blavatsky voltou a India, ru-
mou depois para Nova Iorque e viveu novamente dois
anos no faroeste. Em 1855^ novamente em Calcuta,
depois tentou penetrar no Tibet: impediram-na com
energia. Comegou entao a receber advertencias: se ela
nk o restituisse o exemplar das _ Estancias de Dzyan. uma
infelicidade se abateria sobre ela. C om efeito^jimjjij^
ela caiu doente. Durante tres anos per ambulou pel a Euz
ropjtxom o_se estivesse sendo persegul da.
Em 1870 voltou ao Oriente, a bordo de um navio"
que atravessou o Canal de Suez, que acabava de ser
aberto. O navio explodiu. Diz-se que transportava pol-
vora para canhao, mas isto nao esta provado. A maior
parte dos viajantes foi reduzida, em todo caso, a poeira
tao fina que nem se achou mais vestigio de seus cada-
veres. A descri§ao da explosao lembra antes a de uma
bomba atomica, que outra coisa. Madame Blavatsky
escapou miraculosamente.
43
Tentou depois, eta Londres, dar uraa entrevista
cojetiva a imprensa. Um louco(?) atingiu-a com tiros*
V Declarou, em seguida, que for a teleguiado, precedendo,
assim, Lee Harvey Oswald, Shirhan Shirhan e Charles
Mans on.
Madame Blavatsky escapou, mas ficou terrivel-
mente assustada. Organizou outra entrevista coletiva
para apresentar as Estancias de Dzyan, pensando, assim,
suprimir a ameaca. Mas o manuscrito desapareceu. De-
sapareceu de um cofre-forte, moderno para a epoca, que
se encontrava num grande hotel.
Madame Blavatsky e entao persuadida que luta
contra uma sociedade secreta extremamente poderosa.
O episodio principal dessa luta deveria desencadear-se .
alguns anos mais tarde, quando Madame Blavatsky
encontrou na America, Henry Steel Olcott, homem de
negocios, que se dizia coronel, como muitos de sua
epoca, notadamente Buffalo Bill.
Qkott se apaixonou pela estranha. Madame Bla -
vatsky Ihe pareceu tascmante. Fundou, entao, com ela ,
um_ "clube de milagres". Depois disso, uma sociedade
^ie_gujs_ batizar como so ciedade egiptolog l ca. Depois
de muitas advertencias. o nome foi mu'dado para "So^
ciedade Teosofica". Estamos a 8 de s etembro de 1875 .
Os sinais e pr odigios logo se manifestaram. A socied ade
g uer ki^ner ar3os_jgstos_^ riortais do Bara o_d e Palm,
impro yavel aventu re iro, membro dessa sociedade. A cre-
ma 9ao e novidade, princ i palmente na America. £ preciso
uma autorizacao especial para a sociedade teosoH ca
con struir um forno crematorio. Quando la foi po sto q
cadaver do Barao de Palm^seu b r ago direito leva ntou-se
para o ceu, em sinal de protesto. Ao mesmo tempo,_no
mesmo insta nte, um mcendio gigantesco apareceu nO
44
Brooklyn: um grande teatro queimou e duzen tos nova-
-iorqui no^jii Offeram. A c ida de inteira~tremeu~
Ao cabo de algum tempo, decidiu-se que o Coro-
nel Olcott e Madame Blavatsky partiriam para a Asia
a _fim de entrar em c oi itato com os grandes mestres da
Loja Branca A missao era encarada tao senamente pel o
g overno dos Estados Unidos que, quando da partida,
em 1878, o Presidente R uth erford Hayes designou Ma-
dame Blavatsky e o Coronel QlcotTc omo seu's ; enviados
espec iais, deu-lhes ordens da missao assinadas e passa -
portes diplomatico s^ Tais documentos evitariam que,
mais tarde, eles fossem mantidos presos na India, pelos
ingleses, como espioes russos; so faltava a espionagem
nessa historia, ai esta.
Em 16 de fevereiro de 1879, a expedicao chegou
a India. Foi recebida pelo Pandit Schiamji Krishna-
varma e outros iniciados. Aspecto menos agradavel da
recep9ao: todos os documentos e dinheiro dos via j an-
tes foram roubados na chegada. A policia inglesa reen-
controu o dinheiro, mas jamais os documentos.
p o comeco de uma guerra sem gu ar tel que termi-
nara catastroficam ente^As prisoes e intem>gat6rios poli-
ciais se sucederam. O Coronel Olcott protestou, exibiu
a carta do presidente dos Estados Unidos e escreveu: "O
governo da India recebeu falsas informacoes a nosso
respeito, baseadas na ignorancia e na malicia, e estamos
colocados sob uma vigilancia tao inabil que o pais in-
teiro a percebe, e que faz crer aos indianos que o fato
de ser nossos amigos, lhes atfaira a malquerenga de
funcionarios superiores, e poderia prejudicar seus inte-
resses pessoais. As intengoes louvaveis e generosas da
sociedade encontram-se, assim, entravadas seriamente,
e estamos sendo vitimas de indignidades absolutamente
45
imerecidas pela decisao do governo, enganado por fal-
sos rumores."
Apos isso, a perseguicao policial diminuiu, mas., as
ameacjts se multiplicam; se Madame Blavatsky s e_Qhsii-
nasse em falar do livr o de Dzyan deveria esperar pelo.
pior. Ela se o b stinou.
Tinha agora em seu poder as Estanc i as de Dzyan,
que_nem mesmo estavam redigidas em sanscrito, mas
n uma lingua chamada Senzar, da qual ninguem ouyira
falar, nem antes nem depois dela. Madame Blavatsky
mesma traduziu o texto para o ingles: essa tradugao
apareceu em 1915 na "Hermetic Publishing Company**
de San Diego, Estados Unidos, com urn prefacio do Dr.
A. S. Raleigh. Pude consulta-la em .1947 na biblioteca
do Congresso em Washington. £ muito curiosa e mere-
ceria ser estudada.
A replica dos Desconhecidos e terrivel e admira-
velmente organizada. Tiraram de Madame Blavatsky
aquilo que lhe era m ais caro; suas pretensoes ao ocul-
tis mo. A sociedade de~pesquisas psiquicas inglesa public
cou um_relatorio absolutamente acabrunhador, redigido
j>elo Dr. Hodgsom_ Madame Blavatsky nao passaria de
um pres tidi gitador banal; toda sua historia seria uma
farsa. Elanuncase recup ejpu _dess e ataque. Viveu ate
1891, completamente abatida psiquicamente, num es-
tado de clepress a o mentalTamentayel.
Declarou publicamente que lamenta ter falado
jas Estancias de Dzyan, e muito tarde. I nvestigadore s
indianos, como E. S. Putt, criticarao e demolirao a
mat eria de Hodgson, mas nao ha mais tempo pa ra sal-
var Madame B lavatsky.
Provou-se, apos sua morte, que uma verdadeira
conspiracao fora orga nizad a ao mesmo tempo pelo go-
verno ingles, pelos servicos de polfcia do vice-rei da
46
'-•-.
' ■ • ■«.-
India, pelos missionaries protestantes na India, e por
6utros personagens que nao se pode identificar, e que
s eriam, provavelmente, os mais importantes participan -
tes desse complo. No piano da guerra psicologica, a
operacao montada contra Madame Blavatsky e uma
obra-prima^_
Tal conspiracao prova, por outro lado, que existem
certas organizacoes contra as quais a propria protecao
d e um p residen te dos Estados Unidos e inocua O result
t ado foi visto. No piano politico T Madame Blavatsky tevg
umajvitoria tota j: Mohandas Karamchand Gandhi reco -
n heceu que devia a Madame Blavatsky ter encontrado
seu caminho. a consciencia nacional, e que gracas a ela
ele libertara, finalmejite. a India. Foi um discipulo de
Mada me Blavatsky que lhe forneceu a droga Soma que
lhe pejmitiiuil trapassaros momentos mais dificeis~Ee,
provavelmente, devido a esses contat os^ ue Gandhi joi
assa ssinado em 3CTde Jan eiro de 1948 porju m fanaticp
estranhamente teleguiado e estranhamente precursor,
uma vezmais.
Mas as ideias de Madame Blavatsky triunfavarn!"
£ certo que a sociedade teosofica desempenhou impor-
tante papel, se nao decisivo, na libertacao da India. £
certo tambem qiie o Servico de Inteligencia e outros ins-
truments do imperialismo ingles tomaram parte na
conspiragao contra Madame Blavatsky e contra o livro
de Dzyan.
A impressao que se depreen de, portant o, e que
umj^or^aniz acao mais poderosa que o proprio Servico
de Inteligencia, e nao p ol^tica, procur ou impedir Ma-
d ame Blavatsk y_de_falar.
Objetar-me-ao que tal organizacao nao impediu a
p ubricacao do texto em 1 915, mas o que proy a_c[ue_a
pu blicagao tenha a menor relacao com o original? Afi-
-
/
nalj nao conheco nada sobre a sociedade hermetica de
San Diego.
Em todo caso, Madame Blavatsky comegou , a
morrer depois do desastre. Nos a reencontraremos, numa
ultima imagem, na rua Notre-Dame-des-Champs, em
Paris. Ai terminou sua vida, para ir morrer depois em
Londres em 1891.
Olhemos atraves dos olhos de um de seus inimigos,
o russo V. S. Solovyoff, que descreveu seus encontros
com ela no "Mensageiro da Russia", uma revista da
epoca. Parece que ele aborreceu-se principalmente com
as eriticas mudas que ela constantemente parecia dirigir-
-lhe. Apesar de abatida, Madame Blavatsky foi ainda
objeto de fenomenos bizarros. Eis o que aconteceu ao
cetico Solovyoff no Hotel Vitoria, em Elberfeld (Ale-
manha), quando acompanhava Madame Blavatsky e
alguns discipulos em viagem:
"De repente acordei. Fui despertado por um halito
quente. Ao meu lado, na obscuridade, uma figura hu-
mana de talhe alto, vestida de branco se erguia. Ouvi
uma voz, nao saberia dizer em que lingua, ordenando-me
para acender a vela. Uma vez a vela acesa, vi que eram
duas horas da manha e que um homem vivo se encon-
trava ao meu lado. Esse homem parecia exatamente o
retrato do mahatma Morya que eu ja vira. Falou-me
numa lingua estranha mas, no entanto, eu o compreen-
dia. Disse-me que eu tinha grandes poderes pessoais e
que meu dever era emprega-los. Depois desapareceu.
.Reapareceu logo, sorrindo, e na mesma lingua desco-
nhecida, mas inteligivel, disse: "Esteja certo, nao sou
uma alucinacao e voce nao esta a ponto de perder a
razao". Depois desapareceu novamente. Eram, entao,
3 horas. A porta cOntinuava fechada a chave".
48
Se e esse o genero de fenomeno que acontecia aos
ceticos, nao e nada espantoso que Madame Blavatsky
tivesse conhecido experiencias mais ex traordin arias.
Parece^ em todo caso, que ela empregou uma especie
cje_ clarividencia~para escrever. Urn critico ingles, Wil-
liam Emmett Cole ma n conta que na obra Isis Desven-
dada, Madame Blavatsky cita perto_de 1.400 liyros,
que ela nao possuia. As citacoes sao corretas^
Acusam-me de ter procedido da mesma maneira
oculta para escrever o Despertar dos Magicos, mas
nenhuma citacao desse livro, e nem dos meus livros se-
guintes, nem do presente livro, foram feitas de memoria.
Porque eu nao pude encontrar as fotocopias que tirei,
em 1947, das Estancias de Dzyan, publicadas na edicao
de 1915, e que nao as cito de memoria. .
Madame Blavatsky, em todo caso, nao ameacara
mais ninguem de publicar as Estancias de Dzyan. O
leitor poderia perguntar-me de onde me vem a ideia de
que as obras pertencentes as civilizacoes muito antigas,
obras, talvez, de origem interplanetaria, se encontram
nalndja^ Tal ideia nao e novarf oHnjr^uzi da no j)c£
dente por_u m personagem tap fantastico ^quant^jvla-
dame Blavatsky: Apolon i o de Tiana^ Apolonio de Tiana
foi estudado notadamente por George Robert Stow
Mead (1863-1933), que por acaso foi o ultimo secreta-
rio de Madame Blavatsky nos tres ultimos anos de sua
vida.
Apolonio de Tiana parece ter realmente existido.
Uma biografia dele foi escrita por Flavius Philostratus
(175-245 d.C). Apolonio de Tiana impressionou tanto
s eus contemporan eos _e a. posteridade que, hoje ainda ,
mvestigadores serios afirmam que jesu s Cristo jamais
e xistiu, mas que seus ensinamentos provem, na reali-
dade, de" Apolonio de Tiana^ uma tese que nao existe
49
somente entre os racionalistas. Atribui-se a Apolonio
poderes sobrenaturais que ele proprio negou com grande
energia.
Parece, entretanto, ter visto, pela clarividencia, o
assassinato do imperador romano Domiciano, em 18 de
setembro do ano 96 d.C. Certamente viajou a India.
•Morreu em idade avancada, depois dos cem anos, pro-
vavelmente em Creta.
Deixemos de lado as lendas que o envolvem e no-
tadamente aquela que diz que Apolonio de Tiana ainda
vive entre nos. Deixemos, igualmente, de lado, as rela-
coes de seus ensinamentos e o cristianismo. Mencione-
mos simplesmente, de passagem, que Voltaire o colocou
acima de Jesus Cristo, mas isto foi, sem diivida, para
atacar os cristaos.
O certo e que Apol6n io_d e Tiana afirmou existir
em seu tempo, no seculo I depois de Cristo, na India ^
extraordin arios livros antigos contendo o saber vindp .
de eras d esa pareci d as, de um passado muito recuado^ .
Apolonio de Tiana parece ter tido acesso a alguns desses
l ivros, em particular e a ele que devemos, na literatura .
hermetica, 'passagens inteiras dos "Upanishads"_e _da.
"Bhagavad Gita".
Foi ele, antes de Bailly e Jacolliot, quern langou
essa ideia que nao cessa de circular. Seu discipulo Damis
fez anotacoes sobre esses livros, mas como por encanto
as notas de Damis desapareceram. O prefaciador da
obra de Mead, Leslie Shepard, escreveu em julho de
1965, recentemente, portanto, nao estar fora de cogita-
gao que as notas de Damis aparecerao um dia. Seria
muito interessante, e antes de tudo, a historia dos ma-
nuscritos do Mar Morto prova que as reaparicoes mais
curiosas sao ainda possiveis.
50
/
. Damis f ala, no que nos resta de suas notas, de reu -
nites secretas das quais era excluido, cntre ' Apolonio
" e sabios hindu s. Descreveu, tambem, fenomenos de levi-
tacao e de producao. direta de chama's por urn efeito j ia
vontade, sem auxilio de instrumento. Assistiu fenome-
nos desse genero, produzidos pelos sabios indianos. Este s
parecem ter acolhido Apolonio como seu igual e te -lo
ensinado o que jamais teriam ensinado a qualqu er occi-
dental .
Apolonio parece ter visto as Estancias de Dzyan.
Teria trazid.o_um exemplar ao Ocidente. Quern o sabera?
,*
51
\
O SEGREDO DO ABADE TRITHEME
O abade Tritheme possui, sobre outros perso -
nagens do presente livro^ a vantagem de t g r realmgn te
existido. Nasceu em 1462 e morreu em 1516. Teve nu-
merosos historiadores, entre os quais Paul Chacomac:
"Grandeza e adversidade do abade Tritheme" (Edicoes
Tradicionais, Paris, 1963). No entanto, devo deixar
claro desde ja que nao estou totalmente de acordo com
esse eminente historiador. Nao quero absolutamente
dizer que ponho em duvida seu valor como historiador,
mas que tenho em meu poder certas informagoes que
Chacomac consideraria, talvez, secund arias, mas que
me parecem, a mim que sou especialista, ao mesmo tem-
po, em criptografia e no estudo das tecnicas desapare-
cidas, de capital importancia.
De outra parte, minhas fontes nao ultrapassam as
de Chacomac.
Isto dito, comecamos pelo comedo. O abade Jean
de Heidenberg. q ue se fez chamar abade Tritheme,
nasceu em_2 d p fevereiro de 1462, em Tritthenheim.
Entrou para a celebre universidade de Heidenberg em
1480, pa ra ai faze r seus e st udos. Ob teve certifica do de
pobreza que o dispensou djTpagar os estudo £ f Fnnrjcnj
c om Jean de Dalberg e Rudolphe Huesmann uma socie-
53
•
dade seer eta para estudar astrolog i a, a magia dos nu -
m eros, as lingu as_e~ a matematje a, " 5s participantes ado-
taram pseudonimos. Jean de Dalberg tornou-se Jean
Camerarius; ~T?iidolphe H uesmann tornou ^ e Rudolf
Agr icola; Jean de Heidenberg tornou-se Je anJIritheme^
Nao se escolhia, geralmente, pseudonimos ao acaso,
mas nao se conhece a origem dessas escolhas, salvo que
o numero tres nelas figurava visivelmente. A sociedade
YJT mesma adotou um nome secreto muito significativo:
"Sodalitas Celtica", a Confraria Celta. Aos primeiros
participantes juntou-se o judeu Paul Ricci que lhes en-
sinou a Kabala. Em 2 de fevereiro de 1482, dia em que
completava vinte anos, Jean Tritheme entra para a or-
dem dos beneditinos, no mosteiro de Saint-Martin-de-
-Spanheim. Seria mais tarde abade de Spanheim, depois
de Wurtzbourg. Sua piedade crista nao parecia duvidosa.
Sera ela quern o protegera de certas tentacoes,
quando ele se interessa pela alquimia e pela magia. Esse
interesse parece ter sido aquele de um cientista desinte-
ressado que nao busca nem riqueza nem poder pessoal.
A atitude. do abade Tritheme parece ter sido identica
aquela do conego de nossos dias, Lemaitre de Louvain,
que criou a teoria do universo em expansao e que foi
admirado pelo proprio Einstein. O que nao o impedia
de buscar nesse fenomeno suposto do universo em ex-
pansao, a prova da existencia de Deus.
Tritheme reuniu no mosteiro de Saint-Martin a
biblioteca mais rica da Alemanha, que se compunha,
essencialmente, de manuscritos. Nao gostava de livros
impressos, recentemente inventados, e que achava vul-
gares. Essa biblioteca, constituida as suas expensas,
custou-lhe mais de 1500 ducados de ouro.
Fazendo-se passar por erudito e historiador, prosse-
guiu nas buscas. Bern estranhas buscas. Buscas sobre as
54
quais cometeu o erro de escrever cartas imprudentes a
indiscretos e a invejosos que se vingariam dele, prejudi-
cando-o. Suas buscas voltavam-se a um processo para
hipnotizar pessoas a distancia, por telepatia, com o au-
xilio de certas manipulates de linguagem. A iingiiis-
tica, a matematica, a kabala e a parapsicologia se mis-
X turam estranhamente em seus trabalhos.
O livro, em oito volumes, que reunia suas bus-
cas e que continha os segredos de um incrivel poder,
chamava-se Steganographie. O manuscrito completo
desse livro foi destruido pelo fogo sob as ordens do
Eleitor Philippe, conde palatino Philippe II, que o en-
controu na biblioteca de seu pai e ficou aterrorizado.
Nenhum exemplar completo desse livro subsistiu.
Insistimos, o manuscrito que continha a chave dos maio-
res poderes foi destruido. Nao existe nenhuma copia. O
Dr. Armitage, que na novela de Lovecraft "A abomina-
§ao de Dunwich", se serve de manuscritos para decifrar
antigos codigos cifrados, foi inventado por Lovecraft
que nao acreditava, absolutamente, que seu heroi tivesse
tido uma realidade historica, e que nao teve certamente
em maos a Steganographie completa, como nenhum
outro.
Existe, entretanto, um manuscrito fragment ario
que cobre mais ou menos 3/8 da obra, a que nos repor-
taremos.
Que havia nessa Steganographie?
Citemos, primeiro, alguns testemunhos do proprio
Tri theme:
"Um dia deste ano de 1499, apos sonhar muito
tempo com a descoberta de segredos desconhecidos,
persuadido, afinal, que o que eu procurava nao era pos-
sivel, fui deitar-me, um pouco envergonhado, pela lou-
cura de querer encontrar o impossivel. Durante a noite
• 55
V
••
(em sonho) alguem se apresentou a mim chamando-me
pelo nome: Tri theme, disse-me, nao creia ser em vao
seus pensamentos. Mesmo que as coisas que procura
sejam impossiveis, a voce e a qualquer outro homem,
elas irao ao seu encontro.
■ — "Ensine-me, disse eu, o que e preciso fazer para
te-las? Entao, ele descobriu todo o misterio e me. mos-
trou que nada era mais facil."
Tritheme pos-se, entao, a trabalhar e eis aqui,
sempre de sua propria boca, o relato do que ele encon-
trou :
"Posso assegurar que essa obra pela qual ensino
numerosos segredos e misterios pouco conhecidos, pare-
cera a todos, ainda mais aos ignorantes, conter coisas
sobre-humanas, admiraveis e incriveis, visto que ne-
nhuma outra pessoa anteriormente sobre isto escreveu
ou falou antes de mim.
"O primeiro livro contem e mostra mais de cem
maneiras de escrever secret amente, e sem nenhuma sus-
peita, tudo o que quisermos e nao importa em que lingua
conhecida, sem que se possa suspeitar o teor, e isto sem
metatese nem transposigao de letras, e tambem sem ne- .
nhum temor nem duvida que p segredo possa ser conhe-
cido por alguem, a nao ser aquela a quern cabalistic a-
mente eu tiver ensinado, essa ciencia, ou aquela a quem
meu binario cabalisticamente transmitir. Como todas as
palavras e letras empregadas sao simples e familiares,
nao provocam nenhuma desconfianga e nao havera nin-
guem, por mais experimentado que seja, que possa por
si mesmo descobrir meu segredo, o que parecera a todos
uma coisa formidavel, e aos ignorantes uma impossibi-
lidade.
"No segundo livro, tratarei de coisas ainda mais
maravilhosas, que se aliam a certos meios, gracas aos
56
•
quais, de maneira segura, posso impor minha vontade
a qualquer pessoa que recebera o sentido de minha cien-
cia, o mais longe que esteja, mesmo a mais de cem
leguas de mim, e isto sem que me possam suspeitar de
empregar sinais, figuras ou quaisquer outros carac-
teres, e se uso para isso um mensageiro e que ele seja
preso a caminho, nenhum rogo, ameaga ou promessa,
nem mesmo a violencia podera obrigar esse mensageiro
a descobrir meu segredo, pois dele nao tera nenhum
conhecimento; e isto porque ninguem, por mais esperto
que seja, podera descobrir o segredo.
"E mesmo todas essas coisas, posso fazer quando
• quiser, facilmente, sem o auxilio de ninguem, nem men-
sageiro, mesmo com um prisioneiro encerrado num lugar
X tao profundo e sob guarda vigilante."
Sao pretensoes formidaveis.
Ajnaiorjparte dos historiadores do abad e Tritheme
diz q ue diss o ele nad a encontrou e que vivia de ilu-
sjks, Nao e esta nossa opiniao. Penso que Tritheme,
r ealmente. fez i
eque
Qe uma agao que ia se torna natural dos Homens de
Negro, aos quais meu livro e consagrado.
Tritheme agiu mal ao ser muito racionalista para
sua_epoca, notad amente por atacar a astrologia. Eis o
que ele disse:
"Para tras, homens temerarios, homens vaos e as-
trologos mentirosos, que enganam as inteligencias e que
fie am em frivolidades. Pois a disposicao das estrelas
nada influem sobre a alma imortal, nenhuma acao tern
sobre a ciencia natural; ela nada tern a ver com o saber
supra-celeste, pois o corpo nao pode ter poder a nao
ser sobre o proprio corpo. O espirito e livre e nao esta
submetido as estrelas, nao absorve suas influencias e nao^
57
segue sens movimentos, mas esta em comunicacao so- 1
mente com o principio supra-celeste, pelo qual foi feito
e pelo qual se tornou fecundo". — "
Nessa nota, como em muitas outras cartas e escri-
tos de Tritheme, aparece uma mentalidade absoluta-
men te racional. O que ele chama de magia natur aj^e^o
que chamamos tecnica.
' Atribui-se~a ele livr os sobre a pedra filosofal. Nao
e cefto. Os livros de Tritheme foram extensamente co-
mentados pelo alquimista ingles George Ripley que
escreveu: "Suplico aos que sabem para nao publicar".
desua morte. uma reputaca o de magico negro _
oeJLIll
zes da Inquisicao, Del Rio, perguntara por que a
iiographi e, que entretanto so circulava sob a forma de
notasji ncompletas, nao estav a e ntre os livros proibidos
censurados. Logo, livros que fazem o tema de meu tra-
balho.
Em 1610, so entao, em Frankfurt, uma prim ejra
por Mathias Becker. Tal edigao traz a indicacao "com
privilegio e permissao dos Superiores", mas nenhum
imprimatur ai figura. O que nos faz indagar de quais
Superiores se trata.
Q livro contem um prefacio qu e desa parecera em
seguida e onde se encontra uma frase ^c^riosa: "Mas,
talvez, alguem me objetara, pois se queres que esta
ciencia fique escondida, por que, entao, quiseste revelar
o sentido das cartas em questao?
"Eu te responderei que e porque quis beneficiar
com estes excelentes principios certos grupos de pessoas
dos quais fa§o parte, a fim de defende-los de multiplos
perigos, e a fim de coloca-los ao abrigo de certos aciden-
tes fortuitos".
58
I
E um ponto de vista perfeitamente razoavel. Mas
o livro, mesmo truncado, parecia ainda perigoso. Tam-
bem essa edicao, apesar de incompleta, foi incluida no
In dex pel a Congregagao do Santo Oficio, em 7 de se -
te mbro de 1609. Tal proibicao deveria durar ate 1930.
Em 1616, uma defesa do abate Tritheme, feita
pelo abade Cigisemon, do mosteiro beneditino de Ceon,
na Baviera, foi publicada. Em 1621, apareceu uma nova
edicao reduzida. Trazia igualmente a mengao "com a
permissao e de acordo com os Superiores". Desta vez,
nao podia tratar-se de superiores eclesiasticos, pois a
obra estava no Index desde 1609. Quern sao esses Supe-
riores misteriosos?
Existem em algum as b ibliotecas alguns numero s
dessa"edicao. O que se pode encontrar ai uma teoria gera l
dos codigos de transposic;ao ? tais como ainda emp regas
mos, em nossos dias, na diplomacia e na espionagem.
Um certo numero de exemplos de textos de trans-
posigao conteriam, segundo os eruditos, uma parte ao
menos dos ensinamentos contidos na edicao completa
destruida. Nenhum dos ensinamentos convence. Mais
tarde, o Padre Le Brun assinala que a utilizacao da
Steganographie comporta o uso de uma aparelhagem:
nao muitodiferente, ao que parece, de nosso radio atual.
"Ouvi dizer, muitas vezes, que algumas pessoas comuni-
cam-se segredos, a mais de cinqiienta leguas de distancia,
usando agulhas imantadas. Dois amigos tomaram cada
um uma bussola, ao redor da qual estavam gravadas as
letras do alfabeto e pretendiam que um dos dois, f azendo
aproximar a agulha de algumas letras, a outra agulha
da outra bussola, distanciada de algumas leguas, se vol-
tasse para as mesmas letras."
Isto parece muito interessante. Um aparelho desse
tipo seria perfeitamente realizavel em nossos dias, gra-
59
X
cas a transistores. Mas se os homens tivessem esse poder
no comeco do seculo XVII, teriam a vantagem de ter
em maos um meio de trans missao absolutamente inde-
tectavel e, naturalmente, sem nenhum pacto com o
demonio e sem colocar em perigo a alma de seu usuario.
Se uma sociedade se apropriou des ses segredos e
bem_ veross lmil que tenha querido gu arda-los. Isto, ela
parec e ter conseguido.
Uma outra obra de Tritheme, a Poligrafia, trata
exclusivamente das escrituras secretas, e de maneira
extremamente moderna. A obra apareceu em 1518 e
uma traducao francesa foi feita em 1561 . Foi largamente
plagiada. Nessa obra, so se trata da criptografia pura,J
sem nenhum segredo do tipo oculto. -J
Para ser mais exato, as si nalemos que, em 1515.
Tritheme publicou uma' teoria ciclica da historia d a
humanidade lembrando ao mesmo tempo a tradicao
hindu e certas teorias modernas. O livro se intitula Das
sete causas secundarias, isto e, as Inteligencias, ou Es-
piritos do mundo apos Dens, on cronologia mistica,
encerrando maravilhosos segredos dignos de interesse. A
obra e baseada nos trabalhos do cabalista e magico
Pierre d'Apone. Este inquietara de tal modo a Igreja,
que quando morreu, em 1313 em Padua, a Inquisi?ao
procurpu seu corpo para queima-lo, mas nao conseguiu
encontra-lo. Amigos de Pierre d'Apone haviam guar-
dado seu corpo na Igreja Santa Justina. Raivosa, a In-
quisicao queimou, em seu lugar, uma sua efigie.
A obra de Tritheme tern um grande interesse para
o leitor de romances de ficcao e de imaginacao moder-
nos. Foi nela, com efeito, que C. S. Lewis encontrou a
ideia dos "eldila", anjos que fazem funcioiw o sistema
solar. Isto dado, a teoria dos ciclos e admitida por
pessoas serias, e uma vez mais Tritheme nos fornece
60
>
ideias modernas. Bern entendido, nao se pode te-lo como
responsavel dos delirios que seu livro produziu, e nota-
damente da explicacao que, por volt a de 1890, dele.for-
neceu uma sociedade secreta, a Hermetic Brotherhood
of Luxor. Pode-se, entretanto, lembrar, a proposito, a
opiniao de Tritheme sobre astrologia, opiniao que cita-
mos anteriormente.
Para os que apreciam ninharias, assinalamos que
Tritheme predisse em seu livro, dando-lhe a data exata,
1918, a declaracao Balfour relativa a criacao de urn
kstado judeu em Israel, e que tal_a firmagao foi feita
400 anos antes do acontecimento.
Passemos sobre os livros desaparecidos de Tri-
theme, dos quais nao estamos certos se ele realmente os
escreveu, e voltemos a nossa hipotese relacionando-a
com a Steganographie.
Paigc ejios que Tritheme teria encontrado um meio T
m anipulando sfmboTos a partir da linguagem, de produ-
zir efeitos que podem ser constatados por outros espi-
ritos a grande distancia, e que permitiria controlar tais
espintos^ Isto parece extraordinario, mas bem possivel.
Tritheme via o mundo com olh os novos. e era perfei-
tamente capaz de teiMnventado algumacoisa mteira-
meht e^riova.
Eie mesmo nunca teve senao pretensoes razoaveis:
" Nada fiz de extraordinario^ e no entan to_corr e o boato
•de_que sou "magic^7XrX^ior parte dos jiyros_de,
magicos,naoj3ara i rmta^IpsTmas com a ideia de ref u tor
ujn^ia^SUaj^pe^^sas supe^stic_oes]\
> r ' Por isso eslotnhchniHo'a crer nos poderes perfei-
tamente naturais, nos quais Tritheme insiste, da Stega-*
uograpfaie. Um tal poder e ev ide ntemente perigosa Tri -
the me logo tornou-se p rud^mSTR ecorriendou, tambern^
| prudencia a Henri Cor nelius , diz Agrippa, que parece
61
nu nca ter sido seu discipulo, mas que o felicitava ardo
rosamente por s ua^filosofia_adulta". Ele oaco nselhou_ .
saMamente^-
" De feno aos bois, mas aos papagaios somente
acucai* '.
Quanto a Paracelso, tinha doze anos quando Tri-
theme morreu e nunca se encontrou com ele. Paracelso
nao lhe inspiraria nenhuma confianca. Quando muito
Paracelso podia ter lido seus livros. Ademais, em quem
Tritheme poderia confiar se, como sustentamos, ele real-
mente descobriu urn meio de controle telepatico a dis-
tancia. Qual papa, qual imperador seria tao sabio para
dispor de um tal poder? Compreende-se que Tritheme
se tenha calado. Compreende-se, tambem, que seu ma-
nuscrito tenha sido destruido e que as edicoes truncadas
nao podiam aparecer senao com a "autorizacao dos
Superior es".
Citemos, ainda, uma de suas cartas, e imaginemos,
por um instante, que ele dizia a verdade. "Pois est a
ci encia e um caos de uma profundidade inTinita que
nmguem pode compreender de maneira perfeita, pois
apesar de todo o conhecimento e experiencia dessa arte,
se mpre o que tivere s apr endido sera bem inferior em
quantidade a tudo o qu ejiao sabes. Essa arte profunda
e tao secreta possui, com efeito, essa particularidade,
que o discipulo tornar-se-a facilmente mais sabio que
seu mestre, se cOntudo esse discipulo estiver bem dis-
posto para progredir, e se ele mostra zelo nessas
materias contidas na Kabala hebraica. Se_algum leitor
nao se espantar com o nome, a ordem e a natureza de
• certas operagoes dirigidas a espiritos. e pensatser eu um
magico, necromante ou q ue conclui algum pacto com
( Tdemoni o, e que adoto tal ou qual supers'tiga o, julgo
conyeniente erguer um prot esto solene nes se" prefacio,
62
c dc preservar, assim, meu nome e minha honra dessa
semelhante mancha jl
O caos onde se encontra todo o saber nao e o que
ma i^aide-xhainarlamos d e inconsciente coletivo? Foi
talvez interessante que o segredo de Tritheme tenha
desaparecido, mas nao tenho duvida de que Tritheme
realmente descobriu um grande e terrivel segredo.
63
O QUE JOHN DEE VIU NO
ESPELHO NEGRO
Como o abade Tritheme, John Dee realmente exis-
tiu. Nasceu em 1527 e morreu em 1608, Sua vida foi
tap extraordinaria que foram os romancistas que melhor
o descrevera m em obras de imaginac,ao do que a maior
parte de seus biografos. Estes romancistas sao Jean Ray
e Gustav Meyrink. Matematico distinto, especialista nos
cl assicos. John Dee inventou a ideia de.j im _meridiano
de base: o meridiano de Greenwich. Levou a Inglate rra,
tendo- os_encont rado em Louvain, dois globos terrestres
de Mercator, assim como ins t rumentos de navegacao.
E foi assim o inicio da expansao maritima da Inglaterra.
Pode-se dizer, dessa forma,^- nao participo dessa'
opiniao — que John Dee foi o primeiro a fazer espio-
nagem industrial, pois levou a Inglaterra, por conta da
Rainha Elizabeth, quantidade enorme de segredos de
navegacao e fabrica^ao. Foi certamente um cientista de
primeira ordem, ao mesmo tempo que um especialista
dos classicos, e manifesta a transigao entre duas cultu-.
ras que, no seculo XVI, nao eram, talvez, tao separadas
como o sao agora.
:,
Foi tambem muitas outras coisas, como veremos.
No cursode seus brilh a ntes estudos em Cambridge, p^ s.-
-se, infelizmente para ele, a construir r obos entre ^os
.65
guais um escaravelho mecan ico q ue _ soltou durante uma_
r epresentacao teatral e que causou panico. Exnulso de
C ambridge por feiticaria, em 1547, foi para Louvain.
La. ligou-se a Mercator. Tornou-se astrologo e ganh ou
a vidajazendo hor6scop os_ 1 __ depois foi preso por c onsrn-
ragao magica contra a vida da rainha Mary Tudor. Mais
. tarde, Elizabeth libertou-o da prisao e o encarregou de
missoes jnisteriosas no continente.
IEscreveu-se com freqiiencia que sua paixao apa-
rente pela magia e feiticaria seriam uma "cobertura"
a sua verdadeira prof issao: espiao. Nao estou totalmente
convencido disto.
Em 1563 , numa livraria de Anvers, encontrou um
manuscrito, provavelmente incompleto. da Ste gano-
graphie de Tritheme. E l e a completou e pareceu ter
che gado a um metodo quase tao eficaz quanto o d g
. Tritheme,.
Publicando a primeira traducao inglesa de Eucli-
des, e estudando para o exercito ingles a utilizagao de
. telescopies e lunetas, continuou suas pesquisas sobre a
Steganographie. E em 25 de maio de 1581, elas supe-
raram todas as suas esperansas.
Um ser sobre-humano, ou ao menos nao-humanot|
envolto em luz, apareceu-lhe. John E>ee chamou-o' anjo,
para simplificar. Esse anjo deixou-lhe um espelho negro
que existe ainda no Museu Britanico. £ um pedaco de
antracite extremamente bem polido. O anjo lhe disse que
olhando naquele cristal veria outros mundos e poderia
ter contato com outras inteligencias nao-humanas, ideia
singularmente moderna. Anotou as conversacoes que
teve com seres nao-humanos^e um certo numero foi pif-
blicado em 1659 por Merictasaubon, sob o titulo "A
true and faithfull relation of what passed between Dr.
John Dee and some spirits'*.
«
66
Um cgrto numero de outras conversacoes e inedito
e os manuscritos se encontram no Museu Britanico.
A maior parte das notas tomadas por John Dee e
dos_livros que preparava, foram. como veremos, des-
truidos. Entretanto, restam-nos suficientes elementos
para que possamos reconstituir a lingua que esses seres
falavam. e que Dee chamou a lingua enoquiana.,
£ k primeira lingua sintetica, a prim eira lingua
naojmm ana de que s e tern conh ecimento. £, em todo
caso, uma lingua completa que possui um alfabeto e uma
jramatica. Entre todos os textos em lingua enoquiana
que nos restam, alguns concernem a ciencia matematica
mais avanc ada_ do que ela o estava no tempo de John
Dee_
A lingua enoquiana foi a base da doutrina secreta"
da famosa sociedade de "Golden Dawn", no fim do
seculo XIX.
Dee percebeu logo que nao poderia lembrar-se das
conyersacoes que tinha com os visitantes estrangeiros.
Nenhum mecanismo para registrar a palavra existia. Se
dispusesse de um fonografo ou de um magnetofone, o
seu destino, e talvez^do mundo, estariam m udados.
Infelizmente. Dee teve uma ideia que o levou a
• rder^s e. Entretanto, tal ideia era perfeitamente racio-
nal: enc ontrar alguem que olhasse o espelho magico _e
mantivesse conversacoes com os extraterrestres. en-
quantoqu e ele tomaria nota das conversas. Em prin-
cipio, tal ideia era muito simples. Infel izmente, os dojs
yisionarios que Dee recrutou, Barnabas Saul e Edward
Talbotty revelaram-se como grandes canalhas. Desven-
cilhou-se rapidamente de JSautf que parecia ser espiao
asoldo de seus inimigos. Talbott, ao contrario, que tro-
c ou seu nome pelo d eJCglly, ag arrou-se. Eagarrou-se
tanto que arruino u D ee, seduziu sua jrmlh er, levou-o a
67
percorrer a Europa, sob o pretexto de fazer dele u m
alquimi sta a _e acabou por estragar sua vida. Dee mor reu,
Y malmente, em 16 08^airm nado e completamente desa -
creditado._ j O _Rei James I, que sucedera a Elizabeth,
recusou-lhe uma pensao e ele morreu na miseria. A unica
consolacao que se pode ter e de pensar que Talbott.
alias Kelly, morreu em fevereiro de 1595, tentando esca -
par da prisao de Praga. Como era muito grande e gordo,
a corda que confeccionara rompeu-se e ele quebrou os.
bra cos e as pernas. Um justo fim a um dos mais sinis-
tros _crapulas que a historia conheceiL
Apesar da prote?ao de Elizabeth, Dee continuou
a ser perseguido, seus manuscritos foram roubados assim
como uma grande parte de suas anotacdes.
Se estava na miseria, temos que reconhecer que*
parcialmente a merecera. Com efeito, apos ter explicado
a Rainha Elizabeth da Inglaterra que era alquimista,
solicitara um amparo financeiro. Elizabeth da Inglaterra
~ disse-lhe, muito judiciosamente, que se ele sabia fazer
o ouro, nao precisava de subvencdes, pois teria suas
proprias. Finalmente, John Dee foi obrigado a vender
sua imensa biblioteca para viver e, de certo modo,
morreu de fome.
A historia reteve sobretudo os inverosslmeis episo-
dios de suas aventuras com Kelly, que sao evidentemente
pitorescos. Vimos aparecer ai, pela primeira vez, a troca
de mulheres que, atualmente, e tao popular nos Estados
^ Unidos.
Mas essa estatuaria de Epinal obscureceu o verda-
deiro problema, que e o da lingua enoquiana, a dos
livros de John Dee que nunca chegaram a ser publi*
cad os.
Jacques Sadoul, em sua obra "O Tesouro dos Al-
quimistas", nesta mesma colecao, conta muito bem a
68
parte propriamente alquimista das aventuras do Dr. Dee
e de Kelly. Recomendo-o ao leitor.
' Voltemos a linguagem enoquiana e ao que se se-
guiu. E falemos primeiro da perseguigao que se abateu
sobre John Dee, desd e qu e comgcou a dar aentender
qu e public aria suas e ntre vistas com "anjos" nao-huma -
nos.,Em J597^emjua ausencia, desconhecidos excitar
ram a multidao a atacar sua casa. Quatro mil obras
ra ras e cinco manuscritos desapareceram definitiva i
mente, e_ jurmerosas ^ notas for am queimadas. Depois a
perseguigao continuou apesar da protecao da Rainha da
Inglaterra. Foi, ■finalmente, um homem alquebrado, de-
sacreditado, como o seria mais tarde Madame Blavatsky,
que morreu aos 81 anos de idade, em 1608, em Mor-
tlake. Uma vez mais a conspiracao dos Homens de
Negro parece ter vencido.
A excelente enciclopedia inglesa "Man, Myth and
Magic" observou muito oportunamente em seu artigo
sobre John Dee: "Apesar de os documentos sobre a vida
de John Dee serem abundantes, fez-se pouca coisa para
explica-lo e interpreta-lo." Isto e verdadeiro.
Ao contrario, as calunias contra Dee nao faltam.
Nas epocas de supersticao afirmava-se que ele faria ma -
gia negra. Em nossa epoca racionalista pretendeu-se que
seria um espiao, que fazia alquimia e magia negra pa ra
camuflar suas verdadeiras atividades, Tal tesel notada-
mente a da enciclopedia inglesa que citamos acima.
Entretanto, quando examinamos os fatos, vemos
primeiro u mjimner a bem dotado, capaz~de trabalhar 22
horas aq^dia ^leitor rapido. mat emfltico de. primeira or-
dem. Ademais, ele construiu automatos, foi um especia -
fi sta de optica e de suas apl icacoes militares, da quimica.
Que_Jg i ingenuo e cre\iulo, _g_posslv el. A histori a
de Kelly o mostr a. Mas que fez uma importante desco-
69
berta, a mais importance, talvez, da historia da hum a-
nicfadernao esta totalmente excluso. Parece-me possiv el
contudo^qu eJDee tenha .tornado contato, por telepatia
ou" clanv iclenda^. ou outro rneio parapsicologico, co m
seres nao-humanos. Era natural, dada a mentalidade
da epoca, que el-e atribuisse a esses seres uma on gem
angelica, em vez de faze-los vir de outro planeta qu_d e
outra dimensap. Mas comunicou-se bastante com eles
para aprender uma lingua nao-humana.
A ideia de inventar uma lingua inteiramente nova
nao pertencia a epoca de John Dee e nem de sua men-
talidade. Foi muito depois que Wilkins inventou a pri-
meira linguagem sintetica. A linguagem enoquiana e
completa e nao se parece com nenhuma lingua humana.
£ possivel, evidentemente ^jy ie Dee a tenha tirado.
int egralmsnt e de seu subconsciente ou inconsciente__g fl-
letrvo, m as tai nip otese e tao fantastica quantoa da
comunicacao com seres extraterrestres. Infelizmente, a
partir da intervene!© de Kelly, as conversacoes estao
visivelmente truncadas. Kelly inventa-as e faz dizer
aos anjos ou espiritos o que lhe convinha. E do ponto
de vista de inteligencia e imaginacao Kelly era pouco
dotado. Possui-se notas sobre uma conyersacao onde
pede a um dos "espiritos" cem libras esterlinas durante
quinze dias.
Antes de conhecer Kelly, entretanto, Dee publicara
um livr o estranho: A Monada Hieroglifica. Trabalhoj
j jesse livfo sete anos, mas apos ter lido a Steganographie,
terminou-o em doze dias. Um hornem deJEsti
;
temporaneo, SirWilliam Cecil declarou qu ej_J!Qs__s£-
gredos que se encontram na A Mon ada Hieroglifica
sao da maior importancia para, a se-guranga d o 'reino" .'
Certamente, quer-se ligar tais ■ segredos a cripto-
grafia, o que e bastante provavel. Mas quando se quer
70
relacionar tudo em John Dee com a hipotese de espio-
nagem, isto me parece excessivo, pois os alquimistas e
os magicos utilizavam muito a criptografia, sob as for-
mas mais cdmplexas que nao eram usadas pelos espioes.
Tenho tendencia a tomar Dee ao pe da letra e pensar
que, por auto-hipnose produzida pelo seu espelho, ou
por outras formas, ele ultrapassou • uma barreira entre
os planetas ou entre, Outras dimensoes.
Por desgr^ca, ele era, por propria confissao, despro-
vido de todos os dons para-normais. Foi mal aceito pelos
"mediuns" e isto terminou em desastre.
Desastre alias provocado, explorado, multiplicado
pelos "Superiores" que nao queriam que ele publicasse
as claras o que disse em codigo na A Monada Hierp-
glifica. A persegui9ao de Dee comecou em 1587 e so
parou com sua morte. Exerceu-se alias tambem no con-
tinente, onde o rei da Polonia e o Imperador Rodol-
fo II foram advertidos contra Dee por mensagens
"vindas dos espiritos", e onde, a 6 de maio de 1586,
o nuncio apostolico entregou ao imperador um do-
cumento acusando John Dee de necromancia.
Foi um homem acovardado que chegou a Xngla-
terra, renunciando a publicar, e que morreu como reitor
do Colegio de Cristo, em Manchester, posto que teve
de 1595 a 1605 e que, ao que parece, nao lhe deu satis-
\ fagao.
Resta ainda, a respeito desse posto T um problema
nao_je §olvido. N a mes malep oca o tzar da Russia con -
^d ou John Dee para it ate Moscou. a titulo de conse -
lheiro cientifico. Ele deveria receber um salario de dua s
mil libras esterlinas ao a ao ^quantia a lta correspondente
a um pouco mais de duzentas mil libras hoje. com mo -
radia •r£mcipe sca L e uma situacao que, de acordo com a
carta do tzar, "faria dele um dos homens m ais impor-
71
t antes da Russia". Entretanto, John Dee recusou. Eliza-
beth da Inglaterra teria se oposto? Teria ele recebldo
ameacji s?
Nao se sabe, os documentos sao vagos. Em todo
caso ,'as diversas calunias segundo as quais ; Dee, comn le.-
tamente dominado por Kelly, percorrera o continente es-
poliando^r jncipes e ricos, uns apos outros, perdem sua
razao de ser quando se considera esta recusa. Talvez
temesse que o tzar o obrigaria a empregar segredos que
havia descoberto e tornasse, assim, a Russia domina -
do ra do mundo .
O que quer que seja, Dee se apresenta a nos como 1
um homem que recebeu visitas de seres nao-humanos,
que aprendeu sua linguagem e procurou estabelecer com
eles uma comunicagao regular. O caso e unico, sobre-
tudo quando se trata de um homem do valor intelectual I
de John Dee. ;; J
Infelizmente, nao se pode deduzir nada, a partir
do que Dee nos deixou, do lugar onde habitariam taTs
seres, ou a natureza psiquica deles> Disse, simplesmente.
que sao telepatas e que podem viaiar no passado e no
lutura fe a pri mira vez, que eu saiba, que aparece a
ideja de viaiar no tempo.
Dee esperava aprender desses seres tudo sobre as
feis naturais, tudo sobre o desenvolvimento futuro da
matematica. Nao se tratava nem de necromancia nem de
espiritualidade. Dee tinha a posicao de um sabio que
queria aprender segredos de natureza essencialmente
cientifica. Ele mesmo descreve-se, a todo instante, como
filosofo matematico. J
A maior parte das notas desapareceu no incendio
de sua casa, outras foram destruidas em outras oportuni-
dades e por pessoas diferentes. Restam-nos algumas alu-
soes contidas na "A verdadeira relacao de Cas aubon' *
72
e em certas notas que ainda existem. Tais indicacoes
sao extremamente curiosas. Dee afirma que a projecao
deJMercator nao e senao u ma primeira aproximacao.
Segundo ele a Tp.rra. ng<v£ pxatamente red onda, e seria.
co mgosta de varias e sfe ras superpostas alinhadas ao
longo de uma outra dimensao .
Entre essas esferas haveria pontos, ou antes, super-
ficies de comunicacao, e assim e que a Groenlandia se
estende ajiinfi riito sobre outras terras alem da nossa. Por
isso 1 jns iste Dee nas varias suplicas a Rainha Elizabeth,
s eria bom que a Inglaterra se apoderasse da Groenlan-
dia de maneira a tef em sua s maos a porta para outros
mundos. ~~ .
Outra indicacao: as matematicas nao estao senao
no comeco e pode-se ir alem de Euclides, que Dee, lem-
bramos, foi o primeiro a traduzir para o ingles. Dee teve
razao ao afirmar isso, e as geometrias nao-euclidianas
que apareceriam mais tarde; confirmam seu ponto de
vista. J
■
£ possivel, diz igualmente Dee, construir maquinas
totalmente automaticas que fariam todo o trabalho do
homem. Isto^^aeresc enta. ia foi realizado por volt a_de
1585 — gostanamos muito de saber onde.
Insiste, igualmente, na importancia dos numeros
e na consideravel dificuldade da aritmetica superior.
Uma vez mais, teve razao. A teoria dos numeros revelou-
se como sendo o ramo mais dificil das matematicas, bem
mais que a algebra ou a geometria.
E muito importante, notou John Dee, estudar os*"
sonhos que revelam, ao mesmo tempo, nosso mundo in-
terior e mundos exteriores. Esta visao, a moda de Jung,
e muito avancada para a sua epoca. £ essencial, notava
ainda, esconder da mass a segredos que possam ser extre-
mamente perigosos. Encontra-se, ainda ai, uma ideia
73
moderna. Como se encontra outra com relacao a esse
tema no jornal particular de Dee: saber que se pode tirar
do .conhecimento da natureza poderes perfeitamente na-
tural s e ilimitados, mas que e necessario empregar muito
dinheiro nessa pesquisa.
Foi para ter esse dinheiro que procurou a protecao
dos grandes, e a f abricagao do ouro. Nenhuma nem outra
foram conseguidas. Se pudesse encontrar um mecenas,
X o mundo estaria bem mudado.
Entre todos os que encontrou, conheceu William
Shakespeare (1564-1616)? Creio que sim. Um certo nu-
mero de criticos shakespearianos estaO: acordes ao adn^i-
tir que John Dee e o modelo do personagem Prospefo,
na "Tempestade". Ao contrario, nao se encontrou, ain-
da, que eu saiba, anti-shakespearianos bastante loucos
para imaginar ser John Dee o autor das obras de Sha-
kespeare. Entretanto, Dee me parece ser melhor candi-
date a esse titulo que Francis Bacon. J
. * Nao posso resistir ao prazer de citar esta teoria
do humorista ingles A. A.- Milne. Segundo ele, Shakes-
peare escreveu nao so suas proprias obras como tambem
o "Novum Organum" para o conde de Francis Bacon,
que era completamente iletrado! Tal teoria levantou em
ira os baconianos, isto e, aqueles que pretendem ter sido
Francis Bacon o autor das obras de Shakespeare.
Passando para outra lenda, John Dee jamais tra-
duziu o livro maldito "Necronomicon", de Abdul _A1-
-Azred, pela simples razao que tal obra jamais existiu .
Mas, como bem disse Lin Carter, se o "Necronomicon"
tivesse existido, Dee seria, evidentemente, o__ unico
homem a poder encontra-lo e traduzi-lo !
Infelizmente, esse "Necr on omicon" foi inventa do
jnteiramente p or Loyecraft,jiue me conf irmou esse fato
por carta. Q ufc lastima!
74
*
/ A pedra negra, vinda de outro universe, apos ter
I sido recolhida pelo Conde de Peterborough, depois por
Horace Walpole, encontra-se, agora, no Museu Brita-
nico. Este nao autoriza, nem que se possa usa-la, nem
que se faca nela qualquer tipo de analise. Isto e lamen-
tavel. Mas se as analises do carvao de que e feita essa
pedra dessem um composto isotopo que nao o do carvao
da Terra, provando que essa pedra teria origem fora
dela, todo mundo ficaria fortemente embara5ado.
A Monada Hkroglifica de Dee pode ser encon-
trada ou obtida por fotocopia. Mas sem as chaves que
correspondem aos divers os codigos da obra, e sem os
outros manuscritos de John Dee queimados em Mor.t-
lake ou destruidos sob as ordens de James I, ela nao
pode servir para grande coisa. Entretanto, a historia do
Dr. John Dee nao acabou e dois capitulos ser-me-ao
necessarios para continua-la.
X
75
6
O MANUSCRITO VOYNICH
O Dr. John Dee era urn colecionador encarnicado
d e manuscntos egtr an^Q ^ Foi ele que, entre 1584 e
T5 88, ofereceu ao Imperador Rodolfo II o estranho
manuscrito Voynich,.
A historia desse manuscrito foi contada muitas
vezes, e em particular por mim mesmo no "O Homem
Eterno" 1 e no "Os Extraterrestres na Historia". 2 Penso,
entretanto, que sera util conta-la desde o inicio.
O Duque de Northumberland havia pilhado unf
grande numero de mosteiros sob o reinado de Henrique
VIII. Num deles encontrou um manuscrito que sua fami-
lia comunicou a John Dee, cujo interesse por problemas
estranhos e textos misteriosos era bem conhecido.
Segundo os documentos encontrados, tal manuscrito
havia sido escrito por Roger Bacon. Roger Bacon (1214-
-1294) era considerado pela posteridade como um
grande magico. Com efeito, ele se interessava sobretudo
pelo que chamamos experimentacao cientifica, da qual
foi um dos pioneiros. J
Predisse o microscopio e o telescopio, os navios
com propulsao a motores, os a utomoveis e as maq uinas
voadoras.
1 Ediijao Gallimard (Paris).
2 Nesta mesma Colegao, edigao HEMUS.
77
Interessava-se, igualmente, pela criptografia da
qual falou na "Epistola sobre as obras secretas da arte
e a nulidade da magia". Dee podia p ensar, perfeita -
mente, que urn tal manuscrito inedito e cifrado po r
Roger Bacon podia conter espantosos segredos. Seu
filho, Dr. Arthur Dee, falando da vida de John Dee
°£m fraga, cita " urn livro contendo um texto incompreen^
give! que meu pai tentou em vSo decifrar". Dee ofereceu,
b manuscrito ao Imperador Rodolfo. Apos multiplas/
atribulacoes, o documento parou no livreiro Hans IL
Kraus, de Nova Iorque T onde foi vendido em 1962,. pela
modica soma de 160.000 dolares. Nao € caro se tal
livro contem todos os segredos do mundo, e muito caro
se resumir, simplesmente, os conhecimentos do seculo
XIII.
Falamos ja do papiro egipcio que devia fornecer r
em principio, "todos os segredos das trevas", e que indi-
cava, unicamente, o metodo de resolucao de equacoes
do primeiro grau. E preciso desconfiar, mesmo do ma-
nuscrito Voynich. Penso, de minha parte, que esse
manuscrito Voynich serve como bom exemplo de livrq
maldlto que escapa a destruicao, unicamente porque nao
se c hega a decifra-lo, e porque nao constitui, por iss o,
um perigo imediato.
Aparece em forma de brochura de 15 por 27 cm,
sem capa e, segundo a pagina§ao, faltando 28 paginas.
O texto e colorido em azul, amarelo, vermelho, marrom
e verde. Os desenhos representam mulheres nuas, de pe-
queno talhe, diagramas (astronomicos?) e quatrocentas
plantas imaginarias. A escrita parece uma escrita medie-
val corrente. O exame grafologico permite concluir que
o escriba conhecia a lingua que utilizava: copiou-a de
maneira corrente e nao letra por letra.
78
Q codigo empreg adp parece simp les, mas nao se,
encontra maneira de decifra-lo.
O manuscrito apareceu em 19 de agosto de 1666,
quando o reitor da Universidade de Praga, Johannes
Marcus Marci, enviou-o ao celebre jesuita Athanase
Kircher que era, entre outras coisas, especialista em
criptografia e em hieroglifos egipcios, e em continentes
desaparecidos. Era o homem a quern se deveria ter en -
yiado o texto, re ahrie nte, mas g le_ nao eonseguiu _decij
fra-lo.
Q manuscrito foi, em seguida, estudado pelo sabio
tcheco J oha nnes" de Te penecz, fav orito de Rodolfo II .
Encontra -se jjrna assinatura de"Tep e necz na margemT
mas tambem este nao decifrou o manuscrito. Kircher,
tendo_ malogrado, guardou o m a nuscrito numa biblio-
teca jesuita. Em 1912, urn livreiro chamado Wilfred
Voynich comprou o manuscrito da escola jesuita de
Mondragone, em Frascati, Italia. Levou-o aos Estados
Unidos, onde muitos especialistas tentaram descobrir seu
segredo. Nao chegaram a identificar a maior parte das
plantas. Nos diagramas astronomicos, foram identifica-
das as cohstelacdes de Aldebaran e Hyades. o que nao.
mudou muita coisa. A opiniao geral e de que o texto
esta cifrado, mas numa linguagem desconhecida. Os fa-
mosos arquivos do Vaticano fora m aber tos para auxiliar
a procura. Nada se encontrou.
Numerosas fotografias cireularam, foram remeti-
das a grandes especialistas. Nada.
Em 1919, fotocopias chegaram a William Romai-
ne Newbold, deao da Universidade da Pensilvania. New-
bold tinha, entao, 54 anos. Era especialista em linguis-
tica e criptografia.
Em 1920, Franklin Roosevelt, entao assistente no
Ministerio da Marinha, agradece-lhe por decifrar uma
79
correspondencia entre espioes, cujo segredo nao pudera
ser percebido por nenhum dos escritorios especializa-
dos de Washington. Newbold interessava-se, mais e
mais, pela lenda do Graal e pelo gnosticismo. Era visi-
velmente um homem de grande cultura, capaz, se alguem
no mundo fosse capaz, de decifrar o manuscrito Voy-
nich.
Trabalhou durante dois anos. Pretendeu ter encon-
trado uma chave, depois te-la perdido no curso das pes-
quisas, o que e singular. Em 1921 comecou a fazer con-
ferencias sobre suas descobertas. O menos que se pode
dizer de tais conferencias e que foram sensacionais.
Segundo Newbold, Roger Bacon sabia que a ne-
bulosa de Andromeda era uma galaxia como a nossa.
Sempre segundo ele, Bacon conhecia a estrutura da
celula e a formacao do embriao a partir do esperma
X e do ovulo. A sensa5ao era mundial.
Nao somente no meio cientifico, mas entre o grande
publico. Uma mulher atravessou todo o continente ame-
ricano para suplicar a Newbold que expulsasse o demo-
nio que a perseguia, utilizando as formulas de Roger
Bacon.
Ha tambem objegoes. Nao se compreende o metodo
de Newbold, tem-se a impressao de que ele caminhava
para tras, nao se conseguem novas mensagens utilizando
seu metodo. Ora, e evidente que um sistema de cripto-
grafia deveria funcionar nos dois sentidos. Se se possui
um codigo, dever-se-ia decifrar mensagens que estao
nesse codigo, mas dever-se-ia, tambem, traduzir nesse/
codigo mensagens em claro. A sensagao continuou, mas
Newbold tornava-se cada vez mais vago, menos acessi-
vel. Morreu em 1926. Seu colega e amigo, Roland
Grubb Kent, publicou seus trabalhos. O entusiasmo do
mundo foi consideravel.
80
-
Depois, uma contra-ofensiva comegou, conduzida ,
em particular pelo Padre Manly. Nao estava de acordo
com a decifracao de Newbold. Pensava que certos signos
auxiliares eram deformacoes do papel. E bastante de-
pressa nao se falou mais nesse manuscrito.
£ entao que me separo de numerosos eruditos que
estudaram a questao, e especialmente David Kahn, cujo
admiravel livro "The Code-Breakers" e a biblia moderna
dos peritos em criptografia. Aproveito a ocasiao para
agradecer a David Kahn ter citado uma de minhas aven-
turas pessoais no domlnio da criptografia. Tendo, du-
rante a ocupacao alema, necessidade de cinco tipos gra-
ficos para terminar um trabalho, e encontrando-me a
frente de jovens que fumavam como bombeiros, e que
haviam sido privados de sua droga, acrescentei em
minha mensagem as letras T A B A C. Londres com-
preendeu e 150 quilos de tabaco cairam sobre nossas
cabecas, de para-quedas, logo na lua seguinte.
A hipotese que vou emitir e pessoal. Parece-me,
pelo menos, que nunca vi em nenhum lugar e que, igual-
mente, ja li tudo, sobre o manuscrito Voynich. Para
mim, Newbold apagou a pista consciente me nte J __pois
t eria reeebido ame a^TTinha relag oe s muitoestraahas
comj odos os tipos dese itas. Sabia bastante para engen-
der que certas organ iza coes_secretas sao realmente per i^
gosas^ E estou persuadido que, a partir de 19237foi
ameacado, e, temendo graves represalias, d eu um_BaasQ
para_tras. Dissimulou o essencial deseu metodo, e sua_
chave pr in cipal nunca foi encontrad a^
Antes de examinarmos o que penso sobre o con-
teudo do manuscrito de Voynich, e preciso primeiro re-
sumir, rapidamente, as tentativas de decifracao poste
riores a Newbold. A maior parte sao ridiculas. Mas, a
rSu-psef rwjansro august?) rvn omh brag*
Regbiro K 8 -- - - —
partirde 1944, urn grande especialista em criptografia.
militar, William F. Friedman, morto em 1970, ocupou -
se dessa questao: Utilizou um ordenador do tipo R. C. A.
' 301. Segundo Friedman, nao so a mensagem e cifrada,
mas esta numa linguagem totalmente artificial. Como _a
lingua enoqui ana de J ohn Dee. E uma hipotese interes-
sante que, talvez, sejiTum diaprovada.
Apos a morte de ^pynich em 1930, os herdeiros de
sua mulher venderam o manuscrito a livraria Kraus.
Esta disponivel por 160.000 dolares. A meu ver, s e o
man uscrito realmente interessou John Dee 6 porqus ele,
recon heceu. como na Steganograohie de Tritheme, o c&-
digo de uma linguagem que ele conhecia e que nao ej a»
talvez, uma linguagem humana. Roger Bacon, como ou-
trosant es e depois dele, teve aces so a nm saber que pro-
vmha, seja de uma civilizacao desaparecida, seja de
outras inteligencias. Ainda uma vez, alguns pensaram,
e pensam ainda, que uma revelacao que ve nha muito
cedo, relativa a segredos de uma ciencia superior a nos-
s a, destruiria nossa civilizacao.
ffesse caso. perg untar je-a. por q ue o manuscrito
de Vovnich nao foi destruido ? A meu ver, percebeu-se
muito tarde sua existencia, por volta de 1920. e entao
ja circulava tal numer o de fotografi as do texto que _serla
Impossivel destrui-las todas. fTlTprimeira vez que~a
fotografia intervemlium caso de livros ma lditos, e.p ar
rece, certamente, que elaj/ai torna r diticil, pos terior-
Sente, a taT3a~a^sHome^Qc Negro. Uma vez"as foto ;
g ratia
w silenciar Newbold e is to sem despertar suspeitas.
Por isso ele nao sofreu nenhum "acidente" el
morreu naturalmente. Mas a campanha que visava desa- |
credita-lo e produzir tradu§6es ridiculas do manuscrito [
foi muito bem organizada. J
82
1
i.
s
*
Notemos, de passagem, para pessoas que se interes- |
sam = pelo planejamento familiar que uma dessas falsas
traducoes, a do Dr. Leonell C. Strong, extraiu do ma-
nuscrito Voynich a formula publicada de uma pilula
anticoncepcional. Mas o verdadeiro problema perma-
nece. —
Um dos objetivos da revista americana INFO, con-
sagrada as informacoes de dificeis solucoes, consiste
na decifracao do manuscrito Voynich. Ate hoje, tal
objetivo nao progrediu muito. Parece-me que seria con-
veniente entregar-se mais ao manuscrito Voynich, e me-
nos a outros problemas desse genero. Ouer se tratasse
dos manuscritos de Tritheme ou dos escritos incompletos
de John Dee. No caso do manuscrito Voynich par ege,
tratar-se de um texto proibido completo Entre as pou -
cas f rases que se enco nt ram nas pubiicacoes de New-
told,~uma faz, particularmente, sonharJ ^RogeTBacon
quern fa la: "Vi nUm espelho concavo uma estrela e m
foTmT ge^escaravelho. E lase_e ncontra entre o umbigo
' de Pegaso7o_busto de A ndromeda e a cabe§a de Cassio-
peia.
goL exatamente ali que^se descobriu a nebulosa de
Andromeda, a primeira g rande nebulos a extragalatica "
q ue se conheceu. A prova foi anunciada a p os a publi-
cayao de Newbold que nao pode ter sido influenciado
em sua interpretacao do texto por um f ato q ue ainda nao
fora descoberto.
Outras frases de Newbold fazem alusao ao "Se-
gredo^das estrelas novas". ~ ~
Se realmente o manuscrito Vovnich contem os se~
gredos das novas e dos quasars, seria preferivel qu e fi-
casse ind e eif ravel, pois uma fonte de energia^ uperior k
da bomba de hidro genio_e sufitientemente sim ples de
manejar para que umliblnem do seculo XIII possa com-
83
%
>
p reende-la, constituiria exatamente um tipo jl g segredo
que nossa civilizacao nao tern necessidade de conhecer.
Sobre yjyemos, penosamente, porque foi possivel conlg r
a bomba fa. Se e possivel liber ar energias superior es, e.
melhor que nao saibamos como, nao ainda. Senao, nossq
planeta desaparec eria bem mais depressa na chama bre-
ve e brilhante de uma supernova.
A decifragao do manuscrito Voynich deveria se r,
a meu ver. sejuid a^ dg^uma censura seria antes~desua
publicacao. Mas quern aplicaria tal censura? Como diz
opro yerbio latino, quern giiardara os guardiaesT^ Fex-
gunto-me se nunca se submeteu fotocopia do manus -
crito Voynich a um grande intuitivo do tipojde Edgar
Cayc e, que poderia traduzi-lo sem usar o laborioso pro -
c esso de decifracao. Seria suficiente que ele encontrasse
a chave, e os ordenadores fariam o resto. Pode-se en-
contrar uma foto de uma pagina do manuscrito Voynich,
na pagina 855 do livro de David Kahn, ja citado, edicao
inglesa Weidenfeld e Nicholson. Nao se pode, evidente-
mente, deduzir dela o que quer que seja. Simplesmente,
fica-se espantado com o niimero de repeticoes. Tais re-
peticoes foram alias notadas por inumeros especialistas
de criptografia que tiraram dai conclusoes contradito-
rias.
Mas o simples fato de se poder encontrar tais foto-
grafias represents ja uma vitoria contra os Homens de
Negro. E seria desejavel que qualq uer j)essoa que tenha
um documento desse tipo o difundjsse, por fotografia,
de maneira a mais ampla possivel, evitando, dessa for-
ma, sua destruicao. Se a franco-maconaria europe ia
to masse tal precaucao antes da g uerra de 1939-1945,
d ocumentos unicos nao teriam sido destruidos. Tal des-
truicao de documentos macons foi efetuada por coman-
dos especiais. Cada u m desses co mandos era dirigido por
84
um nazista assistido por franceses.
daos do pais onde a destruiqao se efetuava. Tais comari-
dos eram muito bem treinados. E e de se notar que os
franceses que deles participaram foram beneficiados
com imunidades bem estranhas durante a depuracao que
se seguiu a libertacao de 1944. Imunidade singular com
efeito, nao se aplicando a nao ser a esse tipo de colabo-
ragao. Enquanto colabora dores^exclusi vamente intelec-
tuais, cbmo o poeta Robert Brasillach, for a m duramente
eastigados, especial istas da acao antimaconica nao fo-
ram tocados.
Voltando ao manuscrito Voyaich, tenho excelen-
tes razoes para crer que uma versao desse manuscrito
foi destruida. Com efeito, Roger Bacon tinha em sua
posse um documento que.' segundo ele r p ertencera ao
KeTSalo mao a mn tinha as chaves de grandes misterios.
Esse livro, const itu ido de rolos de pergaminho, foi quei-
mado em 1350 por ordem do Papa Inocencio VL_ A_
razao que se deu foi que t a l documen jo_c ontinha *um
metodo para invocar de monios.
Podemos substituir demonio por anjo, e anjo por
ex traterrestre , e compreender entao muito bem a raz ap
dessa destruicao . £ provavel que se a igreja catolica, em
1350, achasse o manuscrito Voynich, te-lo-ia queimado.
Mas sabemos, agora, que estava escondido numa
abadia, e que so com a pilhagem dessa abadia pelo
Duque de Northumberland e que o manuscrito reapare-
ceu, e foi levado ao conhecimento de John Dee. Se-
gundo algumas notas de Roger B acon, n dnp.nTr if>n,tr»
que ele tinha e que provinha de S alomao, nao estava em
codigo mas em escrita hebraica. RogerJ Bacon notoiL
que o documento tratava rna is de f ilosof ia natural_que
de magia. " \
85
Bacon escreveu tambem: "Aquele que escreve a
respeito de segredos, de forma nao escondida ao vulgo,
e um louco perigoso." Escreveu em 1250 mais ou me-
nos. Explicou em seguida esse metodo de escrita secreta
que comporta a invencao de letras que nao existem em
•nenhum alfabeto. Provavelmente foi o que fez para tra-
duzir em codigo o que se poderia chamar de documento
Salomao, mas que e mais comodo chamar manuscrito
Voynich.
A lingua basica desse manuscfito e. provavelmente .
a mesma lingua enoqu iana que John Dee aprendeu.
atr ayes de seu espelho negro, e da qual ouviremos falaf
muito no capitulo seguinte, sobre a ordem da Golden
Dawn.
• Encontram-se, ja, tracos desse livro em Flavio Jo-
sef o. £ preciso nao confundi-lo com a . "Cla yicula de
Salomao" ou com "Testamento de Salomao", oucom _Q_
JLem e geton". Todas essas compilacoes datam do seculo
XVI e algumas do seculo XVIII.
A maior parte 6 totalmente desprovida de inte-H
resse e da simplesmente listas de demonios. J
O "Livro de Salomao", que pertenceu a Roger Ba-
' con e foi queimado em 1350, era, certamente. outra
colsa. Se r ia essa obra, assim como algumas outras "f an-
tes in suspeitadas e interditas" como disse L ovecraft, g ue
Roger Bacon tradu ziu numa l ingua descbnriecida, e que
em seguida codificou. O infeliz Newbold, provavelmente
ameacado e_ater Torizado T teve que mven tar metodos de
decifracao e manter o mito de que o texlo est ava escritq
em latim, apesaTde nao esta rem fatim, certamente^
mas em lingua enoquiana.
Como Bacon obteve esse documento? Nao se pode,
por_pja,^sen ao sonhar .ej iagjnar que OS Homens de Ne-
gro nao constituem um gTupo monolitico, mas que entre
86
eles alguns querem revelar os segredos, e o conseguem
ao menos parcialmente. Pode-se imagmar, tambem, que
esses Homens de Negro formam uma organizacao terres-
trelo calizada, que s eres extraterre stres por vezes apare-
c em para auxilia-los ^ ET gostana, a proposito, de ch amar
a atencao para o caso de Giordano Bruno.
Os racionalistas ligaram-se a esse martir. e fizeram
dele u rn homem de ciencia, vitima de tendencias as mais
reacionarias da Igreja. Nada mais f also. Giordano Bruno
era_princi palmente um magico apai x onado pela magia_$
g raticante~de mag ia^ Com parou a magia -a uma espada
q ue, entre as maosde um^Eomenv direito^ podia fazer
mi jagres, e insistiu sobre Q ^PgEgL das tnatem at icas na
m agia._ Para ele, a ex i stenc iajd eoultros p lanetase Trota?
cao da Terra ao redor do Sol constitui uma parte secun-
daria de sua obra que compreende sessenta e um livros,
a maior parte de magia. A e xistencia de outros planet as
nabitados f az, para ele, par te da magia._Porque sabia
mmtos obre isso foi que, atraido para Veneza por um
age ntelTa Inquisigao de nome Giovanno Mocenigcyf oi^
entregue aos seus chefe s^
Porque cria na magia e na existencia de habitantes"]
em outros planetas alem da Terra, Giordano Bruno foi \
julgado herege impertinente e persistente, e queimado
em Roma, no Campo dei Fiori, em 17 de fevereiro de
1600. Viveu na Inglaterra de 1583 a 1585, e nao esta
excluida a hipotese de ter conhecido os trabalhos de
John Dee e o manuscrito Voynich. Segundo t'odos OS
registros que temos de Giordano Bruno, ele era urn
homem confiante e imprudente. Visivelmente, ele falou
demais. -
8*7
O MANUSCRITO MATHERS
O jnanuscrito Mathers, como a Steganographie e o-
manuscrito Voynich, esta em codigo. Mas tem o bom,
gosto de estar em codigo de dupla transposicao relativa-
mente simples, o que permitiu sua liecifracao rapida.-
mente. Vi muitas folhas dessa decif racao que me pareceu.
correta. Es sa decif ragao mostra_ a aventura oculta mais
^xtraordinaria_ dg_riossa_^o ca, a da Ordem da Golden,
Dawn.
Mostra. tambem, a redacao de um conjunto de
do cumeritos magicos. logo malditos. que, pelo que seL
nunca foi publicado. mas que ja provocou muitas catas-,
Jrofes^
Comecemos do initio.
Um clerigo ingles, Rev. A. F. A. Woodford, passea-
va em Londres, ao longo da Farrington Street. Entrou
na loja de um vendedor de livros de ocasiao e'ai encon-
trou manuscritos cifrados e uma carta em alemao. IstO'
se passou em 1880. O Rev. Woodford comecou lendo a
carta em alemao. Essa carta dizia que aquele que deci-
frasse o manuscrito podia comunicar-se com a sociedade-
secreta alema ^Sapien s, Donabitur Astris" (S. D. A.),
atraves de uma mulher, Anna Sprengel. Outras informa-
89-
goes lhe seriam, eritao, comunicadas , se ele fosse digno
delas.
O Rev. Woodford, ma$on e Ros^Cruz, falou 'de
sua descbberta a Hois de seus amigos, oTJr. Woodman
e o Dr. Winn Westcott, todos os dois eruditos eminentes
e alem do mais cabalistas. Ocupavam postos elevados na
maconaria. O Dr. Winn Westcott era "coroner", posto
juridico muito conhecido dos leitores de romances poli-
ciais iagieses. Um "coroner" desempenha ao mesmo tem-
po o cargo de medico legista e de juiz de instrucao. Em
caso de morte suspeita, reunia um juri que pronunciava
um veredicto, podendo, eventualmente, haver interven-
ed da justica e da policia. Um desses seus veredictos foi
celebre no seculo XIX; o juri concluira que um desco-
nhecido encontrado morto num parque londrino havia
sido assassinado "por pessoas ou coisas desconheoidas".
Seria bom poder afirmar que foi o Dr. Westcott quern
redigiu esse veredicto, e de forma verdadeiramente es-
tranha. Nao podemos, no entanto, provar isso, mas vere-
mos, mais tarde, que o Dr. Westcott perdeu seu posto
X em circunstancias singulares.
Em todo caso, Woodman e Westcott ouviram falar
da " Sapiens Donabitur Astris". Trata-se de uma socie-
dade secreta alema composta so b retudo de alquimistas.
Essa sociedade, gragas aos medTcamentos de alquimia,
salvou a vida de Goethe qu e os medicos comuns haviam
des istido d e' curar.
O f ato e perfeitamente conhecido e a Universidade
de Oxford publicou um livro: "Goethe, o Alquimista".
A SDA parece existir ainda em nossos dias; estava ligada
aos "circulos cosmicos" organizados por Stephan Geor-
ge, que combateram Hitler. O Conde von . Stauf f enberg,
organizador do atentado de 20 de julho de 1944, fazia
parte desses circulos cosmicos. O ultimo representante
' 90 ^
conhecido da SDA foi o Barao Alexander von Bernus,
morto recent emente. •
Westcott e Woodman decifraram facilmente o ma-
niiscrito e escreveram a Anna Sprengel. Receberam ins-
trucoes para prosseguir nos trabalhos. Foram auxilia-
dos por urn outro macon, urn personagem indetermi-
nado, de nome Samuel Liddell Mathers, casado com a
irma de Henri Bergson. Era urn homem de cultura es-
pantosa. mas de ideias muito vagas. Redigiu o conjunto
inedito dos "rituais Mathers". Tais rituais se compoem
de extratos do documento alemao original, de outros
documentos de posse de Mathers, e mensagens recebidas
pela Sr.a Mathers, pela clarividencia. O conjunto foi
submetido a SDA na Alemanha que autorizou o pe-
queno grupo ingles a fundar uma sociedade oculta ex-
terior, isto e, aberta. A sociedade chamou-se "Order of
the Golden Dawn in the outer": Ordem da Aurora Dou-
rada no Exterior. Em 1.° de marco de 1888, ess a autori-
zacao foi dada a Woodman, Mac Gregor, Mathers e
ao Dr. Westcott. Samuel Lindell Mathers acrescenta ao
seu nome o titulo de Conde de Mac Gregor, e anuncia
que e a reencarnacao de uma boa meia duzia de nobres
X e de magicos„ escoceses.
Em 1889, o nascimento dessa sociedade foi anun-
ciado oficialmente. £ interessante notar que foi a unica
vez no seculo XIX, assim como no seculo XX, que uma
autoridade esoterica qualificada, a SDA, da uma auto-
rizagao para fundar uma sociedade exterior. Tal autori-
zacao nunca for dada novamente, e nao aconselho nin-
guemj^ Jancar uma sociedade desse genero sem autori^
zacao: isto sena atrair os mais serios mimigos.
Apos a morte, ao que tudo indica natural, do Dr.
Woodman, a Ordem foi dirigida por Westcott e Ma-
thers. Em 1897, Westcott teve a infelicidade de esque-
91
|
cer, dentro de um taxi, documentos internos sobre a
Ordem. Tais documentos aeabaram na policia que nao
achou recomendavel um "coroner" se ocu'par de tais ati-
yidades, pois poderia ficar tentado a utilizar os cadave-
res que sao postos a sua disposigao, para operacoes de
riecromancia. Westcott demitiu-se da Ordem, achando
is to preferivel.
A sociedade comegou a se desenvolver e atraiu
homens de inteligencia e cultura indiscutiveis. Citemos
Yeats ^ue deveria obter o. premio Nobel de Literatura.
Arthur Machen, Algernon Blackwood, Sax Rohmer. o
historiador A. E Waite, a.celebre atriz Florence Fart
e outros". Os melhores espiritos da epoca, na Inglaterra,
faziam parte da Golden Dawn/O centro ficava em Lon=
dres. Seu chefe, o Imperador, era W. B. Yeats.
Havia outros centros na provincia inglesa, e em
Paris, onde Mathers passa a residir, de preferencia.
A ordem tern dois niveis:
'■ — o primeiro, dividido em nove degraus, onde se 1
ensina; /
— o segundo, sem degraus nem graus, onde se
pesquisa. '
O ensinamento diz respeito a linguagem enoquiana
de John Dee, cuja traducao e dada desde o primeiro
grau d o primeiro_nivel. In felizmente, tais tradug oes
foram destruidas ou escondiHas. Nao resta senao textos
em enoquiano, particularmente um texto que permi te
ficar invisivel: "O l sonuf vaorsag goho ia d baltTlonsh
cal z vonpho. Sobra Z-ol ror I ta n jgps J "]feto jao se
par ece com nenhuma lingua conhecida. Parece que se .
s e recita corretamente tal ritual, e-se envolto por uma,
^elip soide de invisibilidade a uma distancia media de.
_ 45 centimetros do corpo.\Nao vejo ob jecao.
92 \
P ensinamento era em lingua enoquiana; sobre
ajq uimia, e sobretudo sobre a dominacao de si mesmo.
Desde o segundo degrau do primeiro nivel, o can-
didato era tratado de maneira a eliminar todos os seus
males mentais e todas as suas fraquezas. Conhecem-se
wis cinqiienta tratamentos desse tipo que parecem ter
bons efeitos.
Durante cinco ou seis anos, a Ordem deu satisfa-
coes a todo mundo, e todos que dela participavam di-
, zem que mentalmente ficaram enriquecidos. Depois Ma-
y thers se pos a fazer das suas. Em 29 de outubro de
1896 publicou um manifesto afirmando que existia um
terceiro nivel na Ordem. O terceiro nivel era, segundo
ele, constituido de seres sobre-humanos, dos quais dizia:
"Creio, no que me concerne, que eles sao humanos
e que vivem nesta terra. Mas possuem espantosos pode-
res sobre-humanos. Quando os encontro em lugares fre-
qiientados, nada em suas aparencias ou vestimentas os
separa do homem comum, salvo a sensaeao de saude
transceridente- e de vigor fisico,
"Em outros termos, a aparencia fisica que deve
dar, segundo a tradicao, a posse do elixir da longa yida.
Ao contrario, quando os encontro em lugares inacessi-
veis ao exterior, trajam roupas simbolicas e as insignias
X de suas ordens."
Evidentemente, pode-se pensar diversamente quan-
tQ_ao __conte u do desse manifesto, e perceber a loucura
de Mathers, mas e preciso pensar que ele talvez nao
estivesse mentindo. Tudo o que se pode di zer e que
seria muito melhor que ele se calasse. De um lado, foi
a par t ir dai sujeito a uma perseguigao que o conduzhT
a jnorte erri^l917^ I) e outro lado. seu man if esto atraiu
pessoas tjouco recomendaveis a sociedade, como o cel e-
bre Aleister Crowley. '•
93
cer, dentro de um taxi, documentos internos sobre a
Ordem. Tais documentos acabaram na policia que nao
achou recomendavel um "coroner" se ocu'par de tais ati-
vidades, pois poderia ficar tentado a utilizar os cadave-
res que sao postos a sua disposigao, para operacoes de
riecromancia. Westcott demitiu-se da Ordem, achando
isto preferivel. .
A sociedade comecou a se desenvolver e atraiu.
homens de inteligencia e cultura indiscutiveis . Citemos
Yeats ^ue deveria obter o. premio Nobel de Literatura,
ArthuTMachen, Algernon Blackwood, Sax Rohmer, o
historiador A. E. Waite, a.celebre atriz Florence Farr,
e outros. Qs melhores espiritos da epoca, na Inglaterra,
faziamparte da Golden Dawn. O centro ficava em Lon^
dres. Seu chefe, o Imperador. 'era W. B. Yeats.
Havia outros centros na provincia inglesa, e em
Paris, onde Mathers pass a a residir, de preferencia.
A ordem tern dois niveis:
•
'• — o primeiro, dividido em nove degraus, onde se H
ensina; '
— o segundo, sem degraus nem graus, onde se
pesquisa. '
O ensinamento diz respeito a linguagem enoquiana
de John Dee, cuja traducao e dada desde o primeiro
grau d o primeiro__ nivel. In f elizmente, tais tradug oes
foram destruidas ou escondidas. Nao resta senao textos
em enoquiano, particularmente um texto que permi te
ficar invisivel: "O l sonuf vaorsag ^ohoja d bait, lonsh
cal z vonpho. Sobra Z-olror I ta n azps." Isto nao se
"par ece com nenhuma lingua conhecida. Parece que se .
's e recita corretamente tal ritual, e-se envolto por uma,
elip soide de invisibilidade a uma distancia media de\„
_ 45 centimetros do corpo.\Kao vej o objecao.
92 \
O ensinamento era em lingua enoquiana:_so bre_
ajg uimia, e sobretudo sobre a dominacao de si mesmo.
Desde o segundo degrau do primeiro nivel, o can-""|
didato era tratado de maneira a eliminar todos os seus
males mentais e todas as suas fraquezas. Conhecem-se i
uns cinqiienta tratamentos desse tipo que parecem ter /
bons efeitos. -J
Durante cinco ou seis anos, a Ordem deu satisfa-
$6es a todo mundo, e todos que dela participavam di-
zem que mentalmente ficaram enriquecidos. Depois Ma-
y thers se pos a fazer das suas. Em 29 de outubro de
1896 publicou um manifesto afirmando que existia um
terceiro nivel na Ordem. O terceiro nivel era, segundo
ele, constituido de seres sobre-humanos, dos quais dizia:
"Creio, no que me concerne, que eles sao humanos
e que vivem nesta terra. Mas possuem espantosos pode-
res sobre-humanos. Quando os encontro em lug ares fre-
qiientados, nada em suas aparencias ou vestimentas os
separa do homem comum, salvo a sensagao de saude
trans ceiidente- e de vigor fisico.
"Em outros termos, a aparencia fisica que deve
dar, segundo a tradicao, a posse do elixir da longa ,vida.
Ao contrario, quando os encontro em lugares inacessi-
veis ao exterior, trajam roupas simbolicas e as insignias
X de suas ordens."
Evidentemente, pode-se pensar diversamente quan :
tQ_ao _conte u do desse manifesto, e perceber a loucura
de Mathers, mas e preciso pensar que ele talvez nao
e stivesse mentindo. Tudo o que se pode dizer e que
seria muito melhor que ele se calasse. De um lado, foi
a partir dai sujeito a uma perseguigao que o conduzhT
a jnorte em 1917. De outro lado. seu manifesto atraiu
pessoas "pouco recomehdaveis a sociedade, como o cel e_-
bre Aleister Crowley. !
93
iPersonagem sinistro e sem duvida megalomaniacoTl
em todo caso delirante, Crowley apareceu um belo' diaj
de 1900 na Loja de Londres. Trazia uma mascara ne-
gra e um costume escoces, Declarou ser enviado de,\
Mathers, designado para dirigir a Loja de Londres.
A reacao foi violenta. Yeats, Imperador da Loja, depos
Mathers e expulsou Crowley. A. E. Waite pos em duvid a
a existencia do terceiro nivel e de superiores desconhe-
cidos.
Em 1903, Waite e um certo numero de ami gos
demitira m-se e constituiram uma outra ordem chama da
igualmente~Golden Dawn. Essa orde m _se_manteye atj|
1915, depois desapareceu. Q restante dos membro s da
Golden Dawn continuaram ate 1905, depois YeaTsTAr -
thur Machen e Winn Westcott se demitiram .
A ordem continuou bem ou mal sob a direcao de
um tal Dr. Felkin, depois caiu no esquecimento e se
extinguiu. Assim terminou o que Yeats chamara de "a
primeira • rev'olta da alma contra o intelecto, mas nao
a ultima". Parece que Mathers retirou o conjunto de
rituais que permitiram reproduzir certos fenomenos. To-
das as tentativas para publica-los foram interrompidas,
pois os manuscritos pegavam fogo ou ele mesmo caia
doente. Morreu em 1917 completamente alquebrado.
Alguns dizem que Crowley foi seu principal persegui-J
dor, mas Crowley pareceu, com efeito, ser apenas um \
megalomaniaco bem pouco perigoso. -i
S e o conjunto de rituais de Mathers desapareceu,
um certo numero de rituais ou de trabalhos feitos pela
Golden Dawn foi publicado. Notadamente em quatro
v olumes, no.s Est ados Unidos, pelo Dr. Israel Regardie,
eno inj ci o do ano de 1971, "The Golden Dawn its inner
teachings" de R. G. Torrens BA (editor Neville Spear-
man, Londres).
94
f Esse ultimo livro tern a dupla vantagem de ser es~
crito de maneira racional e de dar, ao fim de cada capi-
tulo, e ele tern quarenta e oito, uma bibliografia breve
«y e precisa.
Por outro lado, possui-se muitos testemunhos sobre
a Golden Dawn.
£ possivel chegar a uma conclusao. O que choca,,
desde logo, e um notavel nivel de inteligencia e cultura
da maioria de seus participantes. A Golden Dawn con-
tava nao somente com grandes escritores, mas tambem
com fisicos, matematicos, peritos militares, medicos.
O que e certo e que todos os que passaram pela expe-
riencia da Golden Dawn de la sairam enriquecidos.
Todos insistiram sobre o embelezamento de suas vidas,
nova plenitude, senso e beleza que a Golden Dawn lhes
deu.
Gustav Meyrinck escreveu: "Sabemos que existe
X um despertar do eu imortal".
Parece certo que^ a Golden Dawn sabia provocar
esse despertar, e que ela r eali zara^ sje_sonh o eterno dos
alquimistas; dos gnosticos, dos cabalistas e dos Rosa-
- Cruzes, para citar apenas algumas direc o es de procura:
a transmutagao do proprio homem.
Qualquer que seja o ceticismo que se possa ma-
nifestar a respeito da magia — e meu ceticismo pessoal
e bastante consideravel — nao resta duvida de que a
Golden Dawn chegou a uma experiencia magica melhor
do que qualquer outra na historia da humanidade, de
nosso conhecimento. Nao somente logrou consegui-la^
mas ainda foi capaz de ensina-la. ,J
Durante milen jo s o homem sonhou um estado de
consciencia mals desperto que seu proprio despertar. A
Golden Dawn chegou a isso. Sem duvida. O que parece
95
,- nao tap certo, mas pelo menos provavel, foi que a Gol-
den Dawn chegou a traduzir o alfabeto enoquiano de
John Dee, e que seiis dirigentes leram a obra de John
Dee, a de Tritheme e, talvez. o manuscrito Voynich, se_
e que possuiam uma copia. Isto nao e de todo impossi-
VeL pois John Dee fez muitas.
Isto admitido, a questao evidente e saber-se porH
•que um tal acumulo de conhecimentos e de poder nao j
chegou a constituir uma verdadeira central de energia,
uma cidadela fulgurante que teria dominado o seculo
XX. E certo que a Golden Dawn suscitou hostilidades,
mas e certo tambem que ela se decompos intern amente
antes de sua destruicao externa. -J
Quis-se atirar a responsabilidade dessa destruicao
sobre Aleister Crowley. Que este pretenso magico era
um louco varrido, e indiscutivel. Alem de sua loucura,
y que era constituida por um tipo classico de delirio sexual,
Crowley tinha q dom extraordinario de meter-se em his-
torias incriveis. Durante a Primeira Guerra Mundial,
colocou-se ao lado da Alemanha, denunciando, violen-
tamente, a Inglaterra. Alguns pretendem que foi ele
quern, atraves de inform a§6es fornecidas aos servigos
secretos alemaes, permitiu que um submarino colhesse
o transatlantico americano Lusitania, cujo torpedea-
mento fez com que os Estados Unidos entrassem na
guerra. Crowley teve um certo numero de inimigos nos
Estados Unidos e partiu para a Sicilia onde criou uma
abadia em Cefalu (atualmente tal lugar e uma vila do
clube Mediterraneo).
Um incidente deploravel aconteceu na abadia de
Crowley. Um poeta oxfordiano chamado Raul Loveday
bebeu, durante uma cerimonia de missa negra, o sangue
de um gato, e morreu instantaneamente, o que nao es-
96
tava previsto. Sua viuva fez urn escandalo, e sob pressao
da imprensa Crowley foi expulso da Sicilia em 1923.
Em seguida, viveu na Inglaterra onde tentou pro
cessar a imprensa por difamacao. Os juizes decidiram
que Crowley era o personagem mais detestavel, que ja-
mais haviam encontrado antes, e recusaram conceder-
-lhe um centavo sequer de perdas e danos morais. Caiu,
em seguida, numa miseria profunda, para morrer numa
pensao de familia, em Hastings, em 1947. A impressao
que se depreende de sua vida e obra, e a de um infeliz
que poderia perfeitamente receber cuidados, e nao a de
, um personagem perigoso. Crowley nao era alias o unico
K escroque nas maos dos quais Mathers caiu,
Por volta de 1900, foi vitima de uma dupla cha~
mada Horos, que se dizia representante de Superiores
desconhecidos, e que foi condenada, no ano seguinte,
como escroques, simplesmente. A Golden Dawn foi,
entao, bastante mencionada na imprensa, e isto deve ter
provocado certas demissoes.
A imprensa ocupou-se, igualmente, da G
Dawn em 1910 quando Mathers tentou impedir a saida
do jornal de Crowley Equinox que public ava. senvauto-
rizacao, rituais da Golden Dawn. Um tribunal ingles,
oecidiu sobre o caso e o numero do jornal apareceu.
O que, evidentemente, nao melhorou o prestigio de
Mathers; numerosos foram os que observaram que se
Math ers realmente tinha poderes, poderi a exterminar
• trowleyTou que se Crowley os tivesse. poderia exter^
mmar Mathers. Conhecem-se, alias, muitos exemplos
modernos de duelos de feiticeiros que nao dao, geral-'
rnente, bons resultados. £ certo que a ingenuidade de
Mathers o prejudicou, mas nao parece ser essa a causa
principal do declinio da Golden Dawn.
97
1
■ .
.'-•-
Segundo o que pude recolher, a partir de fontes
pessoais, o exercicio de um certo numero de poderes ,
e notadamen te da clarividencia, tornou-se uma ve rda^
deira droga para os membros da Ordem, e desde jSll
t oda especie de pesquisa havia cessado. Parece-me que
e nisto que devemos buscar a causa do mau exito dessa
aventura que poderia ter sido mais extraordinaria ainda
do_que_foi_
As diversas sociedades secundarias fundadas por
dissictentes, sem autorizacao, como a "Stella Matutina"
f undada pelo Dr. Felkin, a "Argenteum Astrum", fun-
dada por Aleister Crowley, e a "Sociedade da Lu zjn-
terior", fundada pelo escritor Dion Fortune, pseudonimp
" de Mme. Violette Firth, nao parecem ter prosperado,_
" Essa ultima sociedade existe ainda, e Mme. Firth
escreveu novelas e romances muito interessantes.
Para ser mais completo, e necessario dizer que a
Golden Dawn tinha elementos cristaos em seu seio, p eiz
tencentes a Igreia Catolica anglicana, notadamente o
tic^7 F.vp.ly
'Aims.
C ertos doc umento s da Golden Dawn dizem res-
peit o^ao esoterismo cristao e sao con siderados, por e sper
cialistas no campo, como extremamente serios.
Restam, de outro lado, as obras misticas ou tradu-~~j
goes de Mathers: A Kabala (1889), Salomao, o Rei
(1889), A magia sagrada d* Abramelin (1898). Este '
ultimo livro e traducao de um manuscrito que Mathers
encontrou na JSiblioteca do Arsenal, verdadeira mina
de documentos estranhos. Um texto bastante completo
foi editado recentemente em Paris, por volta de 1962.
Temos a nossa disposicao uma quantidade de ele-
mentos muito interessantes, mas jo que nos falta e o ritual
completo de Mathers. Esse ritual devia ser o compute
98
dos livros malditos, resumindo a maior parte desses
livros e abrindo as portas a todos os fatos extraordina-
rios. Que Mathers realizou, dessa forma, umaespecie
de consciencia superior que ele interpretou como um
contato com Superiores desconhecidos nao me parece
absurdo. Que tenha havido perseguicao a Mathers,
^ tambem nao e tab espantoso.
Eiitretanto, toda essa historia se passa em nossa
epoca, e Mathers dispunha da fotografia. Nao e impos-
sivel que tenha tirado um bom numero de fotos e que
elas nao tenham sido todas destruidas. Em 1967, pen-
sou-se ter achado os rituals de Mathers. Naquele ano,
uma coiina as margens do Canal da Mancha deslizou,
minada pelas aguas, e objetos provindos da Golden
Dawn, que ai haviam sido enterrados, foram tragados
pelo mar. Infelizmente o exame desses objetos provou
que se tratava de instrumentos de trabalho e textos de
licoes assim como notas tomadas ao curso de exposic,6es.
Nenhum documento vinha de Mathers.
Discutiram-se muito as inf luencias que se exerceram
nas redacoes de diversos cursos da Golden Dawn. No-
tamos, ja, influencias cristas. Encontra-se, tambem, e
sem duvida introduzidas por Yeats, ideias de Blake.
Encontra-se grande numero de referencias a Kabala,
que provem visivelmente dos estudos de Mathers.
O que nao se encontra e a traducao da lingua eno-
quiana em linguagem corrente e sua aplicagao as expe-
riencias. O termo enoquiano, ele proprio, e curioso. Os
diversos livros de Enoch sao relativamente recentes e
contam as viagens miraculosas do profeta Enoch a ou-
tros planetas, e mesmo a outros universos. Encontram-se
X edicoes que datam de 1883 e 1896.
A linguagem enoquiana de John Dee e uma outia
hisliorn Dee conhecia a lenda de Enoch, levado a ou-
99
. .
tro s planer s porj ima criatura luminosa, e deu o nom^
mguagem enoquiana a l ing uagem da criatura lumi-
nosa que lhe apareceu. Mas nao existe o "Livro de-
Enoch contemporaneo a ftiblia. como certos ingenuos
cr eem. Nao ha razoes serias para se crer que os dois
livros de Enoch datem dos^gnosticos. Mesmo em estado
de manuscrito. nao aparece antes do seculo XVIII,
Algumas testemunhas sobreviventes da Golderj
Dawn contam, com relacao a linguagem enoquiana,
coisas muito curiosas que nao se e obrigado a crer. Fa-
lam, por exemplo, de um jogo "As pecas de xadrez en< >
q uianas", um jogo semelhante ao xadrez mas onde as
pe cas assemelhavam-se aos deuses egipcios. Jogava ^
com um adversario invisivel, as pegas colocadasnuma
metade do tabuleiro especial, movimentando-se sozinhas.
Mesmo que se descrevesse tal experiencia comcTj
um tipo de escrita automatica ou de telecinesia, ela tern I
uma certa beleza poetica. Tudo nos faz lamentar ainda
mais a desaparigao dos rituais Mathers. . -J
Tudo o que se pode esperar e que a desaparigao
nao seja definitiva. Se Mathers tomou suas precaugoes,
deve ter dissimulado em Londres ou em Paris jogos de
fotografias que, um dia, reaparecerao. A menos que a
misteriosa sociedade alema. SDA nao se manifeste.
Alexandre Von Bernus, na "Alquimia e medi-
cina", parece indicar que essa sociedade nao esta morta.
Tal era, igualmente, a opiniao de meu falecido amigo
Henri Hunwald, que era o homem da Europa que co-
nhecia melhor esse tipo de problema. Talvez um dia,
uma nova autorizagao para fundar uma sociedade ex-
terior seja dada.
100
.
»
%
8
O LIVRO QUE LEVA A LOUCURA
EXCALIBUR
No momento em que escrevemos, um.iate luxuo ^
s jssimo*percorre os oceanos do globo. Traz bandeira que
nao e de nenhum pais conhecido ou desconh ecido. Tern
a bordo urn c erto num e ro de guardas arm ad os. pois
mmtas vezes tenta uzSfl_tor car o cofre-forte do capitao i
'■ •. esse cof re-forte contem um livr o muito perigoso _c_uia
leitura torna louco _o_que le e se chama Excalib ur,,
Para que essa historia se ja co mpreensivel, e pre-
ciso referir-se a vida do p ro prietario do iate, um a nie-
ricano chamado Lafayette Ron Hubbard, e a suas duas
descobertas, a dian etka e a cientologja. A historia de
Hubbard foi, geralmente, contada de forma humoristica
por Martin Gardner no livro "Os magicos desmasca-
rados" e por mim mesmo em "Rir com os sabios". Mas
um certo numero de f atos novos, aparecidos no curso dos
dois ultimos anos, tendem a fazer admitir que tal historia
nao e apenas extravagante. Tentarei conta-la de maneira
a mais neutra possivel.
Lafayette Ron Hubbard 6, indiscutivelmente, um
expl orador e um oficial da marinha americana extre-
mame nte coraioso. Foi tambem — nao escreveu muito ,
n o genero — um dos melhores autores ameri canos de
101
•
fi ceao cicntifica e do fantastico
eus romances
t raduzidos em_f ranees citamos u Le _ bras_drojt_dej£
mort" (HachetteV 1
A melhor parte de sua obra, no que concerne a
fic£ao cientifica e ao fantastico, foi escrita antes da
guerra de 1940. Durante essa guerra, em virtude de urn
ferimento que recebeu num combate com os japoneses,
Hubbard sofreu a experiencia da morte clinica; Foi rea-
nimado, mas parece ter-se conscientizado que nao o fora
por vias normais, e ter tido percepcoes e sensacoes que
nunca p6de suficientemente explicar.
Assim e que, depois da guerra, ele passou a medi-
tar, sistematicamente, sobre o sistema nervoso humano.
Acabou concebendo uma nova teoria que batizou de dia-
netica, que comunicou a John Campbell, celebre editor
de ficcao-cientifica.
A dianetica era uma especie de psicanalise pr opria
para secluzir os am ericanos. Estes sao, com ef elto7 avidos
pelo "Faca por voce mesmo" e a dianetica permitia
^xerce r seus talento s _sobre~qualquer urn , se m necessi-
dade de qualquer previo estudoT
A teoria geral da dianetica admite» como Fr eud
um inconsciente, mas enquanto o inconsciente freucHan c)
6 extremamente astucioso -— era copiadq do diabo^—
o inconsciente de Hubbard e sobretudo estupido. Ele nos
obrigava a fazer as piores asneiras pois era t otalmente
literal e incapaz de transcender o signif icahte, e con>
posto_der jgistros ou "engrams" (Hubbard usa esse termo
cientif ico num sentido que nao lhe e dado normalmente) .
O inconsciente de Hubbard forma muito cedo, no -
tadamente durante a vida do feto. E basta, sempre se-
gundo Hubbard, que se diga a uma mulher gestante
"voce se obstina em andar a esquerda" para que a crian-
■ _ — i , .
(1) "O brago direito da moRe" — Edi§ao francesa.
102
f.
9a, tornada adulta, caia, sem resistencia, para um es-
querdismo extremado!
Se chegassemos a desembaracar um cerebro de.
todos esses significantes, anuncia triunfalmente Hub-
bard, produziria oios um sujeito perfeitamente "claro".
Esse sujeito "claro" desprovido de qualquer complexo,
inteiramente sao espiritualmente, constituiria o embriao
de uma especie humana nova, proxima ao sqbre-humano.
Isto poderia ser conseguido_ at raves de simples conversa
com o sujeito, utilizando tecnicas que Hubbard descre-
via em seus artigos de "Astounding Science-Fiction ,, ou
emseu livro 'Dianetices" que, imediatamente aparecIHo,
se tornou um "best-seller" .
Hubbard comecou por tratar sua mulher. Logo^J
que se tornou "clara", ela pediu divorcio, o que
obteve. Tratou, em seguida, de um amigo, que logo que
ficou "claro", matou sua mulher e se suicidou. Entao, a
^pularidade da dianetica tornou-se imensa. Por volta
cb 1955, os americanos que se tratavam pel a dianetica
iam milhares. Os resultados nao foram tao sensacionais
como no comeco, mas esse pequeno jogo de salao fez
'.ogo concorrencia a psicanalise. ^
A psicanalise tern, evidentemente, a vantagem de
aplicar-se aos animais. Ha nos Estados Unidos psicana-
listas para caes, e nao se conhecem tecnicos da dianetica
para caes. A dianetica. ao contrano, tern a vantagem
de ser rapida, pouco custosa, e de apresentar a "psique"
humana, nao em termos complicados, mas"segun do_dial
g ramas bastante iguais aqueles que p-ermitem a qualquer
umjnsta lar em casa uma campainha eletrica. E antes de
tudo e mais reconfortante.
Certos psicanalistas foram tambem tratados, e sem
tornar-se absolutamente "claros", reconheceram que a*
tal dianetica lhes fazia bem. Quando se le Hubbard,
• 103
nao se tern a impressao de que ele e mais louco que
Reich ou Ferenczi. Talvez menos. E no que concerne
as lembrancas formadas durante a vida do feto, Hub-
bard parece ter razao. O fenomeno parece ter sido clini-
camente verificado, e poe um problema que nao foi
resolyido: como o feto, que nao tern ainda um sistema
auditivo, pode entender o que se diz ao seu red or? No
entanto ele o faz, isto e certo.
O que quer que seja, nao se pode dizer que a dia-
netica seja mais ou menos louca que a psicanalise. Todas
as duas "caminham" menos bem que os metodos do sa-
cerdote budista primitivo, mas caminham. Ha ern
todo psiquico um tal esforco para o equilibrio,_g uenao
importa qual a tecnica usada para amenizar provisoria-
mente um psiquismo defeituoso. Tal amenizacao. evi-
dentemente, nao e duravel. so os metodos quimic os
realmente podem curar.
A dianetica parecia destinada a ser apenas um
desses metodos curiosos como existem tantos, e foi
assim que todos a consideraram. Somente que a historia
so estava comegando. Tendo refletido sobre os defeitos
da dianetica, Hubbard chegou a co nclusao de que esla
nao tratava senao das cicatrizes psiquicas devidas aos
acontecimentos dessa vida terrestre, e em nenhum caso
as feridas adquiridas em vidas anteriores. Criou um a
nova disciplina: a cientologia.
A dianetica foi um fogo de palha, mas a ciento-
lo gia, com um desenvolvimento lento e pr ogressivo.
conheceu_ um crescimento constante que fez com que,
em_19 71 o movimento cientologista cons tituis se uma
forga mundial que inquietou muita gente. Ta l movi-
mento tern muito d inheir o, nao se sabe deque fonteT
As _ partes de Hubbard no trabalho origin al lhe trou-
104
xeram uma rigueza enorme, fala-se, em dezenas _dgmi-
lhoes de dolares. ~
Hubbard escreveu outros livros alem de "Scien-
tology". N otou pela informacao de algu ns amigos pro-
ximos, algumas lembiancas de suas viclas anteriores.
Tais lembrancas, segundo ele, provinham de uma gran de
civilizaclo_ galactica da qual somos uma colonia perdida ^
Reuniu essas lembrancas num livro chamado Ex-
calib or que deu a ler a alguns voluntarios. Estes fica-
ram loucos e estao, segundo o que sei, internados ,
Nem a dianetica, nem a psicanalise, nem a cien-^
tologia, nem mesmo os medicamentos que se conhece
puderam fazer algo por eles. Hubbard continuou a nave-
gar nos oceanos e a tomar notas, enquanto desconhe-
cidos tentavam forcar seu cofre e ler o Excalibur. Du-
rante esse tempo, a cientologia desenvolveu-se a urn
ponto tal que chegou a inquietar. Foi assim que Char-
les Manson, assassino de Sharon Tate, declarou que era
o representante local da cientologia. Os cientologos ne-
garam e Hubbard mesmo afirmou que denunciara Man-
son ao FBI como sendo urn perigoso diabolista. Os cien-
tologos sao acusados de dominar pessoas, de controla-
las, de teleguia-las e de visar, com isso, a possessao do
mundo.
Respondem com calma, que se dizia a mesma coisa
dos primeiros cristaos.
Sao extremamente numerosos, sem que se possam
citar cifras. Mas em 1969, uma associacao inglesa que
lutava por uma medicina mais racionalista e por uma
condenacao mais severa as medicinas paralelas, denun-
ciou-os. Logo todos os cientologos ingleses se inscreve-
ram na associagao e ficaram sendo a maioria rapida-
mente, O que prova serem eles bastante numerosos.
105
7
Certos paises falam em proibir a cientologia, mas,
pelo que sei, isto nunca foi feito em parte alguma. Os
meios materials enormes de que dispoem os cientologos
lhes permitem inundar literalmente o mundo de jornais,
revistas, documentos. A inscrigao em um curso de cien-
tologia nao e onerosa e nao e isto que da recursos ao
movimento. O conselho administrative da sociedade que,
em diversos paises, e registrado conforme as leis locais,
reconhece que e um bom negocio. Mas sem precisar
exatamente como funciona esse bom negocio. ^
Um dos dirigentes da cientologia inglesa declarou
a imprensa: "Se alguem procura atacar-nos, investiga-
mos sobre ele, e encontraremos algo de desfavoravel que
traremos ao conhecimento publico". Isto efetivamente
se produz, o que significa que a cientologia ou possui
excelentes recursos de espionagem, ou meios para utili-
zar as melhores agencias de detetives privados.
A cientologia nao parece ser poKtica, se bem que
se denuncie, periodicamente, tal organismo como um
novo nazismo ou, pelo menos, como uma variedade do
rearmamento moral. Isto nao parece estar provado.O
que parece certo e que a cientologia drena para si clien -
tes na o somente de cultos marginais e pequenas seitas
ocult a s, mas de religioes tao bem estabelecidas, como o
cristianismo, ou do marxismo. Ela esta em progresso
constante, ao mesmo tempo no piano do numero e no
piano do poder. Os que zombaram de Hubbard, e eu
me coloco entre esses, estao, talvez, rindo muito cedo.
O fenomeno da cientologia e muito curioso, e nao foi
^ ainda suficientemente estudado.
A cientologia atraiu muitos escritores de fic§ao-
-cientifica, mormente Van Vogt 1 que, durante certo
tempo, abandonara a ficgao-cientifica para se ocupar,
_ ■
(1) Antor Ho faxnoso "best-seller" "Le moncle des A M .
106
exclusivamente, da cientologia. Esta nao renega a
dianetica, mas acrescenta urn conteudo suplementar que
nao se pode qualificar senao como visionario. E evi-
dentemente Hubbard, sob seu aspecto exterior de aven-
tureiro positivo e de engenheiro instruido, e um. visio-
nario. Parece que teve uma visao quando esteve sob
morte clinica, e que teve outras depois. Infelizmente,
nao disse grande coisa sobre os dirigentes da cientolo-
gia, que parecem acolher no movimento homens de
negocios, mas tambem outros personagens,
Ao nivel do contato com o publico, ao nivel, igual-
mente, do ensinamento elementar da cientologia, encon-
tram-se pessoas extremamente convencidas e, ao que
parece, sinceras. Nao saberia dizer exatamente o que se
passa em nivel superior. Em consequencia da filosofia
de Max Weber, chama-se geralmente "efeito carisma-
tico" a influencia de um ser humano sobre outro. A
cientologia asrupa pessoas que possuem efeitojca risimv
fico muito elevado .
O que quer que seja, a reuniao de membros de um
grupo de cientologia ao redor de seu chefe, e por causa
da cientologia geral, e de uma natureza fanatica. A tal
ponto que muitas queixas apareceram contra os grupos.
Contrariamente a Golden Dawn, a cientologia
tornou-se uma central de energia que exerce um poder
real passavelmente inquietante. O que nao aconteceu
com a dianetica. Qualquer coisa foi injetada na estru-
tura de um movimento que estava declinando e que
parecia uma seita dissidente e simplificadora da psica-
nalise; e esse movimento foi transformado em instru-
mento utilizado para fins que nao sabemos ainda. O
periodo da diversao acabou e podemos perguntar o que
foi introduzido na dianetica para criar um movimento
assim tao dinamico como 6 a cientologia.
107
• .
Como no initio de todas as religioes ha urn Livro.
A esta cabe o livro Excalibur que, ao inves de ser
difundido, e cuidadosamente guardado como o talisma
secreto da nova religiao . O fenomeno e curioso, pois em
casos analogos como os Mormons ou os Babistas o
livro-base — livro de Joseph Smith para os Mormons,
Profecias de Bab para os Babistas — foi largamente
difundido. No que concerne a cientologia, assiste-se, ao
mesmo tempo a urn esforco extremamente moderno de
propaga nda e a uma organizacao que esconde um livro
secre to q ue se poderia dizer maldito.^Nao se sabe o que
aconteceu as pessoas que o leram: tornaram-se loucos "
simplesrnente lendo-o, ou tentaram certas experien cias?
(Respondo aqui a uma questao que me e feita com
freqiiencia: por que nao tentei transformar o movimento
nascido .do "Despertar dos Magicos" e de "Planete"
numa especie de para-religiao? Responderia simples-
mente que num estado de ignorancia tota lda dinamica
dos grupos humanos, pareceu-me extremamente peri-
goso lanc ar novos movimentos para-religiosos. Numa
admiravel novela de Catherine Mac Lean "O efeito bola
de neve" que traduzi para o f ranees 1 para o "Nouveau
Planete n.° 2", ve-se um grupo de senhoras que se
ocupam, numa pequena vila americana, de coletar ves-
timentas, arruma-las e da-las aos pobres. Sociologos im-
prudentes lancaram a esse ^rupo uma estrutura dinamica
que acabou virando uma bola de neve que foi pegando
outros grupos. E esse microcorpusculo acabou conquis-
tando o mundo . . . Esse tipo de coisa e, a meu ver, intei-
ramente possivel, e por isso cuidadosamente cortei qual-
quer tentativa de forma^ao de uma para-religiao a partir
do movimento Planete.)
1 "L'effet boule de neige".
108
Ao nivel do publico, o ensinamento cientologico .
parece-se bastante com a dianetica primitiva, sob uma
forma mais razoavel. Pretende aumentar a intensidade
da consciencia em pessoas tratadas, e talvez o consiga.
Isto nao acontece sempre. Por exemplo, o autor de
ficgao-cientifica americano Barry Malzberg conta no ini-
tio de 1971 como tendo visto no metro de Nova Iorque,
cartazes de propaganda de cientologia, decidiu tomar
ligoes. Isto nao o levou adiante, mas talvez nao tivesse
boas vibragoes iniciais . . .
O que e ensinado em nivel superior, ignoro-o. A /
literatura de promogao diz respeito a informagoes pro- I
venientes de epocas em que a Terra nao era ainda uma
colonia perdida, mas fazia parte da humanidade galac- |
tica. Isto parece ficgao-cientifica, mas a bomba de hi-
drogenio e a viagem a Lua pareciam tambem. Seria
preciso ver a coisa mais de perto.
£ interessante notar igualmente que a cientologia
se declara perseguida por pessoas bastante analogas no
fundo, aquelas que chamo Homens de Negro, cuja exis-
tencia postulo neste livro.
Deixando de lado Hubbard, que parece fora de cir-
cuito, voluntariamente ou nao, n ao se sabe muito bem
o que esta atras da cien to logia. Cai-se num paradoxo
bast ante curioso: por que os homens e mulheres d a_
Gold en Dawn, tao brilhantes e por vezes gen iais, nao
c hegaram a criar um centro de enerp;ia? E p or que os
"indi viduos anonimos da cientologia conseguiram isto?
Pode-se tirar razoes da dinamica dos grupos. Nao
se pode, talvez, formar um grupo juntando gente de per-
sonalidade poderosa. E preciso, quern sabe, uma hierar-
quia que parece existir na cientologia e que nao parece
ter existido de maneira marcante na Golden Dawn.
i
fio:
'
fode-se dizer ainda, com certa ironia, que a.
Golden Dawn dirigia-se a uma elite muito limitada de
pessoas excepcionais, enquanto que a cientologia se di-
rige a pessoas medianas.
Os membros dos grupos cientologistas me sugerem~7
uma tefceira resposta: para eles, a cientologia se man- j
tern porque e cientifica, enquanto a Golden Dawn era
um amontoado de superstigoes e praticas magicas.
£-me dificil considerar esta resposta valida, pois a
leitura da documentagao que a propria cientologia difun-
de ? mostra que nao se trata de uma ciencia, ao menos no
sentido habitual do termo. £ uma mistica analoga ao
freudismo. Como o freudismo, e preciso aceitar sem dis-
cutir afirmacoes das quais nao se tern nenhuma prova.
Ademais, enquanto a Golden Dawn parece ter resol-
vido o grande misterio do despertar, nao se ve nada
analogo na cientologia. E, contudo, esta prospera e pros-
pera segundo uma estrutura que parece aquela para a
qual tendia a Golden ^Dawn.
Como na Golden Dawn, trata-se de um apelo as
forgas profundas e desconhecidas que existem nos do-
minios que a psicologia corrente, mesmo aperfeigoada
por Jung, nao pode alcangar e dos quais nega a exis-
tencia. Para a Golden Dawn eram os "pianos superio-
rs" existentes acima do despertar. Para a cientologia^
trata-se de um super-hiper-inconsciente estendendo-se
ao pass ado ate epocas que nenhum codigo geneticq
razoavel pode dar conta. Certos documentos cientolo-
Mcos ^ f alam de setenta e dois milhoes de anos. Parece
muito.
Evidentemente, e facil taxar esse tipo de, ideia de
aberracao, o que estou tentado a fazer. Entretanto, a
existencia do fenomeno nao 6 duvidosa, e pode-se per-
guntar ate onde se desenvolvera.
A dinamica marxista da Historia nao tern mais.
base cientifica como o Premio Nobel Jacques Monod
acaba de mostrar pela nona vez no "O acaso e a neces-
sidade". O que nao impede que um homem, em cada
dois, viva em regimes marxistas.
Numa mesa-redonda sobre as viagens a Lua, ouvi
um erudito do Islao dizer que a Lua era habitada. A
viagem lunar nao o provou T mas isto nao abalou o Islao.
Uma vez que um grupo humano tenha comesado a
fazer bola de neve sob o efeito de forcas dinamicas das
quais tudo ignoramos, e extremamente dificil, e talvez
impossivel, para-la. Nao esta, em todo caso, excluido que
a cientologia da a uma certa juventude o que o esquer-
dismo e o LSD nao puderam dar, e nao se ve expandir-se
eventualmente sustentada pelas armas.
Por isso, essa questao de saber o que existe exata-
mente no Excalibur, de saber ate que ponto a doutrina
secreta da cientologia, se ha uma, deriva de um livro
maldito, merece ser examinada. E nao penso que se
possa elucidar esse genero de probl e ma dizendo simples-
mente que Deus esta morto, e que e preciso q ualquer
coisa ou alguem que o substitua. Penso que houve qui-
micos r antes q ue s e descobrisse o atomo e a teoria exata
5a quimica baseada sobre a mecanica ondulator ia.
Da mesma maneira, estou persuadido de que ha
praticantes da dinamica de grupo, incapazes de explicar
o que fazem, no entanto obtem resultados, enquanto
que um sociologo cientifico medio seria incapaz de
eleger-se numa vila de cinquenta habitantes.
Penscj que Hitler ou Hubbard fazem parte__ desses.
sociotogos amadores que obtem de maneira empirica
resultados espantosos.
* »
No meu entender, entretanto, esses praticantes so
podem funcionar se atras deles houver um grupo de or-
111
ganizadores ou de planific adores. Sabemos muito bem
qual o grupo que se encontrava atras de Hitler, ignora-
mos tudo sobre o grupo que se encontra atras de Hub-
bard, e notadamente sobre o financiamento das opera-
coes, e seus objetivos definitivos. Se ha, realmente. atras
de Hubbard um livro maldito. s'eria desejavel que ele
t ivesse feifo dele muTtasfotocopias e que as tivesse colo-
cado em lugar seguro, espalhando-as pelo mundo. Se
nao, eu nao ficaria surpreso se um dia o seu iate sofresse
um acidente.
A teoria de Hubbard e falsa certamente, mas da,
talvez, resultados justos. Nao e a primeira vez que esse
tipo de coisa acontece.
Nao se fez, ainda, estudo sociologico sobre as
pessoas atraidas pela cientologia. A dianetica, como
a psicanalise, atraiu principalmente loucos. Freud mes-
mo, numa primeira fase de sua carreira, ao que indica,
parece ter ficado louco furioso: praticava a numerologia
e acreditava nas piores supersticoes. Diz-se que ele ficou
sao em sua segunda fase, depois que fez sua auto-ana-
lise, mas tenho duvidas.
Como diz, justamente, G. K. Chesterton: "O louco
nao e aquele que perdeu a razao, o louco e aquele que
perdeu tudo, menos a razao". A cientologia comegou
a entrar numa fase em que atrai em massa pessoas que
poderiamos chamar de normais? Em que proporcao?
Isto seria interessante saber.
Gostaria muito, correndo os riscos e perigos, de
dar uma olhada no Excalibur.
112
O CASO DO PROFESSOR FILIPPOV
Na noite de 17 pgTg 1 R do. ™itn Hr de 1903, O g&bio
russ o^ Mikhail Mikhailovitch Filip pov foi encontrado
morto emseu laboratories Fora/semll uviaaT assassinaao '
to ordem de Okhrana. po1fcia_esrjecj al do tzar. A po -
Hcia apreendeu todos os trabalhos do sabio, nota da-
me nte o manuscrito de um livr oq ue deveria ser sua
SJ B publicagao. Q I mperadorNicblau II e xaminouTele
' mesmo, o processo,~depois o laborat orio M ^completa-
mente destruido e _o s_papeis queimados .
O livro apreendido chamava-se: "A revolucao pela
ciencia ou o fim das guerras". Nao era um livro unica-
mente teorico. Filippov havia escrito a amigos — e suas
cartas devem ter sido abertas e lidas pela polieia se-
creta — que havia feito uma prodigiosa descoberta.
Havia, corri^efeito, encontrado um meio de transmitir
por radio, sobre um feixe dirigido' de ondas curtas ^o,
efeito de uma exp losao. Es;crevera numa das cartas que
foram, efetivamente, encontradas: " Posso transmitir so-
bre um feixe de ondas curtas tod a a fo r ca de uma ex-
plosa o. A onda explosiva se transmite im^gralrrjgr||e ^9
Ibngo da onda eletromagnetica portadora. o q np. fa? mm
que um cartucho de dinamite explodindo em Moscou
'possa transmitir seu efeito ate Constantinopla. As ex-
113
pei|encias feitas mostram que tal fenomeno pode ser
prbduzido a milhares de quilometros d ejUs tanci a. Q
emprego d e umalal arma n a revoluglo^aria com que
os povos se levant a ssem e as"gue rras se tornassemTotaT-
mente impossiveis." ~" '
Compreende-se que uma ameaca desse tipo tenha
espantado o imperador e que o necessario seria uma
acao rapida e muito eficaz.
Antes de entrar nos detalhes do caso, damos algu-
mas indicates sobre o proprio Filippov.
Sabio eminente, havia publicado trabalho de Consul
tantin Tsiolkovsky: "A exploracao do espaco cosmico /
por engenhos a reacao". Sem Filippov, Tsiolkovsky teria
ficado tao desconhecido, que e a Filippov que devemos,
indiretamente, o Sputinik lea astronautica moderna.
Filippov traduziu igualmente para o frances, fazendo
com que.o mundo inteiro pudesse conhece-la, a obra
capital de Mendeleev "As bases da quimica" onde se en-
contra a famosa lei de Mendeleev que da uma tabua
periodica dos elementos. .J.
Filippov criou tambem uma importante revista de
vulgarizacao cientifica, em alto nivel, a primeira na
Russia, que se chamava "Revista da Ciencia".
Era marxista convicto e procurava difundir as
ideias marxistas, apesar do perigo dessa difusao. Tolstoi
anota em seu diario, em 19 de novembro de 1900: "Dis-
cuti marxismo com Filippov; e* muito convincente". *
Mas Filippov nao se limitava a ser um grande sa-
bio, foi tambem urn dos grandes escritores_r ussosI
Publicou, poj volta de 1880. "O cer co de Seba stPgoT,
romance que Tolstoi e Gorki concor dara m em que~e
admiravel.
fode-se pergunt ar como uma vida _ tao breve —
Filippov foi assassinado quando tinha quare nt a e cinco
114
i
anos — pode ser tap completa. Redigiu uma encyclo-
pedia inteira, criou uma revista que agrupou todos os*
_s"abios russos e que publicou, igualmente, artigos de
escritores como Tolstoi e Gorki. Toda sua vida traba -
lhou nap^s nmftTTtfi para a Hifnsno Ha HAnri a mas tambg m_
pela do metodoc ipntificn
Seu filho, Boris Filippov, que ainda vive, publicou
sobre seu pai uma biqgrafia: "O caminho semeado de
espinhos", duas vezes reeditada pelas Edicoes da Ciencia
em Moscou, nos anos de 1960 e 1969.
Filippov estudou tambem a estetica do ponto de
vista marxista, e sua obra nesse campo, como em muitos
outros, ficou classica. Influenciou bas'tante Lenine e
temos razao para pensar que ele to i o autor da~farnnsa
f rase: "O comun ismo e os Soviets mais a ele trificacjo^
Ele despertara em Lenine o interesse pela investigacao
cientifica avancada, e e parcialmente responsavel p ela
expansao da ciencia s ovietica.
Eis o personagem: vulgarizador cientifico, grande
escritor, experimentador, teorico das relacoes entre cien-
cia e marxismo, revolucionario convicto, perseguido pela
policia desde o assassinato do Imperador Alexandre II.
Que pensar da realidade de sua invencao? Lem-
bremos primeiro que uma invencao muito semelhante
acaba de ser realizada nos Estados Unidos: o que se cha-
mou impropriamente d e bomba a argon .
Q principio dessa JnvenQao e conKetido: a ener gia
fornecida pela explosab de um cartucho de dinamite ou
de um pedaco de plastico num tubo de quartzo comp rF
me o argon gasoso que se torna intensamente lumin oso.
Essa energia luminosa e concentrada num raio laser~e
'transmiti da, assim, em forma de luz, a grand e distancia.
Chegou-se ja a incendiar uma maquete de aviao em
aluminio a uma altura de mil metros. O sobrevoo de
115
certas regioes dos Estados Unidos 6, atualmente, inter-
ditado aos avioes pois se fazem experiencias desse tipo;
E espera-se poder instalar esse dispositivo em foguetes
e servir-se dele para incendiar outros foguetes, o que
constituiria uma mostra eficaz, mesmo contra o foguete
multiplo portador de bomb'a H.
Uma forma incompleta do aparelho de Filippov
foi pois efetivamente realizada.
Filippov nao conhecia, certamente, o laser, mas
estudava as ondas ultracurtas, de comprimento de cerca
de um milimetro, que produzia por meio de um gerador
a centelha. Publicou alguns trabalhos a este respeito.
Ora, mesmo hoje, as propriedades desse tipo de ondas
nao sao totalmente conhecidas, e Filippov teria podido
encontrar um meio de converter a energia de uma ex-
plosao em um feixe estreito de ondas curtas.
Pode parecer surpreendente que um sabio isolado
pudesse fazer uma descoberta tao important^, descoberta
totalmente perdida. Mas existem muitos argumentos
contra tal objecao.
De initio, Filippov nao era um sabio inteir amente
isola3 o. Era relacionado com os maiores esp ir itoi~cienti :
ficos i _do mundo inteiro, lia todas as revistas e__ era_do-
tado_ de um espirito encicloped i co capaz de oper ar na
fronteira de muitas cienc ias e fazer delas uma sintese.
De outro lado, apesar de tudo o que se conta sobre
as equipes cientificas, nao e menos verdade que as des-
cobertas sao ainda feitas por individuos. Como dizia
Winston Churchill: "Um camelo e um cavalo preparados
para um comite".
As grandes descobertas de nossa epoca, notada-
mente no dominio da fisica, foram feitas por individuos:
' c^efeito Mossbauer, que permite medir ps menores com-
b rimentos pela radioatividade; o princir>ip da nao con-
li'6' - • •
* *
serv acao da igualdade que transformou toda nossa con -
cep 9ao do mundo, mostrando que a direita e a esquerda
"sap realidades objetivas no micro-universo ; o efeit
Ovshansky que permite fabricar vidros jotados de me -
moria. Enquanto grandes equipes comoa C. E. A. o u
o C. E. R. N. nada descobriram de novo, apesar de
lerem consumido centenas de m fl|i5es^ Tilippov nao
tinha muito dinheiro, mas nao tinha formalidades admi-
nistrativas a observar para obter um aparelho, o que
lhe permitia avancar mais depress a.
De outro lado, Filippov trabalhava quando a cien-
cia das hiperfreqiiencias estava em seu comego, e os
pioneiros tern em geral uma visao clara dos territorios
que so serao descobertos seculos mais tarde.
De minha parte, estou persuadido de que Filippov
realizou, em seu laboratorio, experiencias concludentes,
provando que seu processo podia ser generalizado.
Facamos, por instante, o papel de advogado do
diabo, e perguntemos se o Imperador Nicolau II, da
Russia, mandando assassinar Filippov e destruir seu i
livro e trabalhos, nao teria salvado o mundo da des- J
truicao. >
A questao merece ser posta. Filippov foi assassi-
nado em 1903. Se houvesse publicado seu trabalho, este
teria sido, certamente, aplicado na guerra de 1914-1918.
E todas as grandes cidades da Europa, e talvez da Ame-
rica, poderiam estar destruidas.
E durante a guerra de 1939-1945? Hitler, pos-
suindo o processo de Filippov, nao teria destruido com-,
pletamente a Inglaterra, e os americanos o Japao?
fi de temer-se que nao devamos responder a essas
questSes afirmativamente. E nao est a excluida a hipo-
tese de que o Imperador Nicolau II, geralmente aviltado,
{ ?m. *m# ha&wv "mjgusio u o^ta m\UM
tai PakoCapw; '* ■ hxx 05*854 - 0a»*Bigw» • 9 j
Reai mv Nl — ■ .J
nao deva ser colocado entre os numerosos salvadores
da humanidade.
Que aconteceria hoje se alguem encontrasse um
meio de utilizar o processo Filippov para transmitir, a
distancia, a energia das explosoes nucleares , das~bom-
bas A e H? Isto seria, evidentemente, o apocalipse e a
destruisao total do mundo.
E este ponto de vista, quer se trate da invencao de
Filippov, ou de outras invencoes, comeca a ser larga-
mente partilhado. A ciencia modern a admite que ela se
torna, hoje, muito perigosa e nos citamos em nosso pre-
facio advertencias de sabios eminentes.
Sao advertencias graves. Os dirigentes do movi-
mento "Survivre", os padres Grothendieck e Chevalley
nao ficam, alias, apenas nisso, mas tentam isolar com-
pletamente a ciencia e impedir qualquer observaqao
entre sabios e militares. Assim, dever-se-ia, iguaimente,
impedir a colaboracao de sabios com revolucionarios,
de qualquer tendencia politic a que possam ser. Imagi-
nemos contestadores cjue, ao inves de borrarem a porta
dos edificios, fariam explodir, gracas ao processo de
Filippov, os Campos Eliseos, ou Matignon!
A invencao de Filippov, quer seu emprego seja
militar ou revolucionario, me parece ser daquelas que
podem aniquilar totalmente uma civilizacao. As desco-
bertas dessa ordem devem ser isoladas.
E, entretanto, elas podem, iguaimente, ter aplica-
coes pacificas. Gorki publicou uma entrevista que teve
com Filippov, e o que marcou o escritor foi a possibi-
lidade de transmitir a energia a distancia e industria-
lizar, dessa forma, mais depressa o pais que precisasse
disso. Mas nao fala de uma aplicacao militar.
Glenn Seaborg, presidente da comlssao americana
de energia atomica. evocou, o ano pass ado, j)ossi bili-
118
/
dade s_analogas: uma energia que viria do ceu sobre urn
fei xe~de~oiidas e que permitiria industrializar quase ins -
fr antaneamente urn pals em vias de desenvolvlmento, isto
sem criar nenhuma poluicao. Ele nao fala tambem de
aplicacoes militares, mas sem duvida isto nao 6 de sua
competencia.
A extraordinaria personalidade de Filippov comeca
a interessar cada dia mais o publico sovi6tico e os escri-
tores. O grande poeta Leonid Martinov consagrou-lhe,
recentemente, um poema intitulado "A balada de Sao
Petersburgo".
Fatos novas aparecem constantemente. Um deles, .
surgido em 1969, destruiu uma lenda muito bonita.
Na "Revista da Ciencia" apareciam resumos de~~\
livros assinados por V. Oul, e pensou-se que tal assina-
tura indicaria Vladimir Oulianov, isto e, o proprio Le-
nine. Seria interessante estabelecer, assim, uma liga^ao /
direta entre Lenine e Filippov. Infelizmente, a investi-
gagao moderna mostrou que tais resumos eram de f ato
de um tal V. D. Oulrich. Isto impede colocar-se Lenine
entre os colaboradores da revista. J
Mas Lenine conheceu a fundo a obra de Filippov,
que certamente o influenciou bastante. A celebre pas-
sagem de "Materialismo e Empiriocriticismo" sobre o
carater inesgotavel do eletron, vem diretamente deum
trabalho de Filippov.
Filippov era ao mesmo tempo um sabio desejoso
de publicar e um revolucionario. Como indicamos ante-
riormente, sua descoberta sobre a transmissao da ener-
gia da explosao deveria constituir sua 301. a publicagao,
e ele a teria certamente revelado, sem dar conta que iria
assim destruir o mundo.
Porque pensar, e parece que ele o fazia, que os
povos munidos da arma que ele lhes dava, fossem depor
119
\
reis e tiranos, e, gragas ao marxismo, estabelecer a paz
universal, parece-me ingenuidade. Estamos ameagados,
atualmente, de uraa guerra entre os dois maiores paises
marxistas, a URSS e a China.
Se todos os dois dispusessem de uma bomba H
transportada por foguete, os estragos seriam considera-
veis. Se reinventassem, os dois, o dispositivo Filippov,
destruir-se-iam mutuamente. Ora, o passo nao e grande
entre a bomba a argon e o dispositivo Filippov.
Por isso deve-se esperar que o conflito URSS-
China, que alguns consideram como inevitavel, nao se
efetive.
Mas o problema da aplicacao das ciencias e das
tecnicas para a guerra continua. A maior parte dos con-
gresses cientificos chegam cada vez mais a conclusao de
que 3 precise esconder certas descobertas e adotar ati-
tude semelhante a dos antigos alquimistas; senao o
mundo perecera.
Nao e a justificagao das ideias dos Homens de Ne-
gro, mas a indicacao de urn problema que existe.
Fred Hovle. at acando o problema num outro an-
gulo. escreveu no livr p "Q s homens e as galaxia s^rRii-
chet r^astp.lV- " -
"Estou persuadido ^de que e possivel escrever cinco
linhas apenas que bastariam para destruir a civilizacao".
Hoyle e hoje, certamente, o homem melhor infor-
m ado do plane ta_riQ j[ue. concerne a ciencia moderna, e
ao que ela pode fazer.
O caso Filippov parece constituir uma nova fase,
importante, na historia dos livros malditos.
Ao inves de voltar a um saber muito antigo, o ma-
nuscrito Filippov dava a chave de descobertas bem mo-
dernas baseadas na experiencia e nas teorias serais de
Marx. Filippov era um espirito enciclopedico, due sabia
120
sem duvida tudo o que se poderia saber sobre as ciencias
no ano de 1903. Por isso foi capaz de efetivar sua des-
coberta, descoberta que o levou a.morte.
Podemos perguntar se outras descobertas analogas
nao foram feitas e, como sempre, destruidas ou dissi-
muladas.
O Presidente Ri chard Nixon ordenou , recente-
mente, a destruicao de todos os estoques de armas bac-
teriologicas, cuja base sao os microbios e virus. Orde-
nou, igualmente, que se destruissem os arquivos referen-
tes a esse campo? Nada menos certo, e talvez surja, um
dia, um sabio americano que escolhera a liberdade e
descrevera seus trabalhos, permitindo, assim, fabricar
o que sir Richie Calder batizou de "o microbio do jul-
gamento final".
£ preciso reconhecer que aqueles que destruissem
esse manuscrito seriam benfeitores da humanidade. ^
Tem-se desprezado muito o segredo militar. B, por
vezes, ridiculo, mas pode impedir a divulgacao de armas
extremamente perigosas.
Do mesmo modo. e evidente que os segredos da
alquimia nao possam ser divulgados. Se 6 possive l fa-
bric ar uma bomba de hidro g enio num forno iL gas^j)
que creio possivel, pessoalmente, e pre fer^vel que o pro-
cesso de fabricagao nao seja dado a publico.
Pois ainda e muito bom viver num periodo de con-
testacao, desde que os estragos dessa contesta§ao sejam
limitados. Se cada grupo, ou cada pequeno pais con-
testador pudesse, para protestar, destruir Paris ou Nova
Iorque, a civilizacao nao duraria muito tempo.
Nao esquecamos que em nossos dias qualquer um
pode, com investimentos minimos, constituir um labo-
ratorio que Curie ou Pasteur teriam invejado. P-essoas
121
ja fabricam, em suas casas, o LSD ou a fenilciclidina,
droga ainda mais perigosa.
Se qualquer urn, hoje, conhecesse o segredo de
Filippov, poderia certamente encontrar no comercio
todas as pecas necessarias para construir o aparelho, e,
sem nenhum risco pessoal, fazer explodir, a muitos qui-
ldmetros de distancia, pessoas que lhe desagradassem.
Pessoalmente, tenho tamb6m minha lista de pessoas
que me desagradam e de edificios que julgo medonhos,
e gostaria de elimina-los. Mas se todos pudessem chegar
a esse resultado com plastico roubado a um canteiro de
obra e um projeto Filippov feito em casa, mal poderia-
mos sobreviver.
Existe, diz-se, listas de inven9oes muito perigosas.
Uma clentre elas. estabelec id a pelos militares franceses T
tern, nada menos, que 805 nomes. Se alguem redige um
texto que as exponha todas e o publica, bateriamos o
recorde de livros malditos.
Pode-se imaginar, tambem, um manuscrito do tipo
Fred Hoyle, que nao conteria invenQoes perifiosas^ mas
ideias perigosas. essas "f rases de cinco linhas" que po -
dem mudar o mundo. Se alguem redigir esse manus-
crito, podera dedica-lo a memoria de Mikhail Mikhai-
lovitch Filippov.
122
10
A DUPLA HfiLICE
A obra do Padre James D. Watson, A Dupla He-
lice, encontra-se, atualmente, em todas as livrarias. Foi
traduzida para o frances nas edicoes Robert Laffont.
Existem, igualmente, edicoes inglesas encadernadas e
uma edigao em livro de bolso.
Por que escolher ess a obra para terminar esse tra-
balho sobre os livros malditos? Porque ela desapareceu
de circulacao por duas vezes: primeiro porque ninguem
queria editar, e depois porque ninguem queria assumir
os risers.
E ainda porque a aventura dessa obra nos escla-
rece sobre a natureza da^ensura, os motivos das inter-
dig oes e mesmo a natureza da propria ciencia .
Comecemos pelo personagem. O Padre James D.
Watson nasceu em Chicago, no ano del 928; em 1950
doutorou-se em ciencias pela Universidade de Indiana
e trabalhou, em seguida, em Copenhagen e em Cam-
bridge, onde fez extraordin arias descobertas no dominio
da hereditariedade. Em 1962, ele recebeu o Premio
Nobel, juntamente com Francis Crick e Maurice Wil-
£ins, pela descoberta da estrutura molecular do acido
"hereditario" ADN. A molecula deste acido forma uma
dupla helice (notamos t e.aqui a nota e pessoal e nao deve
f'
123
ser atribuida a Watson, que essa helice se assemelha
est ranhamente ao caduceu, antigo simbolo da med icina).
" Tal descoberta e considexada. de maneira g ejS
com o uma das mais importantes do seculo. Ela condu-
zm a decifracao do codigo genetico e abriu a porta a
urn controle pela inteligencia humana da he r editarie -
dade e das mutapo ^s,
A proposito desse tipo de investigacao, denomi-
nada biologia molecular, Fred Hoyle escreveu: "Dentro
de vinte anos os fisicos, que nao fazem mais que inofen-
sivas bombas de hidrogenio, vao trabalhar em liberdade.
Mas os biologistas moleculares trabalharao atras de
barreiras eletrificadas".
Uma descricao dessa grande acscoberta, feita por
um de seus autores, teria tido, segundo qualquer pre-
visao, um grande sucesso. Mas quando fragmentos do
livro apareceram na "Atlantic Monthly" a confusao se
fez. E quando o manuscrito circulou a confusao se trans-
formou em furor,
Pois o Padre Watson metia cs pes pelas maos e
fazia-o prazerosamente, Em seu livro o meio cienti-
fico, longe de aparecer como uma reuniao de almas
nobres a procura da verdade, parecia uma guilhotina
onde cada um colocava seus vizinhos em situates as
mais detestaveis. Poder-se-ia dizer que a mafia seria
uma comparacao imaginavel para o meio cientifico.
Teses desse genero nao eram novas, Georges Duha-
mel e Jules Romains ja haviam feito descri9oes desse
tipo. Mas era a primeira vez que um autentico e genial
sabio, Premio Nobel, acendia o estopim. Ainda por cima,
o livro nao concluia sobre uma nobre prosopop/ia da
verdade em marcha, mas sobre a imagem do' Padre
Watson buscando uma ancora em Saint-Germain-des-
-Pres.
124
Tentaram-se todas as pressoes possiveis sob re os
editores. Sem sucesso. Entao, os sabios conluiaram-se
para nao fazer caso. Um cientista eminente declarou
a grande revista inglesa, "Nature": "Poderao encontrar,
mais facilmente, urn clerigo prestando contas sobre um
livro pornografico do que um sabio falando da Dupla
Helice".
O livro, entretanto, prosperou. Teve uma edigao
americana. uma edigao encadernada inglesa de Wein-
denfeld e Nicholson em 1968, uma edigao Penguin
Books em 1970, uma traducao francesa, tradugoes no
mundo inteiro.
£ preciso ler A Dupla Helice.
Assim, nao farei longas citagoes sobre esse livro.
Notemos simplesmente, que o Padre James D.
Watson ressaltou muito justamente:
"Contrariamente a ideia popular que sustentam os
io rnais~e~3s ma.es dos sabios, um nurriero cons i derayel
de^sabios nao somente sao estreitos de espirito e nao sap
nada tolos, mas completamente idiotas". Isto me lembra
a nota de um eminente amigo que tendo participado
de uma reuniao da fundagao Nobel, onde 18 Premios
Nobel estavam presentes, me disse quando voltou: "A
porcentagem de cretinos entre os Premios Nobel e a
mesma de todos os lugares".
Em A Dupla Helice nao se ve apenas cretinos.
Ve-se ai, tambem, pessoas sem escrupulos que lutam pelo
po der, que atiram cascas de ba nana aos pes daqueles
que tern ideias novas, e que daom ais imnortancia aos
od ios p-essoais que aos mteresses da ciencia. A unica
c oisa que conta para eles, sao os creditos e recompensas.
Quanto ao jovem Padre Watson — tinha vinte e
cinco anos qu^ido de sua descoberta — nao esconde
125
V
■
que o esseticial de sua atividade e consagrado a freqiien-
cia de arrebatadoras jovens vindas a Inglaterra.
Conheco muitos cientistas que torceriam o pescogo
de Watson se pudessem, mas infeiizmente ja e tarde. As
tentativas de impedir o livro nao deram certo e Watson
p6de exprimir o que pensava, francamente. No pref acio,
sir Lawrence Bragg, eminente especialista em raios X
e filho do sabio que descobriu a difragao dos raios X,
tenta salvar a situacao: "Os que figuram neste livro, diz
ele, devem le-lo com um espirito cheio de perdao. A
situacao era em geral mais complexa e os motivos das
pessoas com quern ele fizera negocios menos tortuosos
do que Watson o compreende".
£ possivel. Nada modifica o fato de este livro ser
de uma franqueza desarmante. De seu colega Francis
Crick, Watson escreveu: "Nunca o vi num momento de
modestia". E mais alem, sempre de Crick: "Ele fala de-'
pressa e com voz forte nao se importando com ninguem,
e basta ouvi-lo falar para nota-lo em toda Cambridge".
Um certo numero de retratos desse genero fazem,
evidentemente, o deleite de todos, mas, para empregar
uma palavra de linguagem publicitaria, e sobretudo a
imagem de marca da ciencia e dos sabios que recebeu
um golpe do qual dificilmente se recuperara, se e que o
conseguira.
Numa outra epoca, ou em outras circunstancias
polfticas, sob outros regimes, o livro nao teria podido
aparecer, e Watson seria recolhido a um campo de con-
centracao como foi feito na URSS com o geneticista
Vavilov.
Watson destruiu de passagem um certo numero de
cliches. Por exemplo, o mito do traba l no em equipe :
dois a tres sabios com pouco material e poucos diplomas
(Francis Crick nao era sequer doutor quando descobriu,
126
com _Watson, a e ^truj ura do ADNliize ram uma daa
m aiores descobertas de todos os tempos ^
O mito das matematicas aphcadas tambem cai:
Crick e Watson utilizaram caleulos que nao passaram
de re gra de tres, muito bom senso, e modelos mecanicos
que pediram a urn mecanico para fazer. Bern entendido,
nao se serviram de' nenhum ordenador. „
O Padre Watson ensina, agora, biologia molecular
e bioquimica na Uniyersidade de Harvard (EUA), onde
continua, provavelmente, a fazer das suas. Descobriu
a ferramenta mais poderosa que a humanidade dispoe
ho je . Pois espera-se poder modificar a estrutura do ADN
e introduzTTo, assim modificado, no o r ganismohumano ,
para produzir seja seres humanos melhores, seja o es-
calao superior, o homem depois do homem. o mutante
sobre-humano.
O que e simpatico em Watson 6 que nao manifesta
nenhuma falsa modestia. Escreve com toda simplici-
dade: "Descobrimos o segredo da vida". E ele tern razao»
e o grande segredo que permitira a especie humana
controlar sua propria hereditariedade. J
Certos sabios pensam que nao somente o livro de
vulgarizacao de Watson, mas tambem o seu trabalho
propriamente dito, deveriam,ser destruidos. Um famoso
biologista, sir McFarlane^Burnet, escreveu: "Ha coisas
que nao deveriam ser conhecidas, pois sao muito peri-
gosas para o ser". Outros geneticistas, ao contrario,
acham que deve abrir-se o campo. O Premio Nobel
Marshall W- Nirenberg escreveu: "Penso que daqui a
vinte anos programar-se-ao celulas humanas com mate-
rial sintetico, e celulas bactericidas daqui somente cinco
anos."
Escreveu isto em 1969 e tudo deriva de trabalhos
feitos por dois jovens com pouquissimos nieios! Mas
127
tinham coragem e ideias. E _por isso a Dupla Helice
trou xe urn golne duro a ciencia respej t avel e ao grande
n-egocio cientifico que se chama me gac iencia.
Esse livro mostra que o que conta nao sao os cre-
ditos — Watson ganhava cem dolares apenas — mas a
inteligencia . E nao se pode deixar de perguntar por que
as enormes organizacdes megacientificas, que gastam
milhoes de dolares, nao conseguem nenhum resultado,
enquanto que alguns jovens, num laboratorio veneraveT
que traz o nome ilustre e misterioso de Cavendish, trans -
formam o mu ndo.
■- ■■
Crick ironiza a proposito desses encontros onde se
reunem 2000 bioquimicos que falam, falam sem parar,
enquanto todo mundo vai saindo. E entre os raros aca-
demicos que nao sao soniferos, assinala o frances Jac-
ques Monod que, depois, obteve o Premio Nobel e es-'
creveu uma obra notavel: "O acaso e a necessidade" que
ja tive ocasiao de citar.
Notemos que Watson descobriu also novo, os sexos
de bacterias, do qual se ignorava a existencia/Todos seus
livros, todas suas publicagoes estao cheia
novas.
E e ai que se poe o verdadeiro problema que ultra-
passa a propria Dupla Helice: o problema do abafamento
e da censura das descobertas, o problema dos Homens
de Negro. Bertrand Russel escreveu muito bem: "Os ho-
mens temem o pensamento original mais do que qual-
quer coisa sobre a Terra, mais do que a ruina, mais que
a propria rnorte". Ora, esse pensamento original se ma-
nifesta na Dupla Helice, com mais energia que em qual-
quer outro livro recente, e foi isto, parece-me, mais que
a descricao de odios e de lutas do mundo cientifico que
inquietou, e inquieta ainda.
128
. As conseqiiencias da descobeita de Watson e de
seus colegas foram estudadas por grupos de esp ecialistas
e uma tabua f oi feita. q ue aparece no livro de G. Rattray
Taylor, "A revolucao biologica" (edigao francesa Ro-
bert Laffont). Uma tabua analoga a estabelecida pelos
peritos da Rank Corporation.
Primeira fase daqui ao ano 1975:
— Transplante sistematico de membros e orgaos.
— Fertilizacao de ovulos humanos em tubos de
ensaio.
— Implantacao de ovulos fertilizados em uma
mulher.
— Conservacao indefinida de ovulos e esperma-
tozoides.
— Determinacao, a vontade, do sexo.
— Retardamento indefinido da morte clinica.
— Modificacao do espirito por drogas e regula-
mentacao dos desejos.
— Possibilidade de apagar-se a memoria.
— Placenta artificial.
— Virus sinteticos.
Segunda fase daqui ao ano 2000:
— Modificacao do espirito e reconstrucao da per-
sonalidade.
— Ordenamento da memoria e reescrita da me-
moria.
— Criangas "produzidas" artificialmente.
— Organismos completamente reconstruidos.
— Hibernacao.
— Prolongamento da juventude.
— Animais reproduzidos por enxerto.
129
— Organismos monocelulares fabricados por sin-
tese.
— Regeneracao de orgaos.
— Hibridez homem-animal do tipo quimera.
Terceira fase depots do ano 2000:
— Supressao da velhice.
— Sintese de organismos vivos completos.
— Cerebros destacados do corpo.
— ■ Associagao entre o cerebro e o ordenador.
— Levantamentos e insercao de gens.
— Seres humanos reproduzidos por enxerto.
— Ligacoes entre cerebros.
— Hibridez homem-maquina.
— Imortalidade.
A primeira coisa que vem ao espirito ao ler tais
previsoes e: eles nao ousarao. Mas, justamente a leitura
da Dupla Helice mostra que homens como Watson
sao capazes de tudo. O espirito prometeuano e faustiano
que se encontra em certos personagens de que f alei neste
livro, e que foi abafado com maior ou menor sucesso,
agora e posto a luz. E, sob o signo da dupla helice,
parte para a conquista do mundo.
J. B. S. Haldanc escreveu: "O que nao foi sera
ni nguem estara a salvo" .
Os historiadores futuros julgarao, talvez, que mais
que qualquer livro maldito dos ^ue citamos aqui, a
Dupla Helice teria que ser censurada, teria que desapa-
recer, para evitar que o homem consiga poderes muito
grandes para si. Talvez julgarao, ao contrario, que os
Homens de Negro nao tiveram a ultima palavra, que
se pode retardar o progresso mas nao impedi-lo, e que
130
o homem acabara por obter poderes superiores a con-
ditio humana, quaisquer que sejam as forcas que se
oponham.
A Dupla Helice e um livro isento de considera-
coes "f ilosoficas ou mor a is. Q autor e mais intel igente
que os sabios vetustos queTridicu lari za, mas nlolrlbstra
nenhum senso de responsabilidade a_j:espeitp da huma?
nidade^Enquanto a maior parte dos outros sabios estao,
no fundo, de acordo para nao se divulgar suas desco-
bertas senao discretamente e num circulo restrito, Wat-
son pensa apenas em torna-las publicas. Dai, a indigna-
Qao que -caiu sobre ele. Nao esconde que procura, na
ordem, o dinheiro, a gloria, o poder. Mas, nessa procura,
ele abre a todos os homens portas estonteantes.
Resta, evidentemente, saber se a humanidade po-
deria sobreviver as descobertas relacionadas e que de-
correm todas, mais ou menos, da Dupla Helice.
Pessoalmente, penso que ela podera sobreviver a
nao importa o que, e que foi um erro fazer desaparecer
os livros malditos ja citados. Mas e uma opiniao pessoal,
por isso, discutfvel. Sera interessante ver a evolucao psi-
cologica de Watson, e se o senso de sua responsabilidade
com relacao aos homens lhe chegaria com a idade. Hoje,
e um jovem lobo de denies longos, inspirado pelo espi-
rito dos alquimistas e do Dr. Faustus.
O futuro igualmente nos dira se Watson e seus
colegas serao os ultimos biologistas moleculares a tra-
balhar livremente, se seus sucessores nao serao for§ados
ao maior segredo, e se as limitac5es severas nao serao
impostas a publica?ao de seus trabalhos.
O que quer que seja, o fim de nosso seculo nao sera
desprovido de interesse.
131
EPfLOGO
A paranoia ou mania de perseguigao e uma doenca
mental que ameaca a nos todos. Por isso, nao seria
muito prudente imaginar vastas conspiracies que se es-
tenderiam em toda a superficie do globo, ao longo de
nossa Historia.
Entretanto, parece-me que se outras civilizacoes
existiram antes da nossa e que foram destruidas por
abusos dos poderes da ciencia e da tecnica, a lembranca
delas e de sua morte podem inspirar uma conspiracao
que visaria evitar que tais catastrofes tornassem a re- (
produzir-se.
Uma ideologia dessa natureza pode, talvez, ser en-
contrada sem dificuldade nos escritos de Joseph de
Maistre, de Saint- Yves d'Alveydre ou de Rene Guenon.
Tal ideologia consiste em .admitir a existencia de uma
Tradigao mais antiga que a Historia, de centros de ten-
tores dessa rxadicao e poderosamente protegidos; para
ela, a ciencia, as tecnicas e os conhecimentos de toda
natureza constituem um perigo pe^manente.
£ uma ideologia reacionaria. Mas na exemplos su-
ficientes, na Historia, de homens ou organizagoes no
poder que sustentaram essas teorias, hiper-tradicionais,
para imaginar que uma organizacao secreta as coloca
em acao.
133
Manif estates aparentes dessa organizacao pode-
riam ser encontradas na Inquisicao, no nazismo ou no
lyssenquismo. Sobre este ultimo ponto, e preciso ler o
livro de Medvedev, Grandeza e queda de Lissenko
(Gallimard-Franca). Livro maldito em seu proprio pais,
.pois nao somente esta proibido de publicacao como seu
autor foi detido em 29 de maio de 1970 e internado em
urn hospital psiquiatrico apesar de estar completamente
sao de espirito. Foi libertado aos 1 8 de junho do mesmo
ano, gracas a acao conjugada de todos os sabios sovie-
ticos. Isto se passa em nosso tempo, em 1970, e nao no
passado mais ou menos longinquo onde se situam a
maior parte dos acontecimentos narrados neste livro.
Como se ve. os Homens de Negro nao sao desprovidos
de meios de acao.
O crime de Jaures Medvedev, eminente biologista
sovietico, foi, segundo eles, denunciar o lyssenquismo.
De que se trataria? T. D. Lyssenko, charlatao autodi-
data e fanatico, apoiado por homens politicos, notada-
mente por Stalin, forjara com todas as pegas uma falsa
biologia e destruira a ciencia genetica na URSS. Impe-
diu, notadamente, a descoberta na URSS da dupla helice
do ADN, da qual os russos estavam proximos. Os geneti-
cistas sovieticos foram exterminados em campos de con-
centracao. E uma sorte que algumas pessoas gostariam
de reservar ao Padre Watson e a seus colegas.
So recentemente foi que a genetica sovietica come-
^ou a renascei e que as vitimas de Lyssenko foram rea-
bilitaaas. Quanto a Lyssenko, esta em hberdade e nao
tern aborrecimentos. No iempo de sua gloria, o Coral
do Estado sovietico cantou esse hino em sua honra;
"Cante alegremente, meu acordeao,
Que eu canto com meu amigo,
134
A gloria eterna do academico Lyssenko
Mitchkourine abriu o caminho
Que ele seguiu com passos resolutos.
Graces a ele, nao seremos mais
Credulos mendelianos-morganistas. "
Durante esse tempo, massacraram-se os geneticistas
nos campos de Stalin.
Nao saberia afirmar com certeza se Lyssenko faria
parte de uma organizacao dos Homens de Negro. Em
todo caso 6 um bom especime. E estou convencido de
que tal organizacao existe.
Atualmente, estou em vias de investigar uma ma-
nifestacao relativamente recente do poder dessa orga-
nizacao, e se os resultados que obtive ate agora nao sao
completos e definitivos — se-lo-ao algum dia? — pelo
menos sao interessantes.
Do fim de 1943 ate o armisticio de 8 de maio de
1 945, houve na Italia uma republica dirigida por Musso-
lini. A historia secreta dess a republica e bem menos_
conheoida do que a dcT III Reich. Mussolini, como
Hi tler, tiirha a sua disposicao conselheiros ocultos ? ma~
^icos Tie gros. vSohreviveram e as leis sobre difamaca o
Impedem , q ue se^usjiome s sejam citados.
Por ordem de dois deles, u ma unidade especial
f ascista~em 1 .944. queimou 8(h0fi0 livfos e manuscritos
pertenc entes a Sociedade Real do Saber de Napoles. A
operacao tinha como fim impedir que documentos ma -
gicos importantes caissem em maos aliad_as .
Certos documentos eram antigos; outros, moder-
nos, traziam pesquisas magicas feitas ao tempo de Mus-
solini, e o que pude apreender sobre tais investigates,
e suficientemente apaixonante para fazer-me lamentar
a destruicao da biblioteca e empenhar-me em encontrar
135
copias. Uma dessas investigates e muito original e e
este seu merito, o que nesse campo e raro. Um magico
concentrou, com a ajuda d eu m telescopio sdbre a agua,
a luz de uma estrela e obteve, assim, a agua-Sirius, agua'r
-Vega, agua-Antares, agua-Aldebaran, etc, Cristalizou .
em seguida, nessa agua, substantias particularmente sen -
&yejs aos efeitos me teorologico s e cosmicos, como po r
exemplo o nitrato de uranio. E ha outra s. ~~"
Certos organismos cientificos serios estudam fen6-
menos desse genero. Mas o magico obteve resultados
que nao eram totalmente cientificos. Sais crista lizados
jagoipimien-
fos je esses agrupamentos, segundo os desenhos que vi.
pareciam, singularmente, simbolos esotericos das estrelas
em quest ao.
Nao me perguntem a explica9ao desse fenomeno,
nao a sei.
Parece que a biblioteca de Napoles estava cheia
de descobertas fantasticas desse JipO, antigas e moder-
nas, havendo, ainda, manuscritos ineditos de Leonardo
Da Vinci e documentos apreendidos a Aleister Crowley
quando a policia fascista destruiu sua abadia maldita em
Cefalu, na Sicilia.
Nesse dia de marco de 1 944, os Homens de Negro
eram aliados dos camisas-negras. Tehebrosa alianga.
Evidentemente, todos os livros malditos nao sao
magicos ou cientificos. Ha tambem livros politicos, como
o mostra esta divertida citacao do "Pato Acorrentado",
de quarta-feira, 7 de abril de 1971:
"Refugiado em Yammossokro, Cote-dlvoire, o
antigo chefe de armas biafrense, Alexander Madiebo,
vendeu, ha algumas semanas, suas memorias. Memorias
onde revela -mftitas coisas: a lista das armas fornecidas
136
pela Franca, os pontos de passagem, os nomes dos agen-
tes de Foccart em contato com os biafrenses, etc.
"Isso se soube em Paris e nao deu prazer a todo
mundo, sobretudo num momento em que se discute com
a Nigeria certos contratos petroliferos que devem bene-
ficiar a SAFRAP-ERAP, e acima de tudo para jazidas
situadas em territorio ex-biafrense.
\
"J^ao houve nenhum prazer, mas a pena e livre,
nao? Entao. . . Entao nao se pode impedir de notar
uma estranha coincidencia: uma equipe de cavalheiros
tomou o aviao para a Cote-d'Ivoire e foi f azer uma inves-
tigacao completa na vila de Madiebo. Sua missao foi, e
preciso dize-lo, coroada de exito, e o manuscrito maldito
desapareceu. O golpe falhou: o General Madiebo possuia
dele uma copia que pusera a salvo nurn cof re-forte em
Londres.
"£ bem torpe, a desconf ianca . . ." .
Apesar de eu ter relagoes com o "Pato Acorren
tado" esse artigo nao emeu.
Mas gostei muito da expressao "manuscrito mal-
dito" e estou persuadido que a destruicao persiste em
nossos dias, e especialmente no campo deste livro, muito
mais do que se pensa.
137
1NDICE
Pr6Iogo — Os Homens de Negro 7
1 - O Livro de Toth 13
Complemento — Como Nefer-Ka-Ptah encontrou o Livro
de Totli 25
2 — O que foi destruido em Alexandria 27
Complemento — E as Piramides? . , 36
3 — As Estancias de Dzyan . 39
4-0 Segredo do Abade Thth&ne 1 53
5 — O que John Dee viu no Espelho Negro 65
6 — O Manuscrito Voynich ■.'. ; 77
7 — O Manuscrito Mathers 89
8 — O livro que leva k loucura: Excalibur ....... .i 101
9 - O Caso do Professor Filippov 113
10 - A Dupla Helice 123
Epilogo 133
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